Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Petrobras: o que os candidatos à Presidência defendem e o que tira o sono de investidores hoje

Boa parte do risco de ingerência política já está refletida no preço das ações, que negociam com desconto em relação aos pares

Foto: Shutterstock

Após a privatização da Eletrobras (ELET3), os olhos dos investidores se voltam agora para outra estatal. Quarta maior produtora de petróleo do mundo e a maior empresa em valor de mercado na Bolsa brasileira, o destino da Petrobras (PETR4) vai depender do direcionamento do próximo governo.

Embora boa parte do risco de ingerência política na empresa já esteja refletido no preço das ações, que negociam inclusive abaixo do múltiplo da estatal de petróleo argentina, a retomada de investimentos menos rentáveis em refinarias em um novo governo preocupa por conta da eventual pressão de baixa sobre os papéis, em meio à avaliação de que a empresa reduziria o pagamento de dividendos.

“O medo do mercado é o de repetir investimentos que geraram prejuízo para a estatal como na refinaria Abreu e Lima [investimento realizado durante o governo do PT]”, diz Rodrigo Boselli, gestor e sócio da 3R Investimentos.

A gestora reduziu a posição em ações da Petrobras recentemente diante do risco de volatilidade durante a eleição, mas mantém posição na empresa dado o múltiplo muito baixo em comparação aos pares.

“A Petrobras negocia com o menor múltiplo EV [valor da empresa]/Ebitda dos últimos 15 anos, mesmo sendo a petroleira com maior retorno sobre o capital, um nível pior que durante o escândalo do “Petrolão”, na crise de 2008 e 2009 e na greve dos caminhoneiros [em 2018]”, afirma Boselli.

Segundo Paula Athanassakis, analista de ações da RPS Capital, a petroleira negocia com um desconto de 50% em relação aos pares internacionais, porém, dadas as incertezas da eleição presidencial, é difícil saber se todo o risco político já está precificado.

A analista vê um potencial de alta para o papel com a vitória de um candidato da terceira via ou reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Confira a seguir o que pensam os quatro principais candidatos à Presidência da República sobre a Petrobras no que diz respeito à privatização, à defesa de investimentos em refino e à política de preços.

Fonte: Candidatos em pronunciamentos.
Candidato Privatização da Petrobras Investimentos em refino Mudança na política de preço de paridade internacional
Jair Bolsonaro (PL)  A favor Contra (segue plano de venda de refinarias) A favor
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) Contra A favor A favor
Ciro Gomes (PDT) Contra A favor A favor
Simone Tebet (MDB) Contra A favor Contra

Em 30 de maio, o  ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, pediu formalmente ao Ministério da Economia a inclusão da Petrobras e da Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), estatal que gere a comercialização do petróleo extraído no pré-sal, em uma lista de estudos para possível privatização.

Ainda que o caminho para uma possível privatização seja longo e demande o aval do Congresso e a aprovação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), gestores afirmam que a venda do controle da empresa pelo governo ainda não está no preço do papel.

“Se sair, poderá ser um trigger [gatilho] de alta para o papel, mas não será fácil”, diz Boselli, da 3R.

Com exceção de Bolsonaro, os três candidatos à frente na corrida eleitoral já se manifestaram contra a privatização da estatal.

O PT destacou em seu plano de governo que se opõe à privatização da empresa e da PPSA. “A Petrobras será colocada de novo a serviço do povo brasileiro e não dos grandes acionistas estrangeiros, ampliando nossa capacidade de produzir os derivados de petróleo necessários para o povo brasileiro, expandindo a oferta de gás natural e a integração com a petroquímica, fertilizantes e biocombustíveis”, destacou o PT, no documento.

Simone Tebet, candidata do MDB, vista como a opção da chamada “terceira via”, também se declarou contra a privatização em seu governo.

“Sou contra a privatização da Petrobras. Pode haver subsidiárias e setores da Petrobras privatizados, como já tem. Mas neste momento em que mesmo estatal ela não consegue conter a alta, se não fizermos o dever de casa em relação ao refino, não dá para falar em privatizar uma estatal que está dando lucro. Vamos com calma. Tem muitas outras estatais para serem privatizadas. São critérios básicos: entre as deficitárias quais não são estratégicas?”, declarou Tebet, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 11 de junho.

O candidato Ciro Gomes também tem se manifestado contra a privatização da estatal. “Nenhum país do mundo que tem autossuficiência em petróleo entregou sua companhia de petróleo ao capital privado, e muito menos ao capital estrangeiro”, falou o presidenciável em palestra na Câmara Municipal de Fortaleza, em 30 de maio.

Mudança na política de preços

Embora tenha destacado que não pretende “tabelar” os preços da gasolina e do diesel vendidos pela Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro afirmou em pronunciamento à imprensa na última segunda-feira (13) que há margem para mudar o Preço de Paridade Internacional (PPI).

Adotado pela estatal no governo de Michel Temer em 2016, o PPI determina o valor de venda a partir do preço do petróleo praticado no mercado externo.

“O PPI não é uma lei, é uma resolução do conselho [de administração da Petrobras]. Se o conselho achar que tem de mudar, muda, mas a população como um todo não pode sofrer essa barbaridade, porque atrelado ao preço do combustível está a inflação e o poder aquisitivo da população está lá embaixo”, declarou Bolsonaro, em 15 de maio.

A alta do preço do petróleo, cujo barril do tipo Brent já subiu 53% neste ano, tem levado ao aumento dos preços dos combustíveis no Brasil e pressionado a inflação.

Para tentar minimizar esse impacto, o Senado aprovou, em 13 de junho, o projeto que cria um teto para a cobrança de ICMS pelos estados para combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público, limitado a 17% do valor total em imposto. O projeto agora segue para a Câmara.

“A solução via subsídio piora o quadro fiscal ao furar o teto de gastos, o que tem impacto na alta do dólar”, diz Boselli, explicando que a medida pode obrigar a empresa a subir mais os preços dos combustíveis, que são cotados em dólar.

Se o governo não respeitar a paridade de preços, há ainda risco de desabastecimento no mercado de diesel, alerta o gestor, uma vez que as empresas podem não querer importar a commodity por falta de previsibilidade de preços.

Também candidatos à Presidência, Ciro Gomes (PDT) e Lula têm se manifestado contra a adoção do PPI. “O preço não precisa ser um preço de paridade de importação. O preço pode ser em função da nossa realidade, e é isso que vamos fazer”, declarou Lula em entrevista à Rádio Jornal de Pernambuco, em 29 de abril.

Em entrevista à CNN em 28 de março, Ciro afirmou que publicaria em seu governo um edital para substituir a atual política de equiparação do preço internacional por uma de custo “transparentemente controlado inclusive pelo acionista minoritário”.

Já a candidata do MDB defendeu que acabar com o PPI traria mais problemas do que soluções. “A última coisa que a gente pode pensar é em acabar com a paridade de preços”, disse Tebet, durante sabatina promovida pelo jornal Correio Braziliense em 31 de maio.

A senadora defendeu que é possível tomar ações com efeito imediato para reduzir os preços dos combustíveis, como a criação de “créditos extraordinários”.

Para a analista da RPS, o principal risco de curto prazo para as ações da Petrobras reside numa eventual mudança do estatuto e uma nova política de preços.

“Se pudéssemos saber que em 2023 o estatuto se manteria, independentemente do barulho com o resultado da eleição e de pressões políticas e sociais, a empresa estaria extremamente barata dado o nível de caixa gerado”, assinala Athanassakis.

Investimento em refino

A grande preocupação do mercado hoje está na retomada de investimentos pouco lucrativos na área de refino, que reduzem o lucro da Petrobras e o montante de dividendos a distribuir para os acionistas, inclusive para o governo.

O Brasil importa cerca de 30% do diesel consumido no país. Ciro e Lula defendem que a Petrobras retome os investimentos em refinarias para evitar que o Brasil faça a importação de derivados do petróleo e os preços deixem de ser dolarizados.

Tebet defende que é preciso uma política nacional estratégica para fazer com que a Petrobras seja autossuficiente na produção e no refino, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em 11 de junho.

A Petrobras incluiu no plano de desinvestimento, em 2019, a venda de oito refinarias. Dessas, a estatal concluiu a venda de duas: a Refinaria de Mataripe (ex-Rlam), na Bahia, para o fundo Mubadala, e a Lubnor, no Ceará, negociada com a Grepar Participações.

“Se outro governo quiser mudar isso terá que buscar um acordo com o Cade”, diz Boselli, já que o plano foi incluído em Termo de Compromisso de Cessação de Conduta com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica.

Um gestor de ações disse acreditar que, se Bolsonaro for reeleito, o preço do papel da Petrobras pode subir, dado que a política de desinvestimento em refinarias será mantida, o que tem garantido lucro extra para a estatal e permitido um dividend yield (rendimento com dividendos) que deve passar de 30% neste ano.

Para Carlos Eduardo Rocha, sócio e CIO da gestora Occam, apesar das ingerências recentes do atual governo na empresa, o pior cenário seria a volta dos investimentos em refinarias.

“Há candidatos que defendem voltar a investir em refinarias, se isso acontecer, terá capacidade para destruir valor da empresa”, disse em entrevista à Agência TradeMap em 25 de maio.

Autonomia da estatal

Apesar das propostas dos candidatos, o espaço para interferência do governo na gestão da estatal hoje é mais limitado.

O Estatuto da Petrobras e a Lei das Estatais [Lei 13.303/2016] estabelecem regras para a indicação de nomes para a estatal, como a exigência de que os membros da diretoria executiva tenham dez anos de experiência na área de atuação da estatal.

Além disso, pelo estatuto da Petrobras, o governo tem que indenizar a estatal por eventuais prejuízos que ela venha a ter por conta da mudança na política de preços.

Para alterar a política de preços da estatal o governo teria que trocar os membros do conselho, do qual tem a maioria dos 11 assentos.

O governo indicou oito nomes para o conselho, inclusive com a substituição do atual presidente, José Mauro Ferreira Coelho, por Caio Paes de Andrade, o terceiro indicado neste ano. O executivo precisa ser aprovado em assembleia geral extraordinária, ainda não convocada.

“Vemos uma piora importante na qualidade da composição do conselho proposto pelo governo, uma vez que alguns membros não têm experiência no setor”, observa Boselli.

Troca de comando já está no preço do papel

Para Rafael Cintra, analista de ações da gestora Forpus Capital, boa parte do risco de troca do comando da empresa já está refletido no preço da Petrobras, cuja ação negocia a três vezes o múltiplo pelo critério preço/lucro.

A gestora mantém a posição em ações da estatal na carteira como parte da estratégia da alocação em commodities.

“Essa mudança no conselho está precificada, mas pode haver algum downside [queda] dependendo da troca de diretoria”, diz Athanassakis.

⇨ Quer conferir quais são as recomendações de analistas para as empresas da Bolsa? Inscreva-se no TradeMap!

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.