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Quais as principais decisões tomadas pela China e o que elas significam para o Brasil

Congresso do Partido Comunista confirmou a expectativa de que o país pretende buscar crescimento mais sustentável

Foto: Shutterstock

O primeiro dia do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês, que começou em 16 de outubro e se estende ao longo da semana, confirmou a expectativa de que a China pretende se consolidar como uma potência econômica e militar e deve focar em investimentos estratégicos de longo prazo, principalmente na área de tecnologia, buscando crescimento mais equilibrado e menos dependente dos investimentos em infraestrutura.

Isso deve ter implicações diretas para o Brasil, que pode se beneficiar do aumento do consumo de alimentos na China, mas deve gerar uma demanda menor por outras commodities no médio prazo, como o minério de ferro, apontam os economistas e estrategistas ouvidos pela Agência TradeMap.

“O relatório do presidente Xi Jinping no 20º Congresso do Partido está amplamente alinhado com as expectativas, por isso não esperamos reação forte e imediata do mercado. As visões e objetivos descritos no congresso apoiam investimentos de longo prazo, consumo em massa e temas de fabricação de produtos voltados para a tecnologia inteligente”, aponta o banco suíço Julius Baer em relatório.

Novo mandato e PIB adiado

Secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCCh) desde 2012, Xi Jinping deve seguir no cargo e ser eleito para seu terceiro mandato como presidente da China pelos próximos cinco anos.

O grande ponto a ser observado pelo investidores é quais serão os novos impulsionadores do crescimento chinês. O Banco Mundial revisou para baixo sua previsão para o crescimento do PIB do país em 2022 para 2,8%, patamar inferior à meta de 5,5% anunciada no início do ano pelo governo chinês.

O PIB da China teve retração de 2,6% no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior em função do impacto das medidas de lockdowns com a adoção da política de zero casos de Covid-19. O resultado referente ao intervalo de julho a setembro, previsto para esta segunda-feira, foi postergado pelo governo chinês. Nenhum motivo foi dado para o adiamento.

“O adiamento da divulgação dos dados sugere que eles poderiam afetar negativamente o governo e aumenta o temor de que eles pudessem vir pior do que o mercado estava esperando”, diz  Robison Francisco, economista da Macro Capital.

Para o estrategista macro e sócio da Galapagos Capital, Rodrigo Jafet, tudo indica que a atividade na China está se recuperando em relação ao segundo trimestre. “Acho que o motivo do adiamento da divulgação do PIB foi mais para não interferir na reunião do partido”, afirma.

Para Galapagos Capital, o crescimento de 8% a 9% da China visto nos últimos anos não vai ser mais realidade, devendo ficar mais perto de 3% a 4% segundo a gestora.

O crescimento da China tem impacto direto na economia brasileira. Principal mercado comprador de commodities, o país hoje é o principal parceiro comercial do Brasil, respondendo por 28% das exportações de janeiro a setembro.

Veja abaixo os principais pontos do discurso de Xi Jinping.

Foco em crescimento sustentável

Em seu discurso durante a abertura do Congresso, Xi Jinping destacou que focará o “desenvolvimento de alta qualidade” do país. “Acreditamos que a China terá foco no crescimento econômico, mas enfatizará mais o desenvolvimento sustentável que apenas uma meta numérica”, aponta o Julius Baer.

Como esperado, a segurança nacional agora tem prioridade alta, e o Julius Baer espera que a China dê mais ênfase a políticas para garantir energia, alimentos e cadeias de suprimentos no futuro.

O governo chinês visa reduzir a dependência dos Estados Unidos diante da crescente tensão com o país. No mês passado, os EUA aplicaram novas restrições à venda de chips e semicondutores para a China.

“As recentes restrições dos EUA sobre semicondutores podem se tornar grande gargalo que a China precisa resolver para desenvolver outras tecnologias essenciais”, destaca o Julius Baer.

A proteção ambiental é outro ponto de preocupação para a China, que busca uma “economia mais limpa”.

“A China deve redirecionar alguns dos recursos que sempre foram para a construção para infraestrutura e energia limpa”, diz Jafet. Segundo ele, o Brasil, considerado como um país neutro em termos geopolíticos, pode se beneficiar desse cenário.

A mudança de foco do crescimento chinês, contudo, deve trazer alteração da pauta de exportação do Brasil para o maior país asiático, devendo ser mais concentrada em alimentos e energia, podendo incluir a exportação de petróleo, e menos em minério de ferro, afirma.

Nesse cenário, empresas exportadoras de carnes como Marfrig (MRFG3), Minerva (BEEF3) e JBS (JBSS3) poderiam se beneficiar, assim como exportadores de soja como a SLC Agrícola (SLCE3).

“O crescimento da classe média na China deve aumentar a demanda por produtos agrícolas, e isso vai continuar sendo relevante para o Brasil”, diz Francisco, da Macro.

Por outro lado, o investimento mais baixo no setor imobiliário e o crescimento menor da maior economia asiática podem reduzir a demanda por minério de ferro, o que não seria favorável para a Vale (VALE3), já que o país asiático respondeu por 60% das exportações da mineradora brasileira no segundo trimestre deste ano.

Investimentos no poderio militar

Outro ponto que chamou a atenção dos analistas foi o destaque do presidente da China em tornar o país uma potência militar assim como os Estados Unidos.

O presidente da China deixou claro que pretende buscar a unificação com Taiwan, que faz parte do território chinês mas tem status autônomo, e com Hong Kong. “Eles sugeriram que vão continuar tentando uma reunificação pacífica com Taiwan, mas não abrirão mão de um conflito militar se for o caso”, aponta Jafet.

Para o estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, uma incorporação de Taiwan pela China poderia levar a um aumento da aversão a risco nos mercados diante do temor sobre os efeitos geopolíticos que essa ação poderia ter. “Quando Taiwan for absorvida, os mercados devem reagir mal”, destaca.

Manutenção da política de Covid zero

O governo chinês não deu nenhum sinal de que pretende mudar a política de zero casos de Covid-19, que tem levado a uma série de lockdowns e afetado a cadeia de suprimentos e o próprio crescimento da economia.

“O governo chinês foi bastante claro nesse sentido e vai continuar a favor dessa política no curto a médio prazo”, diz Jafet, que espera uma abertura maior da economia chinesa apenas em março. Isso deve dificultar, na visão da Galapagos, ainda mais o cenário de desaceleração da economia global.

Para Cruz, a manutenção da política de Covid zero pode ter impacto nos preços dos fretes e na cadeia de suprimentos, com a falta de componentes como vista durante a pandemia. “Há um ano, o preço do frete, em média, estava em US$ 10 mil, agora já caiu para US$ 4 mil com a expectativa de que as economias estão mais fracas. Mas se houver novas restrições na China e os navios não saírem dos portos, isso prejudicaria as cadeias de fornecimento mundiais”, diz.

Setor imobiliário

Da mesma forma, não houve, até o momento, nenhuma discussão específica sobre a atual crise no setor imobiliário na China. Investidores esperavam alguma sinalização de mais estímulos para esse setor, que representa 25% do PIB chinês.

“O fato de quase não mencionarem essa questão sugere que eles estão satisfeitos com a situação, que querem mesmo aumentar a regulação para desalavancar o setor imobiliário, buscando um crescimento mais equilibrado da economia”, diz Jafet.

Para o estrategista Cruz, nos próximos dias o mercado estará de olho se o governo chinês deve anunciar alguma medida de apoio a esse setor, o que poderia beneficiar empresas como a Vale.

Manutenção da taxa de juros

O banco central chinês decidiu por manter estável a taxa de empréstimos de médio prazo em 2,75% nesta segunda-feira. Para reunião do dia 19 deste mês, também é esperado que o BC do país mantenha no mesmo patamar a taxa de referência de um e cinco anos em, respectivamente, 3,65% e 4,30%.

Em setembro, a inflação anual na China atingiu 2,8%, abaixo da média dos principais países, o que abre espaço para novos cortes de juros. Contudo, o movimento de alta global de alta do dólar limita a redução, já que poderia criar uma pressão adicional de baixa para a moeda chinesa, o yuan.

“O yuan se depreciou de forma significativa ao longo do ano, o que gera bastante desconforto, pois a China tem uma política de manter a moeda estável”, afirma Francisco.

Segundo o economista da Macro Capital, as medidas de estímulo ao crescimento econômico do país poderiam vir mais por meio de novo corte do compulsório no último trimestre para estimular o crédito.

“O governo chinês deve calibrar esses estímulos e fazer só o suficiente para evitar uma recessão”, diz Jafet, da Galápagos

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