Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Na contramão do Ibovespa: veja os fundos de ações que mais renderam no semestre e onde eles investem

Fundo da Forpus liderou os ganhos, embalado por alocação em ações de commodities e do setor de utilities no mercado brasileiro

Foto: Shutterstock

Enquanto o Ibovespa encerrou o primeiro semestre em queda de 6,0%, alguns fundos de ações foram na contramão do principal índice da Bolsa brasileira e tiveram ganhos nos seis primeiros meses do ano.

Liderando o topo do ranking está o fundo Forpus Ações FIC FIA, gerido pela Forpus Capital, que acumulou alta de 9,5% no período, segundo levantamento realizado pelo TradeMap.

A amostra considera fundos de ações não exclusivos, com mais de 50 cotistas e patrimônio superior a R$ 100 milhões ao fim de junho. Carteiras mono ações (com apenas um papel em carteira) foram excluídas da amostra.

A carteira da Forpus tem uma abordagem conhecida como “top-down'”na seleção de ações, em que busca analisar o cenário macro para identificar oportunidades nos setores que acredita que devem ir melhor. O fundo tem uma posição comprada em Bolsa brasileira de 130% do patrimônio, via operações que permitem alavancar as posições, e 30% vendida (apostando na queda) em índices de bolsas americanas.

“Apesar da correção em junho, achamos que as ações americanas ainda têm espaço para cair porque ainda estão com múltiplos esticados e achamos que deve ter uma revisão para baixo das estimativas de lucro das empresas”, diz Rafael Cintra, analista de ações da gestora.

No mercado doméstico, a alocação em ações de commodities e do setor de utilities (serviços públicos) teve a maior contribuição para a boa performance da carteira no primeiro semestre. Em 12 meses, no entanto, o fundo perde 33,3%.

Veja a seguir os cinco fundos de ações com melhor desempenho no primeiro semestre.

Fundo Gestora Retorno 1º semestre  Retorno em 12 meses
Fonte: TradeMap. *A carteira da Navi é voltada para um grupo específico de investidores e deve ser fechada em julho. **Fundo aberto ao mercado que aplica 100% dos recursos no Absolute Pace Long Biased  Master.
 Forpus Ações FIC FIA Forpus Capital 9,51% -33,30%
 Navi Compass FIC FIA* Navi Capital 9,40% 13,06%
 Absolute Pace LB FIC FIA** Absolute Investimentos 7,83% 3,10%
 XP Investor Dividendos FIA XP Asset 7,83% -8,37%
 BTG Pactual Absoluto LS FIC FIA BTG Pactual Asset Management 6,41% -10,03%

Commodities agrícolas e utilities mais resilientes em cenário de recessão

Com o aumento do risco de recessão, sobretudo na Europa e nos Estados Unidos, e com o aumento da taxa de juros americana, a Forpus reduziu a posição em papéis de commodities, que chegou ao pico de 55% em maio, para 30% a 35% da carteira atualmente.

“Tínhamos um peso maior em petróleo e minério de ferro e agora estamos com peso maior em commodities agrícolas, que, em um cenário de desaceleração econômica, são a última coisa que as pessoas vão deixar de consumir”, diz Cintra.

Entre os papéis desse segmento estão na carteira as ações de SLC (SLCE3), Kepler (KEPL3), que constrói silos), Vittia Fertilizantes (VITT3) e Boa Safra Sementes (SOJA3).

Apesar da recente queda das commodities agrícolas, cujo índice CRB – que acompanha a variação dos preços desse segmento – recua 13,3% em um mês, Cintra acredita que os preços devem se manter em patamar elevado. A visão leva em conta o desequilíbrio estrutural entre oferta e demanda em alguns produtos após a guerra na Ucrânia, que é um grande produtor de commodities agrícolas como trigo.

“Os números da economia americana ainda estão fortes e, se tivermos uma recessão, será ao longo de 2023. Por isso, ainda vejo espaço para uma nova pernada de alta dos preços das commodities no segundo semestre se a China conseguir controlar os casos de Covid-19 e voltar a estimular a economia”, afirma o analista da Forpus.

Entre as empresas voltadas para o mercado interno, a gestora vê oportunidades em companhias com perfil mais defensivo dos setores de energia elétrica e saneamento, como CPFL (CPFE3), Energias do Brasil (ENBR3), Cemig (GMIG4), Alupar (ALUP11), Taesa (TAEE11), Sanepar (SAPR11), Copasa (CSMG3) e Sabesp (SBSP3).

“São empresas que oferecem proteção contra a alta da inflação [já que têm os contratos atrelados a índices de preços] e que oferecem previsibilidade de geração de caixa em reais”, diz Cintra.

Além disso, no caso das estatais, como Sabesp, há a possibilidade de um ganho adicional caso o próximo governo do Estados de São Paulo dê continuidade ao projeto de privatização.

Aposta na alta de petroleiras e na queda de bolsas globais

A aposta na alta de ações das empresas de petróleo — como Petrobras (PETR3), PetroRecôncavo (RECV3), PetroRio (PRIO3) e de grande petroleiras americanas — e na queda das Bolsas americanas e da Alemanha, via posições vendidas nos índices S&P 500 e DAX (o principal benchmark da bolsa alemã), contribuiu para a boa performance do fundo BTG Pactual Absoluto LS FIC FIA, que rendeu 6,4% no primeiro semestre.

A carteira é um fundo equity hedge, ou seja, que tem a possibilidade de alocar em diversos tipos de estratégia e busca oportunidades em Brasil, Estados Unidos, México e no mercado global.

No exterior, além da aposta na queda das bolsas, o fundo teve ganho com posição comprada em bancos no México, que se beneficiam da alta das taxas de juros, afirma Laercio Henrique, sócio do BTG e responsável pela gestão dos fundos de renda variável da asset do banco.

Com o aumento do risco de recessão, o fundo iniciou uma posição vendida em ações europeias por acreditar que a zona do euro será a região mais atingida pelos efeitos de uma desaceleração na China e os desdobramentos da guerra na Ucrânia, com choque de oferta no setor energético.

Apesar disso, o gestor do BTG ainda está otimista com a alocação no setor de óleo e gás em função de uma mudança estrutural no balanço entre oferta e demanda, o que vem permitindo às empresas uma forte geração de caixa e, consequentemente, elevados dividendos para os acionistas.

Foco em dividendos garante bom desempenho

Em meio à maior volatilidade nos mercados, o fundo XP Investor Dividendos FIA, da XP Asset, que foca em empresas boas pagadoras de dividendos e geradoras de caixa, foi destaque de desempenho no primeiro semestre, com ganho de 7,8%.

“Essas empresas tendem a ir bem em um cenário de maior incerteza, pois tendem a ser mais resilientes a crises e são menos expostas ao cenário macroeconômico e volatilidade com eleições”, diz Marcos Peixoto, gestor do fundo da XP.

Entre as companhias que mais contribuíram para o bom desempenho do fundo estão Eletrobras (ELET3), BB Seguridade (BBSE3) e Hypera Pharma (HYPE3), além da alocação em papéis de grandes bancos como Banco do Brasil (BBAS3) e Itaú Unibanco (ITUB4), que se beneficiam da alta da taxa básica de juros.

No caso da BB Seguridade, a XP começou a ver oportunidade no fim do ano passado, com a visão de que a estabilização dos casos de Covid-19, a Selic mais elevada e o IGP-M (indicador que corrige o passivo da empresa) mais próximo ao IPCA favoreceriam a empresa.

As companhias de seguro são beneficiadas pela alta da taxa de juros pois aplicam o caixa com recursos coletados dos segurados em investimentos atrelados ao CDI. E quando a taxa Selic sobe, a receita financeira da empresa cresce também.

Nesse cenário, Peixoto ainda mantém o papel em carteira diante da perspectiva de manutenção da Selic em patamar elevado até 2023.

Da mesma forma, a gestora mantém a posição em Hypera, cujo business de consumo básico voltado para o setor farmacêutico tem demanda mais resiliente. “A empresa tinha algumas restrições em termos de governança e, com a assinatura do acordo de leniência por parte de seu controlador, tem mostrado desempenho positivo neste ano”, diz.

Em 1º de junho, a Hypera informou que assinou acordo de leniência, estabelecendo o pagamento de R$ 110 milhões e o compromisso de seguir com seu programa de integridade, a ser acompanhado pela Controladoria-Geral da União (CGU) por 18 meses.

A investigação faz parte da Operação Tira-Teima, que investigou pagamentos indevidos de executivos da empresa a políticos. O pagamento do acordo será feito integralmente por João Alves de Queiroz Filho, o maior acionista da companhia.

Eletrobras X Taesa

Atualmente, a maior posição do fundo de dividendos da XP está em Eletrobras (ELET3). “Compramos o papel na pandemia e aumentamos a posição com a privatização da companhia de 12% para 20% da carteira”, diz Peixoto.

Mesmo com a forte alta do papel neste ano, de 26,56% até 11 de julho, o gestor da XP ainda vê espaço para valorização. “A empresa está com baixa alavancagem financeira e tem potencial de melhora com uma gestão de caixa mais eficiente após a privatização e o ajuste da estrutura societária, que deve reduzir a ineficiência fiscal.”

Com a privatização, é esperado que a empresa renove os contratos de energia com as distribuidoras a preços livres de mercado ao longo dos próximos anos, o que deve gerar um aumento relevante da receita e do lucro, diz Peixoto.

Entre as empresas consideradas boas pagadoras de dividendos do setor elétrico, a XP prefere as da Eletrobras aos papéis da Taesa (TAEE11). “A ação da Eletrobras deve pagar um retorno real com dividendos de 13% ao ano, enquanto a taxa de retorno da Taesa está em torno de 5,5%, abaixo do retorno oferecido pela NTN-B [título público com rendimento atrelado ao IPCA] “, assinala Peixoto.

Ainda no setor elétrico, o fundo conta no portfólio com posições em Equatorial (EQTL3) e Energisa (ENGI11).

Preços das ações podem se recuperar após eleição

Apesar da incerteza no cenário externo, com risco de recessão e alta de juros nos EUA, e a preocupação com o risco fiscal e as eleições no Brasil devendo manter a volatilidade alta no mercado brasileiro no curto prazo, o analista da Forpus acredita que a Bolsa está muito barata e pode ter outro rali no fim do ano.

A XP aproveitou a queda recente das ações na Bolsa local para ir às compras. “Pela primeira vez em 12 meses, reduzimos o caixa no fundo e aumentamos a posição em ações”, diz Peixoto.

Já o BTG preferiu ter maior cautela e reduziu a exposição a Brasil no fundo para 50%, uma das menores posições da história do fundo.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.