Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Recessão NÃO está totalmente nos preços e bolsas dos EUA podem cair 20%, alertam estrategistas

No caso das bolsas de mercados emergentes, como a do Brasil, os níveis de valuations já muito descontados tendem a reduzir impacto de cenário mais drástico

Foto: Shutterstock

O risco de uma recessão da economia americana cresce dia após dia, mas, na avaliação de analistas estrangeiros, ele ainda não está totalmente refletido nos preços dos ativos. A má notícia? O pior ainda pode estar por vir. Não à toa, o mercado trabalha com a possibilidade de uma queda adicional de até 24% das bolsas americanas em relação ao patamar atual, caso esse cenário se consolide.

No caso das bolsas de mercados emergentes, como a do Brasil, os níveis de valuations já muito descontados tendem a reduzir esse impacto. Como a Bolsa nacional já está barata, o espaço para quedas adicionais é menor, avaliam os analistas.

O próprio presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), Jerome Powell, reconheceu nesta semana que existe a possibilidade de o país entrar em recessão como consequência da aceleração da alta dos juros.

Pesquisa do Fed divulgada em 22 de junho mostra um risco maior que 50% de recessão nos próximos quatro trimestres e cerca de 65% de probabilidade de contração nos próximos dois anos.

Tecnicamente, uma recessão ocorre quando o PIB de um país cai por dois trimestres consecutivos. Embora a economia americana ainda esteja crescendo no curto prazo, tem aumentado o número de instituições que veem um risco maior de o país entrar em recessão no ano que vem.

O Bank of America (BofA) estima uma chance de 40% de os EUA entrarem em recessão em 2023, em meio à combinação de crescimento econômico fraco e inflação persiste e elevada no país.

O UBS, por sua vez, aumentou de 40% para 69% a probabilidade de recessão da economia americana, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (23).

Tomás Urani, economista especializado em economia internacional do Santander, não acredita em uma recessão dos EUA no curto prazo. “O mercado está precificando chance de recessão nos próximos 12 meses, mas acho que isso não deve acontecer. Parece mais razoável pensar em recessão no final do ano que vem, encerrando em 2024”, disse ele à Agência TradeMap.

Urani lembra que os juros nos EUA ainda são estimulativos, já que a inflação americana em 12 meses está em 8,6%, para uma taxa de juros no intervalo entre 1,5% e 1,75%.

A Capital Economics considera a desaceleração da economia americana, mas não uma recessão no cenário base, com o PIB americano devendo crescer 1,7%, em 2023, e 1,2%, em 2024.

Para o economista da Capital Economics, Oliver Allen, a maior parte de um ciclo de desaceleração econômica já está refletida nas taxas (e preços) dos títulos do Tesouro americano, os chamados Treasuries.

“Acho que existe alguma preocupação dos investidores com crescimento, mas definitivamente não temos uma recessão totalmente precificada nos mercados [de juros]”, diz Allen.

O economista vê espaço para mais altas no mercado de juros, prevendo que o Fed eleve a taxa básica para o intervalo entre 3,50% e 4% no primeiro de 2023, mantendo-a em patamar elevado até a inflação voltar a ficar sob controle. Na prática, a perspectiva é que a pressão sobre as ações das empresas se estenda, em meio à elevação do custo de capital.

Bolsas americanas entram em bear market, mas podem cair mais

Embora as bolsas americanas tenham entrado em território de bear market, quando o declínio é superior a 20% em relação ao último pico, uma recessão econômica ainda não está totalmente precificada, apontam os analistas.

Segundo o Morgan Stanley, o índice S&P 500 precisa cair para cerca de 3.000 pontos, o que implicaria um recuo de 20% dos níveis atuais, para que o mercado reflita totalmente uma contração econômica.

“O bear market não terminará até que a recessão chegue ou seu risco seja extinto”, apontaram os estrategistas do banco em relatório divulgado em 17 de junho.

A Capital Economics prevê que o S&P 500 poderá cair para 3.200 pontos no fim de 2023, o que implica uma queda de 16% em relação ao patamar atual. “Se houver uma recessão, o impacto vai depender de quanto tempo ela deve durar”, diz Allen.

Para o Goldman Sachs, as ações americanas estão precificando apenas uma recessão leve, havendo espaço para uma deterioração maior das expectativas.

Se uma recessão completa se tornar o cenário base do mercado, o banco estima que o  S&P 500 poderá cair para perto dos 2.900 pontos, o que equivale a uma queda de 24% em relação ao patamar atual.

“Embora alguns mercados estejam negociando abaixo dos valuations médios, o preço é mais consistente com uma recessão leve do que uma recessão média ou profunda, deixando-os expostos a uma nova deterioração das expectativas”, destacaram os estrategistas do Goldman em relatório publicado em 21 de junho.

O chefe de pesquisa global da gestora inglesa Ashmore, Gustavo Medeiros, lembra que, em média, o S&P 500 tem uma queda de 25% em eventos de recessão e, diferentemente de outras instituições, acredita que boa parte do cenário de desaceleração econômica já está refletida nos preços dos mercados.

“As taxas de juros dos títulos corporativos subiram bastante, e os preço de commodities têm caído muito também”, destaca.

O índice CRB de commodities acumula queda de 11,3% desde o pico, em 8 de junho, mas ainda sobe 30% no ano.

Quanto tempo o bear market poderá durar?

Analisando os períodos de bear market desde 1900, o Goldman identificou que, em média, os períodos cíclicos de baixa nos mercados de ações são acompanhando por queda dos índices de ações americanas da ordem de 30% do pico ao piso. Considerando os últimos dois anos, as bolsas americanas estão próximas desse patamar em termos de desempenho, assinala o banco.

O Goldman aponta que os bear markets cíclicos duram uma média de dois anos e que os mercados levam cerca de cinco anos para se recuperar totalmente e voltar ao ponto de partida. O ponto de virada dos preços para recuperação, segundo o banco, começa após o pico da inflação e sua desaceleração.

“Até agora, a inflação continua a surpreender positivamente e as expectativas de inflação nos dados da pesquisa de consumo subiram. Quanto mais isso continua, mais pressão há
para os bancos centrais apertarem as condições monetárias”, destaca o Goldman.

Para Medeiros a intensidade do impacto de uma recessão vai depender de uma eventual disrupção no mercado de crédito, que poderia levar a uma recessão mais longa como a de 2008.

“Mas o setor bancário está em uma situação melhor, o balanço das empresas e da população como um todo está melhor, com nível de poupança mais elevado”, diz.

No caso da Europa, o risco de uma redução maior do fornecimento do gás para a Alemanha pela Rússia pode acentuar a desaceleração econômica, assinala o chefe de pesquisa da Ashmore.

Nesse contexto, o Goldman espera que as empresas apresentem margens mais baixas e retornos menores aos investidores.

Emergentes X desenvolvidos

A correção dos mercados em um cenário de desaceleração econômica deve variar entre setores e mercados.

As bolsas de mercados emergentes, que estão com preços já descontados em termos históricos, devem ter uma performance melhor que as dos mercados desenvolvidos, principalmente em relação às bolsas americanas, que, apesar da queda recente, ainda têm muita gordura para queimar.

“As bolsas americanas performaram melhor que os mercados emergentes por quase dez anos e, nos próximos dez, podem ter uma reversão dessa tendência, dado que o cenário de expansão monetária e fiscal vistos nesses mercados de 2017 a 2021 não vai se repetir”, diz Medeiros.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

No caso das ações europeias, o Goldman avalia serem mais sensíveis a recessões, uma vez que a maior dependência do gás russo e a maior exposição ao conflito na Ucrânia estão pesando sobre os valuations das empresas.

Já o JP Morgan reiterou a recomendação para aumentar a exposição direta à China e continua vendo os mercados emergentes com uma performance melhor que a dos desenvolvidos.

O banco está com recomendação neutra em relação às ações dos EUA e recomenda compra de ações do Reino Unido e da zona do euro.

Entre os setores, os estrategistas do JP Morgan estão com recomendação overweight (acima da média do mercado) para o setor de mineração. O grupo oferece rendimentos de dividendos “excepcionais” de 10%, apontou o banco, em relatório divulgado em 20 de junho.

Já o Goldman vê como atrativos os setores financeiros, que já precificam o risco de recessão, e energia e materiais básicos, considerados “baratos, com ganhos extremamente altos” devido aos preços elevados das commodities”.

Para o economista da Capital Economics, as ações de crescimento, principalmente do setor de tecnologia devem continuar sofrendo, dado que, apesar da queda, ainda estão com múltiplos altos.

Em um cenário de recessão, o economista da Capital Economics espera que setores mais defensivos na bolsa, como de consumo básico e utilities (serviços públicos), se saiam melhor que os cíclicos, como consumo discricionário e commodities.

A consultoria prevê que os preços das commodities devem cair, o que pode afetar os mercados de ações com grande concentração nesse mercado, como a Bolsa brasileira.

Medeiros, da Ashmore, vê, contudo, os preços das commodities sustentáveis no médio prazo, dado o desequilíbrio entre oferta e demanda, com poucos investimentos para aumentar a produção, e a China ainda mantendo estímulos econômicos para alguns setores, o que ajuda a sustentar os preços das commodities metálicas.

No caso da Bolsa brasileira, um dos fatores que favorecem o mercado de ações é o baixo valuation das empresas. “O índice de ações MSCI Brasil negocia a um múltiplo de 5,5 vezes o preço/lucro projetado para 12 meses e está na mínima dos últimos 15 anos”, diz Medeiros.

Allen alerta, contudo, que um fator importante para as bolsas da América Latina é o cenário político.

Para Medeiros, o risco político deve ser minimizado após as eleições. “Se não tiver nenhuma disruptura em termos de ambiente econômico, o fluxo de capital vai vir.”

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.