Americano tem pior perda com investimentos em 100 anos e isso pode afetar consumo e PIB dos EUA

Relatório do Bank of America mostra que o portfólio padrão, de 60% alocado em ações e 40% em títulos, perde mais de 30% no ano

Foto: Shutterstock/FOTOGRIN

No caminho de uma desaceleração e uma possível recessão econômica, os Estados Unidos contam com mais um elemento para desidratar a atividade: a redução do portfólio de investimento dos americanos, que deve influenciar no consumo nos próximos meses.

Levantamento do Bank of America mostra que a carteira padrão do americano, que em média tem 60% em ações e 40% em renda fixa, registra em 2022 uma perda de 34,4%, a pior em um século.

O consumo responde por quase 70% do PIB americano. Se as famílias veem o patrimônio ser afetado pelas perdas do mercado, a tendência é que fiquem mais cautelosas e direcionem menos recursos para o consumo.

A perda na carteira de investimento dos americanos decorre não só do desempenho ruim da Bolsa dos Estados Unidos em 2022 – o S&P cai 16,9% no acumulado do ano –, mas também das fortes perdas sofridas nos mercados de títulos.

Por uma característica local, os investimentos em renda fixa nos EUA são majoritariamente feitos em taxas prefixadas. Neste ano, porém, o Fed (banco central americano) aumentou a taxa de juros de quase zero para 4% ao ano.

A decisão, cujo objetivo era combater a maior inflação em quatro décadas, também fez o preço dos títulos de dívida despencar, e arrastou para baixo o valor de mercado das carteiras de renda fixa dos investidores.

Em relatório, os analistas do Bofa ressaltam que o fraco desempenho está ligado também a um ajuste do mercado ao novo cenário econômico que se desenha para os próximos anos.

“A desordem de Wall Street de 2022 reflete a dolorosa ‘mudança de regime’, de uma era de paz deflacionária, globalização, disciplina fiscal, taxas (de juros) zero, impostos baixos e desigualdade para dar lugar a uma inflacionária era de guerra, com nacionalismo, pânico fiscal, altas taxas (de juros), impostos em alta e inclusão. O tema secular de investimento é a inflação”, diz o documento, chamado de “The Flow Show”.

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Hipotecas e desemprego nos EUA

E não é só a deterioração do patrimônio dos americanos que deve afetar o consumo e consequentemente o nível da atividade econômica. Os americanos se deparam ainda com o aumento do desemprego – só o Facebook anunciou que vai cortar 11 mil vagas – e dos juros das hipotecas.

Jansen Costa, fundador da Fatorial Investimentos, lembra que os americanos possuem dívidas elevadas no setor imobiliário. Se os juros sobem, o custo desse financiamento também cresce, apertando mais as condições de consumo.

“A subida dos juros é restritiva e acaba impactando no bolso dos americanos. Sem o patrimônio, vão querer segurar mais. Mas o que mais aflige é o custo do financiamento”, diz.

Guilherme Zanin, estrategista-chefe da Avenue, acha que uma desaceleração nos EUA é certa, e que a deterioração dos portfólios contribui para isso porque o americano médio terá menos recursos à disposição se ficar desempregado.

“Os americanos estão com menos gordura para queimar. E com um risco de desaceleração ou mesmo recessão, as empresas vão demitir. O positivo é que o desemprego está em um nível historicamente baixo”, conta.

A taxa de desemprego dos EUA está entre 3,5% e 3,7%, abaixo da média histórica, que é de 5,7%.

O quadro pode se agravar, no entanto, se a inflação continuar em patamares elevados por um longo período, assim como previsto pelo Bofa. A alta de preços em 12 meses está em 7,7%, bem acima dos em torno de 2% registrados até 2020. O problema desse quadro é que o Fed teria que continuar elevando os juros, desacelerando mais ainda a atividade econômica.

“O americano não está acostumado a isso. Os juros também teriam que ficar mais elevados e isso afeta o consumo, que é o principal driver de crescimento do país”, conclui.

O Conference Board, centro de estudos (think tank) voltado para negócios, vê em 96% a probabilidade de uma recessão nos Estados Unidos nos próximos 12 meses, com desempenho negativo no PIB no quarto trimestre de 2022 e primeiro de 2023.

E para o Brasil?

O Brasil e os demais emergentes podem sofrer as consequências da desaceleração dos seus dois principais parceiros comerciais, que são a China e Estados Unidos.

Com as duas potências em desaceleração, o preço das commodities tende a cair e, com isso, o Brasil exportar menos, o que significa menos dólares entrando no país.

Além disso, o Brasil também pode sofrer a saída de capitais em caso de juros mais altos nos EUA.
“O maior medo nosso é os Estados Unidos subirem o juro mais rápido. Um menor diferencial de juros entre Estados Unidos e Brasil reduz o fluxo de capitais para cá”, diz Costa, da Fatorial.

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