BRF (BRFS3) melhora desempenho, mas continua com níveis abaixo de 2019; ações caem mais de 11%

Companhia apresenta recuperação operacional frente ao trimestre anterior, porém rentabilidade é decrescente desde 2019

Foto: Shutterstock

A BRF, dona de marcas como Sadia e Perdigão, registrou recuperação nos resultados operacionais, no segundo trimestre deste ano, impulsionada por maiores preços médios dos produtos vendidos tanto no Brasil quanto no exterior, além do desempenho melhor no que se refere ao volume comercializado lá fora.

Os resultados da empresa, como lucro operacional (Ebit) e lucro líquido, seguem em queda desde 2019. Neste trimestre, a empresa reportou prejuízo de R$ 451 milhões mais que o dobro do registrado um ano atrás.

Os investidores, portanto, não enxergaram o balanço com bons olhos, e os papéis da companhia apresentam a maior queda entre as empresas do Ibovespa, com perda de 11,36% até as 14h10 desta quinta-feira (11).

No segundo trimestre, a empresa registrou um avanço no preço médio do frango de 21% e dos processados, de 19% no mercado brasileiro. Por outro lado, os preços dos suínos recuaram 15%. Ao mesmo tempo, as vendas para os mercados mulçumanos foram destaque com maior volume e receita.

Os avanços fizeram a empresa recuperar as margens, que derreteram no primeiro trimestre. Mas, na busca de normalizar os estoques, que estavam acumulados, a BRF realizou promoções no período, o que resultou em rentabilidades menores.

A estratégia, no entanto, parece ter dado certo. As margens alcançaram marcas substancialmente melhores do que o primeiro trimestre após a normalização dos estoques, que possibilitou o reajuste para cima dos preços médios dos produtos.

No segundo trimestre, a companhia apresentou uma margem Ebitda ajustada (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de 10,6%, evolução de 9,6 pontos percentuais (p.p.) em relação ao reportado no período de abril a junho deste ano. Mas, quando comparado a um ano antes, o indicador apresenta queda de 0,3 p.p..

O Ebitda ajustado somou R$ 1,3 bilhão, valor dez vezes maior que o registrado no primeiro trimestre e 7,7% maior que o do segundo trimestre de 2021.

Embora tenha registrado recuperação frente ao trimestre imediatamente anterior, a empresa ainda apresenta resultados mais fracos quando comparado com os períodos iguais desde 2019.

Mesmo que registrando crescentes receitas, a rentabilidade da empresa vem decrescendo desde o segundo trimestre pré-pandemia, em 2019. O baixo desempenho pode ser uma fragilidade da empresa quanto ao repasse de preços, aumento dos custos e maiores despesas financeiras.

Mercado Internacional

O segmento internacional apresentou uma melhora de Ebitda, devido a maiores preços e volumes de vendas mais elevados. O desempenho no mercado mulçumano, porém, foi minimizado pela redução de volume de vendas na China.

O Ebitda ajustado do segmento internacional foi de R$ 868 milhões, crescimento de 40% em relação ao segundo trimestre de 2021 e o dobro do trimestre imediatamente anterior.

Essa melhora foi gerada por dois fatores principais: o aumento de 13,4% nas vendas para o mercado mulçumano e a alta de 21,4% nos preços médios em dólares, na comparação anual.

Como consequência, a margem Ebitda ajustada foi a 22%, aumento de 9 p.p. em relação ao mesmo período de 2021 e 7,5 p.p. comparado com o primeiro trimestre deste ano.

Os preços podem continuar em patamares elevados por causa da Copa do Mundo no Qatar, que deve elevar o turismo e o consumo de produtos na região.

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Outro ponto é que a guerra no Leste Europeu, entre Rússia e Ucrânia, restringiu a oferta mundial de carne de frango no período, deixando o produto mais caro.

Ao fim, a margem Ebitda ajustada do mercado internacional foi de 14,2%, apenas 2,8 p.p. superior à registrada no segundo trimestre do ano passado e 6,4 p.p. acima da marca apresentada no intervalo de janeiro a março de 2022.

A rentabilidade poderia ter sido melhor, caso não fosse o baixo volume de vendas na China. A redução de 20% das exportações para a Ásia e o aumento do custo do produto vendido por quilograma de 19,3% em um ano afetaram negativamente a margem do segmento internacional.

O problema que mais afetou o mercado asiático, porém, foi o menor preço do suíno, causado pelo aumento da oferta após recuperação acelerada de plantel depois da peste suína africana.

Além disso, as incertezas sobre novos lockdowns na China geraram maior preço de frete, devido aos consequentes gargalos logísticos, o que impactou diretamente as margens do segmento internacional.

Mercado Brasileiro

No Brasil, o menor volume de vendas foi compensado por preços médios dos produtos mais elevados, principalmente frango (22%) e processados (19%).

O volume de vendas de frango foi 18,2% menor se comparado com o trimestre imediatamente anterior e 14,3% inferior ao registrado no mesmo período de 2021.

Por outro lado, houve maior volume de vendas de suínos, uma vez que o menor volume de exportação refletiu em maior oferta no mercado interno, levando ao menor preço médio do produto.

Os suínos sofreram uma redução de 14,8% nos preços, porém, foram compensados por um volume 22% superior ao registrado no segundo trimestre de 2021 e 43% acima em relação ao intervalo de janeiro a março deste ano.

Em processados, a empresa reportou queda de 3,2% no volume de vendas no mercado brasileiro em comparação com segundo trimestre de 2021 e avanço de 2% em relação ao trimestre imediatamente anterior.

Por outro lado, para se adaptar ao novo cenário macroeconômico, que apresenta um menor poder de compra dos consumidores, a BRF tem avançado em projetos para potencializar o volume de vendas de produtos com menor preço, como as linhas de salsichas, hambúrgueres e mortadela (processados).

Com isso, é esperado um maior volume de vendas do segmento de processados nos próximos trimestres.

O aumento dos preços levou a BRF à receita líquida 12,4% acima da reportada no segundo trimestre de 2021, para R$ 6,5 bilhões, e 11% superior à do trimestre anterior.

Já o Ebitda ajustado foi 19% inferior de um ano atrás, atigindo R$ 398 milhões. Mas reverteu o Ebitda negativo de R$ 411 milhões registrado no mesmo período anterior.

Pontos positivos e negativos

Neste segundo trimestre, a receita líquida consolidada da companhia avançou 11,2% em comparação com o mesmo trimestre de 2021 e 7,5% em relação ao intervalo de janeiro a março deste ano.

Apesar do aumento da receita, o Ebit, que é o lucro descontado dos custos e despesas operacionais, foi de R$ 140 milhões, bem abaixo (75%) do reportado no mesmo período de 2021. O montante, porém, representou uma reversão do resultado negativo de R$ 527 milhões registrado no trimestre imediatamente anterior.

No fim das contas, a empresa reportou prejuízo de R$ 451 milhões aumentando e muito a perda registrada no mesmo período do ano passado, de R$ 199 milhões. Por outro lado, reduziu a perda em relação aos de R$ 1,5 bilhão alcançados no intervalo de janeiro a março.

A melhora operacional em relação ao trimestre anterior traz mais confiança para o investidor, uma vez que a estratégia de normalização de estoques implantada pela empresa foi eficiente.

Por outro lado, a companhia não tem conseguido melhorar os resultados ao longo dos anos. O lucro líquido, o lucro operacional e as margens da empresa vêm decrescendo desde o período pré-pandemia em 2019.

Esse é um ponto que chama atenção. Apesar do contínuo aumento da receita, a BRF enfrenta perda de rentabilidade operacional ao longo dos anos, o que mostra uma dificuldade quanto a gestão de custos e/ou repasse dos preços.

O aumento nos custos dos insumos, como milho e soja, causado pela alta da inflação, e maiores despesas financeiras devido juros elevados são obstáculos que dificultam a obtenção de melhores margens da empresa.

As despesas financeiras no segundo trimestre atingiram R$ 894 milhões, avanço de 12,7% frente a igual período de 2021 e 11,4% superior ao trimestre imediatamente anterior.

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