A saída de Raimundo Nonato da presidência da Light (LIGT3), anunciada pela companhia na noite desta quarta-feira (29), repercutiu mal no mercado. Por volta de 14h20, o papel derretia 10,80%, a R$ 6,11.
Isso porque, desde sua entrada na companhia, em outubro de 2020, os investidores observavam a gestão de Nonato com muita expectativa. O executivo ganhou renome ao reestruturar empresas que se encontravam em situações complicadas, como a Equatorial Energia (EQTL3).
Na visão da Genial Investimentos, o anúncio é de fato muito negativo. “Observamos o nome de Nonato como uma espinha dorsal para a tese de melhoria da empresa. Em um momento da empresa com dificuldade em crescer o consumo, altos investimentos e aumento na taxa de juros, vemos pouco espaço para uma recuperação no case da Light no curto prazo”, afirmaram os analistas, em comentário ao mercado.
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“O mercado colocava muita importância em Nonato neste processo de turnaroud da Light. Ele trouxe um time com muita experiência, preparado para realizar esse turnaround difícil, e agora, sem essa pessoa chave liderando, acaba ficando um pouco sem rumo”, completa Leonardo Piovesan, analista fundamentalista da Quantzed.
O pessimismo é ampliado ainda pelo fato de a saída de Nonato ocorrer três meses depois de Firmino Sampaio Neto renunciar ao cargo de presidente do conselho. Na ocasião, Wilson Poit, que já compunha o quadro, assumiu a posição de Sampaio Neto – e, agora, tornou-se também CEO interino.
No entanto, a debandada dos executivos não parece ser o único fator por trás da queda das ações da Light, que acumulam perdas de quase 20% nesta semana, de acordo com dados da plataforma TradeMap.
A queda dos últimos dias, inclusive, levantou suspeitas de insider trading – isto é, o uso de informações privilegiadas para negociar ações. “Observe que alguém sabia dessa notícia, porque a Light caiu nos últimos três dias. E o mercado, sabendo disso, vai se abster daquele papel, porque os investidores não gostam disso”, afirmou Fabricio Gonçalvez, CEO da Box Asset Management.
Impacto do PIS/Cofins
Na terça-feira (28), o presidente Jair Bolsonaro sancionou uma lei que estabelece que as concessionárias de energia terão de devolver aos consumidores finais cobranças indevidas dos impostos PIS/Cofins nas contas de luz. A devolução irá ocorrer por meio de aumentos menores nas tarifas de energia.
Entenda:
Sancionada lei que devolve PIS/Cofins cobrado na conta de luz
Anteriormente, explica Piovesan, o entendimento era que parte do valor devolvido pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) às distribuidoras de energia poderia ser retido pelas companhias, em vez da devolução integral ao consumidor final. Como a Light tem valores relevantes a receber, a expectativa era de uma entrada significativa de recursos no balanço da empresa, diz o analista.
“Essa era uma geração de caixa a mais muito relevante para a empresa, dado seu valor de mercado”, afirma.
De acordo com uma reportagem do jornal Valor Econômico, mesmo que essa lei impacte todas as concessionárias, particularidades da Light criam temores de que ela possa sofrer mais do que seus pares com a medida.
Apesar de Nonato ter entrado na companhia com a promessa de reestruturação, algumas métricas importantes ainda não foram revertidas. O índice de gatos (perdas não técnicas) da companhia, por exemplo, se mantém historicamente acima do patamar regulatório. No primeiro trimestre deste ano, o índice ficou em 54,07% – contra o patamar regulatório de 40,9%.
Além disso, a medida pode pesar ainda mais sobre o endividamento da companhia. Atualmente, o somatório das dívidas da Light, de R$ 8,1 bilhões, é 3,44 vezes maior do que seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), de acordo com dados do balanço do primeiro trimestre.
Em relatório publicado na última sexta-feira (24), analistas da Genial citaram ainda, como fatores que vêm jogando contra a Light, a queda no consumo na área de concessão da empresa; maiores investimentos nas operações de distribuição; e o aumento contínuo da taxa de juros, “especialmente negativo em um negócio que anda tendo dificuldade em gerar caixa em meio a um cenário de consumo decrescente e maiores investimentos no negócio, fazendo com que o endividamento da empresa e sua respectiva despesa financeira sigam aumentando”.
Cálculos do JP Morgan, citados na matéria do Valor, apontam que a nova lei pode custar R$ 1,6 bilhão à Light, o que pode significar um corte de R$ 4,2 no preço das ações da companhia – o que corresponde a 68% do valor atual.