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Bolsa brasileira é a terceira mais barata do mundo e tem o 4º melhor desempenho em 2022

Sem problemas geopolíticos e com expectativa de queda de juros em 2023, Brasil tem condições de liderar fluxo estrangeiros para mercados emergentes

Foto: Shutterstock/Isaac Fontana

O fim das eleições, a expectativa de queda nos juros em 2023 e a Bolsa brasileira negociando com um múltiplo de seis a sete vezes o preço sobre o lucro, abaixo da média histórica, dão ao Brasil condições de liderar os fluxos para mercados emergentes nos próximos meses, segundo analistas.

A Bolsa brasileira negocia hoje com o terceiro menor múltiplo de preço/lucro entre as Bolsas globais (considerando os resultados já realizados das empresas).

Esse múltiplo é um indicador do prazo que os investidores levam para ter o retorno sobre o investimento.

A média histórica dele no Brasil é de 11 a 12 vezes, mas atualmente o indicador está em 6,06 vezes, segundo o índice MSCI Brasil, que acompanha o desempenho do mercado local. Só perde para o das bolsas da Colômbia e da Turquia (ver tabela abaixo).

“A Bolsa negocia hoje com um múltiplo de preço/lucro muito atrativo, abaixo do patamar de 2015 e 2016, quando tínhamos uma crise institucional”, afirma Rodrigo Barreto, analista da Necton Investimentos.

A Bolsa brasileira era a quarta com melhor performance no ano, até 4 de novembro, acumulando alta de 12,72%.

Tabela desempenho bolsas globais

Segundo Matheus Spiess, analista da Empiricus, desde a metade de 2021 os ativos brasileiros sofreram bastante com a alta da taxa Selic, que passou de 2% ao ano em março de 2021 para 13,75% ao ano atualmente.

A deterioração do quadro fiscal, após o Senado aprovar, em julho de 2021, uma série de medidas fora da regra do teto de gastos (que limita o aumento das despesas do governo à inflação), também jogou contra, assim como a incerteza com a eleição.

Isso fez com que a Bolsa brasileira ficasse mais barata que a de pares emergentes. Passada a incerteza da eleição, Spiess acredita que o fluxo de investimentos estrangeiros pode aumentar, dependendo da sinalização do próximo governo na área econômica.

“Os investidores estrangeiros preferem o Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] porque ele tem uma narrativa com mote voltado para o investimento sustentável”, diz Spiess.

Fluxo estrangeiro pode aumentar após eleição

Com preços baratos e com uma situação geopolítica melhor que a de seus pares, o Brasil pode atrair investimentos estrangeiros após a eleição.

Desde o segundo turno da eleição presidencial, em 30 de outubro, a entrada líquida de investimentos estrangeiros na Bolsa brasileira somou R$ 4,8 bilhões até 4 de novembro, de acordo com dados da B3.

“Os estrangeiros não estavam preocupados com a eleição, dado que os dois principais candidatos eram conhecidos do mercado, o que explica a reação mais calma após o segundo turno“, diz Barreto.

No ano, o fluxo de investimento estrangeiro para a Bolsa é recorde e está positivo em R$ 104,6 bilhões, contando recursos direcionados para as compras de papéis no mercado secundário e para as ofertas de ações, segundo dados da B3.

gráfico fluxo estrangeiros Bolsa brasileira

Com a Rússia em guerra com a Ucrânia, a China com problemas geopolíticos com Taiwan e Estados Unidos, a Turquia com uma inflação que alcançou 83% em outubro e o México devendo sofrer com a desaceleração da economia americana, o Brasil ganhou destaque entre os mercados emergentes, apresentando um cenário econômico-político mais estável, afirma Barreto.

“Olhando para fora, não tem para onde migrar esse fluxo. Os EUA estão subindo juros, a Europa enfrenta a maior inflação em 40 anos e emergentes como Rússia e China estão em conflito geopolítico. No final, sobra o Brasil”, diz  Barreto.

“Se olharmos o grupo do Bric, a Rússia é’ ininvestível’ , a China está se afastando do diálogo com as democracias, a Bolsa da Índia está cara e o país tem carência de oferta de alimentos e energia”, diz Spiess.

O analista da Necton lembra que a valorização do real neste ano frente ao dólar também é um fato que beneficia os investimentos estrangeiros. O real é hoje a moeda com maior ganho no ano, subindo 7,99% frente ao dólar, atrás apenas do peso mexicano.

Com a alta de juros nos mercados desenvolvidos em curso, especialmente nos EUA, o analista da Empiricus vê a continuidade do movimento de migração das ações de crescimento para empresas de valor como do setor de commodities e bancos, que são geradoras de dividendos. Isso deve beneficiar o Brasil, cuja Bolsa tem grande concentração de empresas nestes segmentos.

Para Barreto, boa parte do fluxo de investimentos estrangeiros já entrou no Brasil, com a Bolsa registrando entrada líquida recorde no ano. “Não acredito que tem muito mais dinheiro estrangeiro vindo. As definições sobre a equipe econômica e o Orçamento de 2023 serão importantes para eles decidirem se ficam ou não no país”, diz Barreto.

Para o economista-chefe do Instituto Internacional de Finanças (IIF), Robin Brooks, com uma transição de governo ordenada, o Brasil será o país emergente “mais quente” para se investir em 2023.

Segundo Brooks, os investidores estrangeiros já ficaram mais otimistas com o Brasil neste ano porque estão fugindo de autocracias como a Rússia e a China, e veem o Brasil como uma democracia mais estável. “Não é perfeita, mas funciona”, mencionou em sua página no Twitter.

Queda de juros beneficia Bolsa brasileira

Outro fator que deve beneficiar a Bolsa brasileira é a expectativa de queda da taxa de juros. O Brasil foi um dos primeiros países a iniciar o aperto monetário e agora deve ser um dos primeiros a reverter esse ciclo ano que vem.

A média das projeções dos analistas no último Boletim Focus, divulgado em 7 de novembro, aponta para queda da taxa Selic para 11% ao ano no fim de 2023.

“A queda da taxa Selic vai depender do comprometimento fiscal do novo governo”, afirma Barreto.

Essa redução dos juros deve favorecer setores cíclicos domésticos como empresas de construção civil voltadas para o segmento de baixa renda, varejo mais voltado para a baixa renda e também empresas de shopping center como o Iguatemi (IGTI11).

Para Spiess, os investidores agora aguardam para saber quem serão os membros da equipe de governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principalmente o ministro da Fazenda, além de mais detalhes sobre sua agenda fiscal.

“Reduzindo esses ruídos, podemos ver um aumento dos investimentos estrangeiros”, diz Spiess.

O analista da Empiricus destaca que a escolha de um nome mais pró-mercado, como o dos ex-presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles, ou Persio Arida, um dos pais do Plano Real e ligado ao vice-presidente Geraldo Alckmin, ou alguém da “ala mais pragmática do PT”, seria positivo para o mercado.

Para Barreto, o fluxo de investimentos para Brasil vai depender do ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. O banco central americano elevou, em 2 de novembro, a taxa básica de juros para o intervalo entre 3,75% e 4,00% ao ano e sinalizou uma desaceleração no ritmo de alta a partir das próximas reuniões.

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