Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

5 principais pontos para os investidores prestarem atenção após eleição

Empresas de educação, construção com foco no segmento de baixa renda e varejistas devem ser beneficiadas pelos programas do governo do PT

Foto: Shutterstock

Com a vitória apertada do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silvia (PT) no segundo turno para seu terceiro mandato, o mercado deve focar após a eleição nas informações sobre a formação da equipe econômica e em detalhes sobre as propostas do governo para a economia e política fiscal, afirmam os analistas e gestores ouvidos pela Agência TradeMap.

Essas notícias devem trazer maior volatilidade para os mercados no curto prazo. “Por mais que tenhamos instabilidade nos primeiros dias, no curto e médio prazo o real deve ganhar valor e a Bolsa voltar a subir”, diz Felipe Izac, sócio da Nexgen Capital.

Lá fora, o ETF EWZ, principal fundo listado lá fora que acompanha a Bolsa brasileira, caía 4,99% na pré-abertura por volta das 7h50.

Após a eleição mais dividida da história do país, Lula encontrará um Congresso composto por maioria de centro-direita e terá que formar alianças para compor uma base aliada. Ontem, Lula buscou fazer um discurso de vitória pacificador, enfatizando o diálogo com todos.

A grande dúvida dos investidores é quem será o presidente Lula nesse governo: o líder pragmático do primeiro mandato – de 2003 a 2006 -, que conseguiu avançar nas reformas e montou uma equipe econômica mais pró-mercado, ou um político com um viés mais alinhado ao governo Dilma, de maior intervenção do Estado na economia?

Em carta aberta divulgada em 27 de outubro, Lula se comprometeu com um governo de responsabilidade fiscal e social, sem dar detalhes de qual será a nova âncora fiscal a ser adotada no lugar da regra do teto de gastos (medida que limita as despesas do governo à variação da inflação), que o presidente eleito afirmou que pretende acabar.

Lula, contudo, terá desafios no ano que vem para manter os benefícios sociais e sustentar o equilíbrio fiscal. Depois de um crescimento esperado de 2,76% do PIB para este ano, segundo a média dos analistas do último Boletim Focus, a economia deve desacelerar em 2023, com um avanço esperado de apenas 0,63%, o que deve reduzir a arrecadação e a receita do governo.

O cenário internacional também não será favorável: taxas de juros em alta nas economias desenvolvidas, aumento do risco de recessão, especialmente na Europa e Estados Unidos, e desaceleração econômica da China, principal parceiro comercial do Brasil.

Veja abaixo os cinco principais pontos que devem influenciar os mercados daqui para frente.

1- Risco de contestação do resultado da eleição

Uma contestação do resultado das urnas seria negativa para os mercados, uma vez que poderia trazer instabilidade política para o país. Até o momento, o presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não se manifestou nem reconheceu o resultado da eleição.

O impacto nos mercados vai depender da magnitude dos eventos e manifestações contrários ao resultado oficial, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

“Isso poderia afugentar o investidor estrangeiro”, afirma diz Fernando Siqueira, analista da Guide Investimentos.

De outro lado, um avanço em reformas como a Tributária e a Administrativa, e uma agenda ambiental mais forte poderiam atrair recursos externos para o Brasil, destaca Cruz.

Izac afirma que o Brasil está bem colocado entre os pares emergentes, e, passada a incerteza da eleição, pode atrair recursos externos.

2- Formação da equipe econômica

Apesar de, durante a campanha, o PT ter evitado dar detalhes sobre a composição da equipe econômica, alguns nomes já estão sendo ventilados no mercado para ministro da Fazenda.

“Nomes como Nelson Barbosa [ex-ministro da Fazendo do governo Dilma] ou Fernando Haddad [ex-candidato ao governo do Estado de São Paulo] seriam vistos como negativos pelo mercado, já nomes como Henrique Meirelles [ex-presidente do Banco Central no governo Lula] ou Pérsio Arida [um dos idealizadores do Plano Real] são vistos como mais pró-mercado”, diz Cruz.

Políticos do PT como Jaques Wagner, ex-governador da Bahia e ex-ministro nos governos Lula e Dilma, e do ex-governador do Piauí Wellington Dias (PT) teriam um perfil mais intermediário entre os dois primeiro grupos, diz Cruz.

“O mercado espera o Meirelles. Se vier um nome do PT mais ligado ao pensamento da Unicamp [que defende maior intervenção do Estado na economia], será mal recebido”, diz Siqueira.

3- Nova âncora fiscal e reformas

Um dos principais pontos da política econômica que o mercado deve olhar após a eleição é qual será a nova âncora fiscal a ser adotada no governo Lula.

Embora tenha evitado detalhar propostas sobre este assunto durante a campanha, o PT estuda algumas opções. Uma das possibilidades é o pedido de um “waiver” (licença para gastar) para bancar gastos sociais, como a manutenção do Auxílio Brasil de R$ 600, ao mesmo tempo em que se discute a adoção de meta de superávit primário como medida para o controle da dívida pública.

Meirelles tem dito ao mercado que seria razoável um “waiver” de até R$ 100 bilhões para bancar novas despesas não previstas no orçamento do ano que vem.

“Todo mundo já sabe que o governo deve pedir um waiver, agora o impacto nos mercados vai depender do tamanho dele, porque isso faz diferença para as contas públicas”, diz Cruz.

“Um waiver de até R$ 100 bilhões já é esperado pelo mercado, mas o mais importante é entender qual vai ser a nova âncora fiscal”, diz Evandro Buccini, sócio e diretor de renda fixa e multimercados da Rio Bravo Investimentos.

Do lado de reformas, Cruz acredita que a reforma tributária deve ser uma das primeiras a ser negociada nos primeiros 100 dias de governo.

“Lula prometeu a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e isso deve ser discutido na reforma tributária”, diz Cruz.

Para bancar a isenção, tanto Bolsonaro quanto Lula pretendiam adotar a cobrança de imposto sobre e distribuição de lucros e dividendos. “No caso de Lula ainda poderá haver alguma taxação adicional de grandes fortunas”, diz Cruz.

Para aprovar as medidas econômicas, Lula terá que aumentar sua base de apoio no Congresso, hoje de maioria de partidos de centro, diz Cruz.

Mais gastos fiscais devem ter impacto no mercado de câmbio e juros.

“O risco é de se postergar o corte da taxa Selic se voltarem os impostos que foram cortados neste ano de energia e combustíveis”, diz Cruz.

Para o Credit Suisse, o dólar pode testar o limite de R$ 5,50, mas deve perder força e atrair vendedores se Lula anunciar um ministro da Fazenda com perfil mais ortodoxo (mais pró-mercado).

4- Gestão das empresas estatais após eleição

Um dos principais riscos vinculados à eleição e acompanhados pelo mercado é a magnitude da interferência nas empresas estatais.

Em carta aberta divulgada em 27 de outubro, Lula apontou que os bancos públicos, especialmente o BNDES, e “empresas indutoras do crescimento e inovação tecnológica, como a Petrobras (PETR4), terão papel fundamental neste novo ciclo.”

“Há o risco do governo usar mais os bancos públicos para promover políticas públicas como ampliação e renegociação do crédito via Caixa e Banco do Brasil [BBAS3), aumento do financiamento de projetos de infraestrutura via BNDES e mudança na política de preços da Petrobras para reduzir os preços dos combustíveis no mercado doméstico”, diz um gestor de fundos.

Para Cruz, apesar dos múltiplos descontados das ações de empresas estatais na Bolsa, como Petrobras e BB, que negociam abaixo da média histórica, há espaço para queda maior por conta dos riscos mencionados acima. Na pré-abertura, o ADR da Petrobras apontava queda de 9,81% na Bolsa de Nova York.

“Lula já falou que quer aumentar os investimentos em refinarias e em energia renovável na Petrobras, então, os dividendos gigantes distribuídos pela Petrobras neste ano devem acabar”, diz Cruz.

5- Empresas na Bolsa que devem se beneficiar dos programas de governo

O plano econômico do governo PT prevê a retomada do programa de investimento em infraestrutura PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), além do fortalecimento do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) e do Minha Casa, Minha Vida.

Nesse cenário, as empresas de construção focadas mais no segmento de baixa renda e do setor de educação na Bolsa devem ser beneficiadas. Os papéis dessas empresas já vêm subindo fortemente nos últimos meses.

No setor de educação, o analista de ações da Levante, Flávio Conde, vê oportunidade nos papéis da Yduqs (YDUQ3) e Cogna (COGN3), que seriam beneficiadas com a ampliação do Fies e ProUni.

Já no segmento de construção a Levante vê oportunidade nos papéis da MRV (MRVE3) e da Tenda (TEND3), que podem subir com a ampliação de recursos e taxas de juros menores no programa Minha Casa, Minha Vida.

Empresas de consumo básico como Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3) também devem ser beneficiadas com a ampliação do Bolsa Auxílio e aumento do salário mínimo, diz Siqueira. Lula prometeu durante a campanha reajustar o salário mínimo acima da inflação.

Ações de varejistas como como Magalu (MGLU3), Via (VIIA3), Americanas (AMER3), Lojas Renner (LREN3), de shopping center e até Méliuz (CASH3) também devem ser beneficiadas por essas medidas, diz Conde.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.