O Bradesco (BBDC4), segundo maior banco privado do Brasil, apresentou seus resultados do segundo trimestre deste ano na noite da última quinta-feira (4). Em termos de crescimento e entrega, o resultado é neutro, mas que reitera a positiva solidez do balanço da instituição para o longo prazo.
Entre abril e junho de 2022, o banco teve um lucro líquido recorrente de R$ 7,04 bilhões, avanço de 11,4% em 12 meses, o maior de sua história em um trimestre de forma nominal. Ao mesmo tempo, o Bradesco viu seu índice de inadimplência voltar a subir, mostrando uma deterioração da qualidade do crédito.
Os calotes de 15 a 90 dias, que na prática são um aperitivo dos calotes de mais longo prazo, seguiram estáveis, em 3,6%. O índice de inadimplência acima de 90 dias, contudo, cresceu 0,3 ponto porcentual, para 3,5%.
Após a alta de 1,84% na véspera, as ações (BBDC4) subiam 1,31% por volta das 12h desta sexta-feira.
O resultado do Bradesco mostra-se positivo para além do crescimento da inadimplência, que já tinha dado suas cartas ao longo dos últimos trimestres. Embora o banco careça de gatilhos para destravar valor, os múltiplos são convidativos para um caso de alta qualidade.
Inadimplência sob controle?
A margem financeira do Bradesco, que nada mais é do que a diferença entre os juros pagos na captação de recursos e os juros recebidos nas operações de crédito, subiu 4% em 12 meses, para R$ 16,36 bilhões.
No acumulado do primeiro semestre, a margem foi de R$ 33,42 bilhões, avanço de 6,7% em comparação aos primeiros seis meses do ano passado.
A margem com clientes teve ótimo avanço de 25,8% em um ano, chegando a R$ 16,94 bilhões. A NIM (margem financeira sobre ativos rentáveis) bruta cresceu 1,1 ponto percentual em um ano, enquanto a NIM líquida se manteve praticamente estável no período.
Vale ressaltar que o período foi marcado pela disparada da taxa Selic, que saiu de 4,25% para 12,75% no fim de junho.
Nesse sentido, a gestão de ativos volátil e as mudanças agressivas no CDI fizeram com que a margem com mercado, na operação de Tesouraria, perdesse R$ 587 milhões no segundo trimestre.
Porém, isso ajuda na reprecificação dos produtos por parte das instituições financeiras frente aos clientes, enquanto a carteira de crédito do Bradesco cresce em velocidade relevante, com um mix mais agressivo.
A alta em 12 meses da carteira foi de 17,7%, para R$ 855,38 bilhões. Do total, cerca de 40% está nas mãos de grandes empresas. Essas, por sua vez, trazem uma solidez de crédito grande, já que a inadimplência de 15 a 90 dias ficou zerada e a acima de 90 dias, permaneceu em 0,1%.
O aumento das despesas com PDD (Provisão para Devedores Duvidosos), claro, chamou atenção pela aceleração. No segundo trimestre, o Bradesco separou R$ 5,3 bilhões para esta “reserva”, montante 52,4% maior do que os R$ 3,5 bilhões do mesmo intervalo de 2021.
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No período, a PDD equivale a 2,5% da carteira expandida (na visão anualizada), o maior patamar desde o quarto trimestre de 2020. Inegavelmente, o Bradesco procura se precaver de um segundo semestre ainda mais caótico em termos de inadimplência.
Contudo, esse aumento das despesas em provisões não é novidade para o mercado. O banco já vinha se preparando de forma conservadora para o aumento dos calotes por conta da alta da taxa de juros e pela pressão inflacionária no país, que mitiga o poder de compra.
O Bradesco já vinha elevando a PDD desde o fim do ano passado. Hoje, o estoque de PDD totaliza R$ 48,8 bilhões, o que faz com que o banco não deva ter tantos problemas relacionados aos calotes.
De forma relativa, em relação a pares do setor, mesmo assim o desempenho do Bradesco é satisfatório.
O Santander (SANB11), única instituição que até então havia divulgado seu balanço do segundo trimestre, era dado como o provável destaque no setor nesta temporada de resultados. O lucro líquido cresceu 2% e a inadimplência acima de 90 dias subiu 0,7% ponto percentual em um ano, para 2,9%.
O banco espanhol que opera no Brasil tem apenas 26,4% de sua carteira de crédito exposta a grandes empresas, o que indica que a menor capacidade de pagamento de pequenas e médias empresas, além das pessoas físicas, deve acelerar a deterioração do crédito da instituição – em velocidade maior do que a do Bradesco.
O que observar no Bradesco
A lição que fica é que no Brasil, faça chuva ou faça sol, os bancões vão continuar aliando saudável crescimento com rentabilidade acima da média, em condições normais.
O ROAE (Retorno sobre Patrimônio Líquido Médio) anualizado atingiu 18,1%, avançando 0,5 ponto percentual em 12 meses, batendo a maior parte da expectativa do mercado. A rentabilidade dos bancos estava prometida para ser fortemente ameaçada por novos incumbentes do mercado.
Por isso, é importante observar os índices de eficiência da operação do banco. É necessário, sim, que agências sejam fechadas para maior otimização do capital investido e o contingente cavalar de colaboradores seja repensado, mas no fim do dia, o que vale é o retorno que esses “investimentos” trazem.
O IEO (Índice de Eficiência Operacional) do banco, que mede a relação das despesas sobre as margens, receitas com serviços, resultado de seguros e despesas tributárias, terminou o segundo trimestre em 44,7%. Aqui, quanto menor, melhor.
No segundo trimestre do ano passado, o índice estava em 45,7%. Há dois anos, registrava 47,8%. Em 2019, ele beirava os 50%.
A queda na receita de serviços bancários, como cobranças sobre conta corrente, e o impacto do Pix são pontos relevantes, mas o Bradesco tem conseguido otimizar com riscos calculados o que faz de um banco de fato um banco: ganhar dinheiro com empréstimos.
Atualmente, o Bradesco negocia a 4,75 vezes o seu lucro dos últimos 12 meses. A média dos últimos três anos foi de um múltiplo de 10,48 vezes. O banco vale R$ 179,6 bilhões na B3, 20% a menos do que um ano atrás.