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Inflação, custos e margens: Confira o que mais saltou aos olhos nos balanços do 2º trimestre

Segundo levantamento do TradeMap, empresas de capital aberto tiveram queda anual de 44,5% no lucro

Foto: Shutterstock

Com o fim da temporada de balanços do segundo trimestre, os pontos de atenção levantados por especialistas antes do início da divulgação de resultados se confirmaram como os destaques: as margens das empresas, confirmando sua capacidade – ou não – de repassar a alta da inflação de custos para os consumidores finais, e seus resultados financeiros, diante do alto patamar da taxa Selic.

“Basicamente, as empresas estão com um pouco de dificuldade de repassar o total da inflação para o preço final, e tiveram um pouco de contração de margem”, afirma Aline Cardoso, chefe de estratégia de ações do Santander, em entrevista à Agência TradeMap.

Para Cardoso, o grande destaque acabou vindo da linha de lucro, com as empresas analisadas pelo banco demonstrando contração, na média, de 12% entre o segundo trimestre de 2021 e o mesmo período deste ano – contra queda de 6% esperada pelo Santander. Assim como no primeiro trimestre, o principal motivo para isso é a alta na taxa Selic, que pressiona as despesas financeiras das companhias, prejudicando o resultado final, diz a estrategista.

Os lucros anotados pelas empresas também ficaram, na média, 5,4% abaixo da projeção do BTG Pactual, pressionados principalmente pelas companhias voltadas à economia doméstica, segundo Carlos Sequeira e Osni Carfi, analistas do banco, em relatório distribuído na última quarta-feira (17).

Já quando são consideradas todas as empresas brasileiras de capital aberto, o lucro médio registrou uma queda de 44,5% no segundo trimestre, na comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com levantamento realizado pelo TradeMap.

A pesquisa aponta ainda que a receita operacional líquida das empresas cresceu 24,2% na comparação anual, o custo dos produtos vendidos subiu 29,3%, a despesa financeira aumentou 151,6% e a dívida líquida subiu 42,5%.

Há, porém, quem tenha feito uma leitura positiva da temporada. “Apesar do pessimismo que se integrou ao cenário no fim da temporada do primeiro trimestre e que levou a fortes revisões para baixo nas projeções para o restante do ano, os resultados do segundo trimestre do ano mostraram um ritmo além do esperado de recuperação, mesmo com as dificuldades de custos ainda atuantes”, escreveu Gabriela Joubert, analista do Inter Invest, em relatório da última sexta-feira (19).

Além disso, algumas empresas e setores foram capazes de se destacar positivamente. Na visão de Aline Cardoso, um dos setores que entra nesta categoria é o de adquirência. “Cielo (CIEL3) foi o grande destaque da temporada, com um resultado muito forte que parece ser recorrente”, afirma a estrategista.

A analista também cita os bancos, puxados principalmente pelo Banco do Brasil (BBAS3). “Dadas as características únicas destes negócios, os lucros dos bancos e das seguradoras se beneficiam de taxas de juros mais altas – que saltaram mais de 10 pontos percentuais desde o início do segundo trimestre de 2021″, completam os analistas do BTG.

Aline Cardoso também destaca as operadoras de shopping centers como pontos altos da temporada, enquanto o BTG cita ainda as empresas de bens de capital, lideradas pela Embraer (EMBR3). Na outra ponta, Cardoso cita mineração e siderurgia como setores que desapontaram, com resultados considerados negativos.

Confira os destaques por setor.

Adquirência

Na contramão da maioria das empresas, que tiveram seus resultados prejudicados pela taxa Selic em patamares elevados, a Cielo foi capaz de tirar proveito disto e entregar resultados fortes, de acordo com Aline Cardoso, do Santander. “A empresa tem dito que esta Selic mais alta tem feito com que seus concorrentes fiquem menos competitivos, tendo que praticar mais aumento de preços, então tudo indica que o ganho de market share registrado no trimestre irá continuar”, explica.

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Bancos

No setor, os analistas David Beker, Paula Andrea Soto e Carlos Peyerlongue, do Bank of America, destacam a geração de receita e a inadimplência melhores do que o esperado do BB e do Itaú (ITUB4) e a surpresa positiva da divisão de seguros do Bradesco (BBDC4), enquanto a piora da inadimplência foi um ponto negativo do resultado do banco. Em relação ao Santander (SANB11), os analistas destacam a margem financeira líquida (NII) em linha com o esperado, mas com Ebitda desapontando, segundo relatório de quarta-feira.

Cardoso, por sua vez, também reconhece a força dos resultados dos bancos, mas argumenta que o setor foi puxado principalmente pelo balanço do Banco do Brasil.

Construção civil

Na análise de Gustavo Caetano, analista do Inter Invest, as companhias do setor registraram desempenho neutro no segundo trimestre, surpreendendo em linhas como volume de lançamentos e distratos, mas levantando preocupações com os números de vendas e velocidade de vendas (VSO).

“Conforme esperado, as construtoras registraram pressão nos custos em decorrência dos dissídios e da alta dos insumos, apesar de Cyrela (CYRE3) e Direcional (DIRR3) terem se destacado pela estabilidade da margem bruta”, afirma Caetano.

O BofA destaca que, de maneira geral, as companhias voltadas para o segmento de alto padrão registraram números em linha com o esperado, com lucros estáveis apesar da inflação de custos. Os analistas destacam, porém, que o foco está nas tendências operacionais, devido à demanda em baixa.

No lado negativo, o Santander chama atenção para a Eztec (EZTC3), que reportou forte queda na margem bruta, consequência de custos maiores.

Elétricas e saneamento

Na análise do BofA, o setor mostrou, de uma maneira geral, resultados abaixo das expectativas no segundo trimestre. Como destaques negativos, o banco cita Sabesp (SBSP3), Equatorial (EQTL3), Cemig (CMIG4) e CPFL (CPFE3).

Para Rafael Winalda, do Inter Invest, o desempenho das companhias foi neutro, com companhias dos segmentos de geração e transmissão se destacando positivamente, com destaque para Ambipar (AMBP3), e distribuidoras reportando números em linha com as expectativas.

Frigoríficos

Para a Ativa, a BRF (BRFS3) foi uma das surpresas negativas da temporada. De um lado, os analistas apontam a boa expansão de receitas, influenciada principalmente pelo aumento das exportações de frango para Ásia e Oriente Médio. Do outro, a inflação no Brasil e a consequente busca dos consumidores por produtos mais baratos, bem como o preço dos grãos, pressionaram as margens e levaram a empresa ao prejuízo.

Na direção oposta, o Santander ressalta, em relatório de quarta-feira também assinado por Aline Cardoso, que a Minerva (BEEF3) foi um dos destaques positivos do trimestre, ostentando forte geração de fluxo de caixa livre, forte crescimento de receita e a boa estratégia de alocação de capital.

Veja também:
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Também chamando atenção para os resultados da Minerva, Manuela Granja, do Inter Invest, avalia que o setor reportou resultados robustos, de uma maneira geral, tirando proveito do cenário favorável para as exportações na América do Sul.

Mineradoras e siderúrgicas

Os analistas do BofA enxergam os resultados do setor como mistos, com siderúrgicas reportando números acima do esperado, exceto a CSN (CSNA3), e as mineradoras registrando custos e volumes abaixo das expectativas.

Para a Ativa, a Vale (VALE3) foi um dos destaques negativos da temporada, com números de produção e preço realizado do minério abaixo do esperado. Os números também foram pressionados pelos altos custos de combustíveis, segundo a corretora.

Os números negativos, porém, já eram esperados pelo mercado, afirma Aline Cardoso, do Santander. “Já era esperada uma queda de lucro significativa, porque o preço do minério ano contra ano caiu. Um pouco da ‘ressaca’ da Covid está começando a aparecer agora nos números das mineradoras e também das siderúrgicas”, diz a estrategista.

Papel e celulose

Se por um lado a Suzano (SUZB3) superou as estimativas de volume e custos, afirma o BofA, a Klabin (KLBN11) reportou resultados em linha com o esperado.

Já na análise do Inter Invest, escreveu Gabriela Joubert, as duas companhias superaram as expectativas, beneficiadas pelo aumento nos preços realizados da celulose em um cenário de demanda aquecida e oferta limitada.

Leia análise:
Klabin (KLBN11) e Suzano (SUZB3) aproveitam preço alto da celulose, mas terão de vigiar custos

Petróleo e gás

Outro dos grandes destaques positivos do trimestre, embora sem grandes surpresas, foi a Petrobras (PETR4), com forte fluxo de geração de caixa livre e um anúncio de dividendos robustos, relembram os analistas do BofA.

“Com um resultado histórico e anunciando um dividendo recorde, a estatal entregou um resultado que chamou a atenção dos investidores. Destaque para a sua geração de caixa e exímio controle de despesas e baixo nível de endividamento”, escreveram Pedro Serra, Ilan Abertman, Sergio Berruezo, Pedro Dietrich, Gustavo Costa, Tadeu Lourenço, analistas da Ativa Investimentos, em relatório da última terça-feira (16).

Ainda entre as petroleiras, o BofA chama atenção para a Prio (PRIO3), que surpreendeu ao reportar despesas operacionais menores do que o esperado.

Em relação às distribuidoras de combustíveis, o BofA também vê números positivos de maneira geral. “A Vibra (VBBR3) ficou acima das expectativas em B2B e aviação, mas o varejo decepcionou. Raízen (RAIZ4) e Cosan (CSAN3) registraram forte recuperação de margem no negócio de distribuição de combustíveis, com preços mais altos de açúcar e etanol mais do que compensando as pressões de custo”, afirmam os analistas.

Saúde

As companhias do setor de saúde foram outras a mostrar números mistos, na visão do BofA. “Fleury (FLRY3) superou as expectativas, impulsionado pelo crescimento da marca. Rede D’Or (RDOR3) ficou em linha com as expectativas (margens expandindo, mas tickets sob pressão), e Qualicorp (QUAL3) continua a mostrar tendências fracas”, exemplificam os analistas do banco.

Os analistas da Ativa, por sua vez, enxergam a Hapvida (HAPV3) como um dos destaques positivos do trimestre, com indicativos de que as pressões de sinistralidade e despesas, sentidas desde o fim do ano passado, começam a ficar para trás.

Shoppings

Apesar do cenário de inflação, que pressiona o poder de compra dos consumidores, o retorno da mobilidade e os efeitos de demanda reprimida impulsionaram os resultados dos shoppings neste trimestre, segundo Gustavo Caetano, do Inter Invest.

“A retomada pós-pandemia tem sido muito positiva para os shoppings, que estão todos lotados. Acho que os grandes destaques no trimestre foram Iguatemi (IGTI11) e Multiplan (MULT3)”, afirma Aline Cardoso, do Santander.

Telecomunicação e tecnologia

O setor de telecomunicação também registrou números fortes no trimestre, com crescimento orgânico compensando a pressão nas margens para a Telefônica Brasil (VIVT3), dona da Vivo, e para a TIM Brasil (TIMS3), de acordo com o BofA

A Totvs (TOTS3) também demonstrou estar em um bom momento, diz o BofA, com destaque para a expansão de margem. Além de reconhecer os bons números da Totvs, Matheus Amaral, do Inter Invest, também chama atenção pelos fortes resultados da Sinqia (SQIA3).

Varejo

Os números das varejistas no segundo trimestre foram mistos. De um lado, os nomes voltados para o público de renda mais elevada, como Arezzo (ARZZ3), Track&Field (TFCO4), Grupo Soma (SOMA3), Lojas Renner (LREN3) e Vivara (VIVA3), registraram forte geração de receita e margens melhores, apontam os analistas do BofA.

Entre os players de e-commerce, o BofA acredita que o Magazine Luiza (MGLU3) desapontou, devido a bases de comparação difíceis no segundo trimestre do ano passado e pressão na receita vinda do consumo discricionário. A Ativa Investimentos, por sua vez, coloca a companhia como um destaque positivo da temporada, com boa geração de caixa.

O cenário também foi misto para os supermercados, com as dinâmicas de precificação e o endividamento como pontos positivos. No geral, os analistas do BofA apontam que Assaí (ASAI3) e Carrefour (CRFB3) superaram as expectativas, enquanto Pão de Açúcar (PCAR3) desapontou.

Outra surpresa positiva foram as farmácias, dizem analistas do Safra, que reportaram bom crescimento de vendas e aumento de margem bruta, seguindo o ajuste antecipado no preço dos medicamentos.

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