Depois de amargar perdas de mais 3% no pregão de ontem (10), o Ibovespa inverteu o sinal e fechou em alta de 2,26% nesta sexta-feira (11), aos 112.253 pontos, impulsionado pelas ações de mineradoras e siderúrgicas, que reagem positivamente a sinais de flexibilização na política chinesa de tolerância zero à Covid-19.
Com o avanço de hoje, o índice fechou a semana em baixa de 5%. O saldo para o mês de novembro, por sua vez, é de queda de 3,26%, enquanto a alta acumulada do ano agora soma 7,09%.
Mais demanda da China
Nesta madrugada, o governo chinês anunciou uma série de medidas para flexibilizar sua política de tolerância zero à Covid-19, na revisão mais ampla da estratégia de enfrentamento da disseminação do vírus desde o início da pandemia.
Entre as medidas, a China informou que reduzirá o tempo de quarentena para viajantes internacionais de sete para cinco dias, diminuiu o número de testes de detecção de Covid necessários para entrar no país e reduziu o tempo de quarentena para pessoas que tiveram contato com infectados.
“Além disso, se comprometeu a minimizar as consequências econômicas de sua política”, destacou a XP Investimentos, em relatório.
Em resposta, o mercado passou a prever uma maior demanda por commodities e o preço do minério de ferro disparou na bolsa de Dalian, contribuindo também para uma valorização das mineradoras e siderúrgicas brasileiras da B3.
A ação da CSN (CSNA3) subiu 16,81%, Vale (VALE3) avançou 10,4%, Usiminas (USIM5) ganhou 10,58% e Gerdau (GGBR4) apontou em 9% para cima.
O petróleo também foi beneficiado pelas notícias, com o Brent fechando em alta de 2,42%, a US$ 95,99 por barril. Como consequência, a Petrobras teve um dia de alta, com as ações preferenciais (PETR4) subindo 3,33% e as ordinárias (PETR3) avançando 3,4%.
Balanços impulsionam alguns…
Depois da CSN, a segunda maior alta do dia, de 11,92%, foi das ações da JBS (JBSS3). A companhia conseguiu expandir suas receitas no terceiro trimestre, mas os custos tiveram alta e a empresa registrou lucro líquido de R$ 4,01 bilhões, queda de 47,1% na comparação com o mesmo período do ano passado.
Apesar da queda anual, o resultado reportado pelo frigorífico superou as expectativas do mercado. O Bank of America esperava lucro líquido de R$ 3,5 bilhões, enquanto o Itaú BBA projetava R$ 3,23 bilhões e o Santander apostava em R$ 4,11 bilhões, praticamente em linha com o anotado.
Já a Yduqs (YDUQ3) subiu 8,38% após a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre, que trouxe resultados mistos. De um lado, os números foram pressionados pela piora do resultado financeiro, em função do aumento das despesas. De outro, o aumento da receita permitiu um lucro operacional melhor.
De julho a setembro, o lucro líquido da educacional correspondeu a R$ 16,1 milhões, uma queda de 77,8% na comparação anual. Apesar disso, a receita do segmento premium somou R$ 278,5 milhões, valor 33,2% maior que um ano antes.
…mas derrubam outros
Na outra ponta, a maior queda do dia foi de Magazine Luiza (MGLU3), de 13,07%. A varejista reverteu o lucro de R$ 22 milhões registrado no terceiro trimestre de 2021 para prejuízo ajustado de R$ 112,1 milhões entre julho e agosto deste ano. O mercado projetava o prejuízo entre R$ 90 milhões e R$ 100 milhões.
De acordo com Sérgio Castro, analista CNPI da Agência TradeMap, o número é consequência da alta da taxa básica de juros, a Selic, que eleva as despesas com pagamentos de juros.
A Locaweb (LWSA3), por sua vez, teve a segunda maior queda do dia, de 9,82%. O lucro líquido ajustado de R$ 27 milhões reportado pela empresa, crescimento de 30,8% em relação ao terceiro trimestre de 2021, foi considerando sólido, assim como a expansão de receitas. As margens, porém, permanecem um ponto de atenção, segundo analistas, pressionando a ação no pregão de hoje.
Na sequência, a terceira maior baixa foi de Cogna (COGN3), que perdeu 5,68%. A companhia amargou mais um trimestre de perdas, com prejuízo líquido de R$ 211,3 milhões, com um avanço de 39% frente ao prejuízo registrado no trimestre equivalente de 2021, pressionado pelo efeito da alta de juros.
O número foi bem pior que as projeções de XP, BTG, Santander e Itaú BBA. As instituições esperavam, respectivamente, um prejuízo de R$ 112 milhões, R$ 97 milhões, R$ 134 milhões e R$ 114 milhões.
A Via (VIIA3) também apareceu entre as maiores quedas do dia, perdendo 5,43%. Repetindo a dinâmica do trimestre anterior, as lojas físicas da companhia venderam mais entre julho e setembro deste ano, na comparação com o mesmo período do ano passado. As vendas do marketplace, por outro lado, caíram, derrubando a receita e fazendo com que a varejista fechasse o terceiro trimestre deste ano com prejuízo líquido operacional de R$ 135 milhões.
O resultado, que representa uma piora em relação ao lucro líquido operacional de R$ 101 milhões registrado no terceiro trimestre do ano passado, veio melhor do que a expectativa do mercado. A XP Investimentos, por exemplo, esperava perdas de R$ 203 milhões, enquanto o Santander projetava prejuízo de R$ 145 milhões.
Já a B3 (B3SA3) anotou queda de 5,9% no pregão, depois de divulgar que teve lucro líquido atribuível aos acionistas de R$ 1,029 bilhão no terceiro trimestre, queda de 12,5% em relação a igual período e abaixo das previsões do mercado.
A dona da Bolsa tem sofrido com a diminuição do apetite do investidor pelo mercado de ações desde o ano passado, quando os juros voltaram a subir e tiraram atratividade da renda variável.
O IRB Brasil (IRBR3), por sua vez, caiu 4,65%, após divulgar mais um prejuízo líquido. As perdas alcançaram R$ 298,7 milhões no terceiro trimestre deste ano, 91,8% acima do registrado no mesmo período do ano passado. O resultado também veio bem pior do que o projetado pelo BTG e Santander, que esperavam prejuízo de R$ 97 milhões e R$ 24 milhões, respectivamente.
O desempenho foi impactado pelos efeitos climáticos que afetaram contratos de riscos do segmento rural e pela Covid-19 no segmento “vida”.
Hoje, após o fechamento do mercado, serão divulgados os números de Cemig (CMIG4) e Cosan (CSAN3).
Exterior segura altas
Nos Estados Unidos, além de repercutir as notícias da China, o mercado também seguiu reagindo a dados de inflação melhores do que o esperado divulgados na manhã de ontem. Em Nova York, o S&P 500 fechou em alta de 0,92%, o Dow Jones subiu 0,1% e o Nasdaq avançou 1,88%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 somou ganhos de 0,57%.
Leia mais:
Americano tem pior perda com investimentos em 100 anos e isso pode afetar consumo e PIB dos EUA
Dados divulgados pelo governo dos EUA mostraram que o índice de preços ao consumidor americano (CPI) subiu 0,4% em outubro na comparação com o mês anterior, quando também tinha avançado 0,4%.
O mercado esperava um avanço mais intenso, de 0,6%, segundo o Rabobank e o ING. No acumulado em 12 meses, a inflação foi de 7,7% em outubro – a menor leitura desde janeiro deste ano e inferior à previsão dos especialistas, que era de 7,9%.
Política e economia em foco
Na economia brasileira, por sua vez, a receita do setor de serviços cresceu 0,9% em setembro na comparação com agosto e bateu o recorde da série histórica, iniciada em 2011, segundo dados divulgados na manhã de hoje. O setor, o mais importante para o PIB (Produto Interno Bruto), registra cinco meses seguidos de avanço, com ganho acumulado de 4,9%.
Os dados vieram acima da expectativa do mercado. O Itaú BBA previa alta de 0,4% na receita do setor em relação a agosto, e avanço de 8,3% em relação a setembro do ano passado.
Na frente política, os investidores seguiram avaliando as negociações da equipe de transição com o Congresso, para aprovação ainda em 2022 de uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que deve abrir espaço de R$ 175 bilhões no Orçamento de 2023.
Veja também:
Investidor estrangeiro não dará benefício da dúvida e quer postura pragmática de Lula, diz Ashmore
Mais cedo, o senador eleito Wellington Dias (PT-PI), que integra o Conselho Político de Transição, informou que PEC só deverá ser apresentada na quarta-feira (16), após o feriado da Proclamação da República.
Informações de que a proposta retiraria benefícios sociais como o Auxílio Brasil (que voltará a se chamar Bolsa Família) do teto de gastos de forma permanente preocupam o mercado financeiro, que ontem reagiu mal à fala de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em que o presidente eleito defendeu a ampliação de gastos e atacou o teto.
Criptomoedas
O mercado de criptoativos devolveu parte das perdas registradas pelo crash deflagrada pela FTX, mas ainda encerra a semana no campo negativo e com as principais moedas registrando as cotações mais baixas em dois anos.
Por volta das 17h, o Bitcoin (BTC) recuava 2,7%, negociado a US$ 17.030, segundo dados disponíveis na plataforma TradeMap. Já o Ethereum (ETH) perdia 3%, a US$ 1.284.
A FTX entrou com pedido de falência na Justiça americana nesta sexta-feira após uma “espiral da morte” iniciada no domingo (6), com rumores de que estava insolvente.
A crise se intensificou a partir de terça (8), quando os clientes foram impedidos de sacar os seus fundos. A Binance chegou a estudar uma proposta para adquirir a rival, mas recuou afirmando que problemas envolvendo a FTX “estão além do nosso controle ou capacidade de ajudar”.
A empresa também disse que a desistência tinha a ver com notícias de que a FTX usou dinheiro de clientes para cobrir perdas financeiras.
O mercado passou um breve momento de alívio nesta quinta, quando dados da inflação americana vieram melhores do que o esperado. O clima negativo, no entanto, retornou com investidores dando maior peso para a crise da FTX.