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Ata do Fed dá o recado: objetivo é conter a inflação, mesmo que às custas de crescimento

Para analistas, cenário para preços pode ter mudado da reunião para cá, com queda nas cotações de commodities

Foto: Shutterstock

Divulgada nesta quarta-feira (6), a ata da última reunião do Fomc, comitê de política monetária do Federal Reserve, deu o recado com todas as letras: o foco atual do banco central dos Estados Unidos é conter a maior inflação em quatro décadas, e ele agirá para isso mesmo que o aperto nos juros e o enxugamento da liquidez cobrem o seu preço na forma de menos crescimento.

No encontro, que aconteceu há três semanas, o colegiado aumentou o ritmo de alta da taxa básica americana para 0,75 ponto percentual, levando os juros ao intervalo entre 1,50% a 1,75%. O documento de hoje mostrou que os membros do Fomc acreditam que um aumento de 0,50 ponto ou 0,75 ponto “provavelmente” é adequado na próxima reunião, em 26 e 27 de julho.

“Os participantes reconheceram que o endurecimento da política monetária poderia deixar o ritmo do crescimento econômico mais lento por um tempo, mas encaram o retorno da inflação a 2% [que é a meta para a alta de preços no país] como crítico para atingir o pleno emprego em uma base sustentada”, afirmou o documento.

Apesar de a ata ter sido considerada bastante hawkish (ou seja, trouxe um tom mais propenso ao endurecimento da política monetária), a maior parte dos analistas ressaltou que o documento é um retrato de quase um mês atrás. De lá para cá, houve uma queda forte nas cotações das commodities e sinais de que a economia global já está crescendo menos.

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“Muita coisa mudou ao longo das últimas semanas, com uma ampla gama de preços de commodities caindo com força, enquanto aumenta o medo de uma redução mais significativa no crescimento da economia global”, afirmou Paul Ashworth, economista-chefe para Estados Unidos da consultoria Capital Economics, em relatório.

Em outras palavras, as condições existentes hoje no mercado são diferentes daquelas da reunião do Fomc, deixando o mercado na dependência dos próximos dados de emprego e de inflação para novos ajustes nas perspectivas para os juros.

Na próxima sexta-feira (8), por exemplo, sai o payroll de junho, que é o relatório com números sobre a criação de vagas e taxa de desemprego americana. E na semana que vem, é a vez da divulgação do CPI (índice de inflação ao consumidor) de junho.

Por enquanto, o tom duro da ata não deixou muitas dúvidas no mercado: de acordo com dados do CME Group, 93,9% dos investidores acreditam em alta de 0,75 ponto na próxima reunião.

“O cenário pode ter mudado um pouco. É uma ata da reunião do dia 15 de julho, e naquele momento estavam vendo uma inflação muito alta”, pondera a economista Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank. “Mas de qualquer forma, acreditamos que o Fed subirá os juros em mais 0,75 ponto na próxima reunião. A ata deixou muito claro que o objetivo é levar a inflação a 2%.”

Para o economista da Capital Economics, a pergunta que fica é se os membros do Fed veem o mesmo cenário hoje. “O CPI [índice de preços ao consumidor, que será divulgado na semana que vem] de junho ainda irá mostrar uma forte alta nos preços por causa da energia, mas toda essa alta provavelmente será revertida em julho”, considerou.

Foco na inflação

Foi a primeira vez que o Fed elevou a taxa nessa dose desde novembro de 1994, ainda durante a era de Alan Greenspan. O atual ciclo de aperto monetário começou em março deste ano, quando a taxa básica do país foi elevada em 0,25 ponto, ao intervalo de 0,25% e 0,50%, por causa das pressões inflacionárias intensificadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia.

Na avaliação de Lucas Zaniboni, economista da Garde, a ata do Fomc mostrou o quanto o Fed está comprometido com reduzir a inflação – o banco central tem duplo mandato: controlar preços e também promover o pleno emprego.

“O Fomc parece ter uma barra muito alta para desacelerar os juros. Ficou claro que a atividade tem que dar mais sinais de desaceleração para mudar o rumo do Fed”, apontou. “A ata deixou claro que o Fed ainda acredita em soft landing [ou seja, que a economia americana pode reduzir o ritmo de forma controlada]. Porém, se no futuro próximo o Fed tiver que escolher entre recessão ou inflação sob controle, escolherá o segundo.”

Ele destacou ainda que o documento mostra muita preocupação com a força do mercado de trabalho americano, que ainda não dá sinais de desaceleração. “Esse pilar da economia ainda está super resiliente, sem dar sinais fortes de desaceleração.”

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