Depois de começarem o pregão com altas tímidas, os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos sobem mais de 2% perto do fechamento do pregão desta sexta-feira (28).
Mas o que está deixando o mercado animado no final de uma semana em que os resultados de várias grandes empresas decepcionaram os investidores?
A resposta é curta: mudanças na expectativa sobre a trajetória de juros dos EUA. Mas a explicação sobre o que alterou a percepção do mercado é longa.
Na quarta-feira (2), o Federal Reserve, banco central americano, vai anunciar sua decisão sobre os juros. A previsão da maioria dos especialistas é de que as taxas vão subir 0,75 ponto porcentual, para a faixa de 3,75% a 4,00% ao ano. Até aí, nada de novo.
Os investidores, porém, estão olhando um pouco mais à frente, para a decisão que o Fed precisará anunciar no início de dezembro.
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Entre a reunião de novembro e a de dezembro, o banco central americano terá um conjunto de dados maior que o de costume para analisar. Serão publicados números sobre a evolução da inflação e do emprego referentes tanto a outubro quanto a novembro. Em geral, entre as reuniões da instituição, os números disponíveis tratam apenas de um único mês.
“O Fed vai ter um tempo para se esticar e ver o quão impactante foram as altas de juros agressivas feitas até agora”, disse o diretor de investimentos da Raymond James, Larry Adam, em um relatório, acrescentando que há motivos para acreditar que, no final do ano, os juros passarão a subir com menos intensidade.
Primeiro, várias autoridades do banco central americano expressaram recentemente que é preciso tomar cuidado para não exagerar na dose de alta dos juros, principalmente porque há um atraso entre o aumento das taxas e o efeito disso na economia.
Os comentários mais recentes sobre isso vieram da presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly. Nesta semana, ela disse que era hora de “começar a falar sobre diminuir o ritmo” de alta dos juros. Antes, um dos diretores do Fed, Chris Waller, tinha feito comentários semelhantes.
Em segundo lugar, várias empresas que reportaram balanço divulgaram que veem desaceleração nas vendas e que estão mais cautelosas na hora de contratar – o que, neste momento, é uma vitória para o Fed.
Menos vendas equivalem a um sinal de redução na demanda, e isso é o que o banco central precisa para enfraquecer a inflação. A oferta menor de empregos também colabora com este objetivo, ao reduzir a pressão por aumentos salariais.
Para o mercado de ações, a desaceleração na alta de juros é positiva. Quando as taxas sobem, o lucro das empresas tende a diminuir, seja porque a medida tende a diminuir o consumo – e as vendas -, seja porque as taxas maiores elevam as despesas financeiras das companhias.
Mas nem todos no mercado acreditam numa mudança de postura do Fed. O UBS, por exemplo, acha que os investidores estão desprezando o quão aquecido está o mercado de trabalho americano e o nível elevado da inflação nos Estados Unidos.
“Continuamos achando que ainda é cedo demais para esperar que o Fed sinalize uma mudança de postura. As condições para um piso no mercado de ações, entre elas o corte dos juros e o fundo do poço na economia ainda precisam aparecer no horizonte”, acrescentou o banco.
Hoje, no entanto, o mercado prefere olhar o copo meio cheio. Por volta das 16h30, o índice Dow Jones subia 2,54%, e o S&P 500 tinha alta de 2,38%. O Nasdaq Composto subia 2,75%.