Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Fundos reduzem posição em commodities diante de risco de recessão; é hora de sair de ações do setor?

Papéis ligados ao petróleo são exceção, tidos como atrativos em meio à relação mais favorável entre oferta e demanda

Foto: Shutterstock

O aumento do risco de recessão global, principalmente na Europa e nos Estados Unidos, levou a uma forte queda dos preços das commodities desde junho, o que pesou também nas bolsas de países com grande concentração nesse setor, como o Brasil.

Diante desse cenário, fundos de investimento têm reduzido ou até zerado a posição em commodities, como é o caso das gestoras Ibiuna e SPX. Apesar da queda dos preços dos ativos em geral, os gestores ainda veem um cenário positivo para as ações do setor de petróleo, como Petrobras (PETR4), com a avaliação de que o balanço entre a oferta e a demanda da commodity está mais favorável e que os múltiplos das companhias estão muito descontados.

O índice CRB, que acompanha a variação dos preços das commodities, acumula queda de 13,51% desde o pico, em 9 de junho, mas ainda sobe 23,1% no ano, até 8 de julho.

A queda foi maior em metais, com o índice CRB que acompanha o desempenho desses ativos recuando 25,34% em um mês e 17,03%, no ano até 8 de julho. O índice CRB de commodities agrícolas, por sua vez, cai 14,25% em um mês e acumula desvalorização de 3,15% em 2022.

Com baixa menos expressiva, o preço do petróleo acumula queda de 7,46% desde junho, com o preço do barril tipo Brent chegando a negociar abaixo de US$ 100 nesta semana, no menor patamar desde 15 de março.

Nesse contexto, a gestora Ibiuna Investimentos zerou a exposição comprada (apostando na alta) em petróleo no mercado futuro, conforme informou em relatório de julho. A SPX Capital já tinha zerado a posição em commodities desde junho.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

Já a Kinea Investimentos reduziu a posição em commodities, mas mantém uma visão ainda otimista para o setor de energia e mantém posição comprada em petróleo e milho no mercado futuro e uma alocação menor em ações de empresas do setor de petróleo no Brasil.

“O petróleo passou por uma correção recente, mas a visão estrutural para a commodity não mudou, dado que a oferta continua apertada e não é uma recessão de dois trimestres que vai afetar a demanda”, diz Ruy Alves, gestor responsável pela estratégia macro da Kinea.

Novas previsões para o petróleo

O banco UBS revisou a projeção para o preço do petróleo de US$ 95 para US$ 104 o barril neste ano, e de US$ 85 para US$ 95 em 2023. “As mudanças conduzidas principalmente por interrupções contínuas de fornecimento apertaram ainda mais o mercado, enquanto a demanda continua a se manter”, destacou o banco, em relatório divulgado em 7 de julho.

O UBS vê uma queda da oferta de petróleo no fim de 2022 e no início de 2023, à medida que o embargo da União Europeia ao petróleo e a produtos russos é implementado gradualmente.

Já o Citi trabalha com um cenário mais provável de barril a US$ 85, mas vê chance de o preço cair para US$ 65 se uma recessão global se confirmar. E o JP Morgan vê a possibilidade de o preço atingir um pico de US$ 380 o barril, se a Rússia reduzir a produção em função do embargo colocado pelo G7.

Em meio ao aumento de preocupação com a queda da atividade mundial, a Occam Brasil também reduziu a posição em ações do setor de petróleo e aumentou a exposição a papéis do setor elétrico, principalmente em Eletrobras (ELET3).

“Apesar de visualizarmos uma relação oferta/demanda de petróleo apertada no curto prazo, o maior temor de desaceleração econômica nos levou a reduzir nossas posições no setor de energia”, apontou a gestora, na carta de julho.

A Occam tem preferido concentrar a carteira em setores mais defensivos, como elétrico, bancário e de energia.

A 3R investimentos também reduziu a posição em ações de petróleo, principalmente em Petrobras (PETR4), após os ruídos sobre a troca de presidente. “Apesar de vermos uma oferta e demanda mais equilibrada no setor de petróleo, o risco, com a aproximação da eleição e a chance de o Lula ganhar, não valia a pena”, diz Tomás Awad, sócio-fundador da gestora.

Awad tem uma visão mais pessimista para o setor de commodities na Bolsa, vendo uma ajuste da economia chinesa, que deve passar por uma desaceleração e afetar a cadeia de produção de aço. “De maneira geral, somos céticos com commodities e estamos vendidos [apostando na queda] em Vale [VALE3]”, diz.

A 3R tem preferido a alocação em setores mais resilientes em um cenário de recessão, como de consumo básico. Nesse gupo, estão empresas de varejo alimentar e outras como Vulcabras (VULC3) e Hypera Pharma (HYPE3).

A Schroders, responsável pela gestão de US$ 1 trilhão no fim de 2021, já tinha reduzido a posição em commodities no segundo trimestre diante de um cenário de alta de juros global e de desaceleração da atividade econômica.

A gestora tem aumentado a posição em papéis mais defensivos da Bolsa brasileira, como de empresas que têm a receita atrelada a índices de preços como do setor elétrico, concessões de rodovias, de serviços públicos (utilities), shopping center e telecom.

“Esses setores têm uma demanda mais resiliente que os segmentos cíclicos em um cenário de recessão e oferecem alguma proteção contra a inflação”, diz João Noronha, analista de renda variável da Schroders Brasil.

Ações de mineração e petróleo ainda estão atrativas

Apesar de reduzir a posição em ações de commodities, a Schroders ainda vê os papéis do setor de mineração e de petróleo como atrativos, dados os valuations descontados das empresas.

No caso de mineração, apesar da queda do preço do minério, a gestora acredita que o balanço entre oferta e demanda é mais favorável que no caso de outras commodities, o que deve manter os preços ainda em patamares elevados.

O contrato de minério com teor de 62% de ferro negociado nos portos da China caiu 22,40% em um mês, até 8 de julho, diante de preocupações com recessão global e novas restrições na China, país que adota uma política de zero casos de Covid-19.

“No caso da Vale (VALE3), o valuation está muito atrativo mesmo com alguma correção do preço do minério de ferro”, diz Noronha.

Segundo a Ágora, os preços do minério devem continuar sustentando uma geração de caixa robusta da Vale. A casa projeta uma remuneração entre dividendos e recompra de ações de mais de 20% para os acionistas neste ano.

“Nos níveis atuais, vemos VALE3 negociando ao redor de 3,5 vezes o múltiplo EV [valor da empresa]/Ebitda para 2023, ante o nível de 4,5 vezes que consideraríamos justos para este momento do ciclo”, apontou a corretora, em relatório de 4 de julho.

Já a gestora Grimper Capital prefere a alocação em ações da Gerdau (GGBR4) às da Vale, dado que a empresa tem uma operação mais diversificada, com atuação tanto no mercado doméstico quanto externo, defende Sylvio Castro, sócio-fundador e diretor de investimentos.

A Grimper também está com posições compradas no setor de petróleo e gás na Bolsa brasileira, inclusive Petrobras. “No nível que as empresas brasileiras estão negociando na Bolsa, já está precificado o pior cenário. Agora é esperar as companhias mostrarem bons resultados”, diz Castro.

No caso de petróleo, a Schroders vê o setor na Bolsa brasileira também com valuations muito atrativos, com a Petrobras (PETR3) negociando no menor múltiplo EV/Ebitda dos últimos 15 anos, de 2,1 vezes. Quanto menor esse indicador, mais barata está a empresa.

A estatal ainda deve pagar um dividend yield (rendimento com dividendos) da ordem de 41,7% anuais em 2022, o que a torna a maior pagadora de dividendos da Bolsa.

Na avaliação de analistas do Itaú BBA, a ação está barata, mesmo considerado o cenário “mais catastrófico” com o ano eleitoral e a volatilidade que o papel pode atravessar até o fim de 2022.

Além disso, essas companhias devem se beneficiar de um cenário de dólar mais alto, que ajuda a compensar, em parte, a queda no preços das commodities.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.