Balde de água fria: Powell sinaliza alta de juros menor, mas por mais tempo

Ontem, o Federal Reserve, banco central dos EUA, elevou a taxa básica em 0,75 ponto percentual

Foto: Shutterstock/Domenico Fornas

O Federal Reserve cumpriu o roteiro imaginado pelo mercado ontem, ao elevar os juros americanos em 0,75 ponto porcentual e indicar uma desaceleração no ritmo de alta das taxas a partir das próximas reuniões. Meia hora depois da decisão, contudo, o presidente do BC dos EUA, Jerome Powell, surpreendeu os investidores e jogou um balde de água fria no otimismo do mercado.

Em resumo, Powell afirmou que o mais importante agora não é pensar no ritmo de aumento, mas sim no nível final das taxas dos fed funds, os juros americanos. Disse ainda que o limite para o final do ciclo de alta aumentou desde a reunião anterior do Fed, e ficou mais perto de 5% do que dos 4,6% sinalizados da última vez.

O Federal Reserve atualiza sua projeção para a taxa terminal de três em três meses. No encontro de dezembro, a autoridade monetária da maior economia do mundo revelará a sua projeção atualizada, e Powell sinalizou que esta provavelmente virá mais perto do que o mercado financeiro projeta na curva de juros – atualmente, essa expectativa é de 4,95%.

“A questão da velocidade torna-se menos relevante na medida em que as taxas vão para território restritivo”, declarou ele. “Está chegando o tempo do ritmo moderado de altas. A decisão pode ser numa próxima reunião ou em uma depois”, completou, abrindo a chance de a desaceleração para aumentos de 0,50 ponto acontecer somente em janeiro.

Ainda sem sinal de final do ciclo

Powell ainda afirmou que não é possível vislumbrar o final do ciclo atual de aperto, que tem como objetivo combater a maior alta de preços em quatro décadas. Em outras palavras, indicou que o ritmo de alta de juros vai desacelerar, mas que o processo de elevação das taxas americanas pode durar mais tempo.

As bolsas gringas, que haviam subido logo após a decisão, passaram a cair, e se mantém pessimistas na manhã desta quinta (3). Por volta das 11h30, o Dow Jones caía 1,09%, o S&P 500 recuava 1,44% e o Nasdaq tombava 1,74%.

As apostas em um novo aumento de 0,75 ponto nos juros em dezembro aumentaram – a probabilidade agora é de 52,8%, segundo dados do CME Group. Ontem estava em 42,2%, e na semana passada em 34,1%.

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“Foi curioso, porque assim que o resultado da reunião de ontem saiu, às 15h, o Fed foi dove [termo de política monetária que indica um banco central mais leniente com a inflação]”, aponta o economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont. “O juro fechou, a bolsa subiu, e o dólar caiu contra todas as moedas. Meia hora depois, Powell foi para a outra ponta, passando uma mensagem hawkish [mais dura com a inflação.”

O especialista lembra que a curva de juros americana mostra aumento até março, e a taxa parada pelo menos até outubro. “Existe uma discussão que via chance de corte já nas últimas reuniões de 2023”, afirma.

Essa possibilidade ficou menor após a fala de Powell de que não é possível vislumbrar o final do ciclo. Os investidores aguardam agora a divulgação, nesta sexta (4) às 9h30, da taxa de desemprego e ganho médio por hora dos americanos em outubro.

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