Ibovespa cai com commodities e exterior e fecha primeiro semestre em baixa de 6%

No trimestre, a queda é de 17,9%, enquanto a desvalorização desde o início do ano é de 5,99%

Foto: Shutterstock

O Ibovespa não resistiu à pressão das commodities e das bolsas do exterior e fechou o pregão desta quinta-feira (30), o último do mês de junho, em baixa de 1,08%, aos 98.541,95 pontos, com R$ 21,15 bilhões em volume negociado.

Com isso, o índice somou 11,5% em perdas em junho. No trimestre, a queda é de 17,88%, enquanto a desvalorização desde o início do ano é de 5,99%.

O fechamento de mês também foi pesado para os mercados estrangeiros. Em Nova York, o S&P 500 teve baixa de 0,88%, o Dow Jones caiu 0,82% e o Nasdaq recuou 1,33%, com os índices somando perdas de 20,6%, 15,4% e 29,5% no semestre, respectivamente.

Recessão à vista?

Lá fora, os mercados refletem as falas dos presidentes dos bancos centrais dos Estados Unidos, da Europa e da Inglaterra, todos destacando a persistência da inflação e a consequente necessidade de aperto monetário, somando aos temores de recessão global. Pesaram também as baixas perspectivas de resolução na guerra entre a Rússia e a Ucrânia no curto prazo, o que deve continuar gerando pressão inflacionária.

Os investidores também digeriram dados econômicos dos EUA, com a renda e a inflação em linha com o que o mercado previa em maio. A renda da população teve alta mensal de 0,5% em maio – mesmo ritmo de alta observado em abril.

Já o dado mais esperado, a inflação medida pelo PCE foi de 6,3% nos 12 meses até maio, inalterada em relação ao mês anterior.

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Além de derrubarem as bolsas ao redor do mundo, estas preocupações também pesaram sobre as commodities nesta quinta, criando uma pressão adicional sobre o Ibovespa. O petróleo Brent fechou em baixa de 3,04%, a US$ 109,03 por barril, enquanto o minério de ferro caiu 2,2% no mercado futuro de Dalian, na China.

Fiscal não dá trégua

Por aqui, o mercado aguarda o resultado da votação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Combustíveis no Senado, adiada depois de as lideranças partidárias pedirem mais tempo para discutir a proposta.

Segundo o texto apresentado pelo relator Fernando Bezerra, a PEC, criada inicialmente para a compensação de estados que zerassem a cobrança de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre os combustíveis, agora traz o reconhecimento do Estado de Emergência, permitindo a criação de créditos extraordinários, fora do teto de gastos, para bancar benefícios no valor de R$ 38,8 bilhões.

As medidas anunciadas são a ampliação do Auxílio Brasil para R$ 600, o aumento do vale-gás para R$ 120, a criação de um auxílio para caminhoneiros no valor de R$ 1.000, subsídios para garantir transporte público gratuito a idosos e subsídios sobre o preço do etanol hidratado.

“Diante desta elevação de gastos baseados em créditos extraordinários, o mercado segue bastante apreensivo e cauteloso por conta da elevação do risco fiscal”, afirmam analistas da Genial Investimentos, em comentário ao mercado. “A significativa resposta do mercado reflete o retorno do ambiente de elevada incerteza em torno do arcabouço fiscal brasileiro, sendo uma reprise de uma novela cujo final não vale a pena ver de novo”, completam.

Em dados econômicos, a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) mostrou que a taxa de desemprego caiu para 9,8% no trimestre finalizado em maio, menor nível para este trimestre desde 2015 e um desempenho melhor do que o esperado por analistas, que esperavam que o indicador ficasse acima de 10%. O dado anterior, de abril, ficou em 10,5%.

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Altas e baixas do pregão

Com a pressão sobre os juros e as commodities, as maiores quedas do Ibovespa foram de Via (VIIA3), CSN (CSNA3) e CSN Mineração (CMIN3), com perdas de 8,13%, 6,42% e 6,31%, respectivamente.

Considerando os papéis que não entram no Ibovespa, a maior queda do dia foi a do Traders Club (TRAD3), de 27,09%, depois de a coluna de Lauro Jardim, do jornal O Globo, noticiar que a empresa estaria sob investigação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) por manipulação de ações. O Traders Club, por sua vez, soltou um comunicado negando os rumores.

Na sequência, também fora do Ibovespa, a Light (LIGT3) derreteu 15,62% depois do anúncio de renúncia de Raimundo Nonato da presidência da companhia.

Desde sua entrada na companhia, em outubro de 2020, os investidores observavam a gestão de Nonato com muita expectativa. O executivo ganhou renome ao reestruturar empresas que se encontravam em situações complicadas, como a Equatorial Energia (EQTL3).

Mas a saída do executivo não foi o único fator por trás da queda das ações. Na terça-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que estabelece que as concessionárias de energia terão de devolver aos consumidores finais cobranças indevidas dos impostos PIS/Cofins nas contas de luz.

Anteriormente, explica Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed, o entendimento era que parte do valor devolvido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) às distribuidoras de energia poderia ser retido pelas companhias, em vez da devolução integral ao consumidor final. Como a Light tem valores relevantes a receber, a expectativa era de uma entrada significativa de recursos no balanço da empresa, diz o analista.

Na ponta oposta, as ações do Ibovespa que mais subiram foram as de Fleury (FLRY3), Hapvida (HAPV3) e Vivo (VIVT3), que tiveram valorizações de 16,1%, 3,8% e 3,07%, nesta ordem.

A Fleury fechou um acordo para comprar o Hermes Pardini (PARD3), em uma operação de R$ 2,5 bilhões que envolverá troca de ações e pagamento em dinheiro. Os dois grupos estimam que a combinação aumente em até R$ 190 milhões o Ebitda anual da companhia combinada.

Análise:
Com Hermes Pardini (PARD3), 18% do mercado estará nas mãos do Fleury (FLRY3); ações disparam

As companhias acreditam que a combinação das duas operações representa uma excelente oportunidade de criação de valor, podendo beneficiar seus acionistas por aumentar competitividade no setor de saúde e medicina diagnóstica. As ações do Hermes Pardini fecharam em alta de 18,99%.

Outra alta relevante foi a da Suzano (SUZB3), de 1,72%. A papeleira assinou um contrato para a aquisição das ações da Caravelas Florestal, que fornece madeira para a companhia, por R$ 336 milhões. O objetivo da aquisição é garantir custos menores para a produção de celulose.

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