Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

Volatilidade causada por crise entre Rússia e Ucrânia pode demorar meses; saiba como proteger sua carteira

Commodities e títulos atrelados à inflação são considerados opções defensivas

Apesar dos esforços diplomáticos para se evitar um conflito armado, a crise entre Rússia e Ucrânia pode provocar meses de volatilidade nos mercados. Em um cenário em que a chance de guerra ainda não está totalmente precificada, a busca por posições mais defensivas pode ajudar os investidores a proteger seus portfólios de uma escalada ainda maior das tensões.

A Rússia está aumentando o número de tropas na fronteira com a Ucrânia desde abril do ano passado, alimentando receios de eventualmente invadirá o país vizinho. Há pouco mais de uma semana, porém, estas preocupações cresceram, depois de os Estados Unidos alertarem que um conflito armado poderia começar a qualquer momento.

Ontem, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, fez um pronunciamento em que criticou duramente a Ucrânia e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Além disso, anunciou que a Rússia reconheceria a independência de dois estados separatistas da Ucrânia – Donetsk and Luhansk -, aumentando a tensão entre os dois países.

Posteriormente, Putin ordenou o envio de tropas russas às regiões independentes, sob a justificativa de manter a ordem naqueles locais.

O comissário da União Europeia para Relações Exteriores, Josep Borrell Fontelles, classificou as decisões de Putin como agressão à Ucrânia e “uma violação de sua integridade territorial e soberania”. Também pediu uma reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas para discutir o assunto.

Os Estados Unidos reagiram à decisão de Putin proibindo investimentos, comércio e financiamento americanos às regiões separatistas, e ressaltaram que estas sanções “diferem das ágeis e severas medidas econômicas que estamos preparados a lançar com aliados e parceiros em resposta a uma invasão adicional da Rússia à Ucrânia.”

Até então, os investidores aguardavam uma reunião do secretário de Estado americano, Antony Blinken, e do ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Lavrov, no dia 24 de fevereiro, para verificar se haveria novas sinalizações sobre o avanço de uma solução diplomática para o conflito.

Com o avanço das tropas russas sobre o território ucraniano, ainda não está claro se a reunião acontecerá. Blinken chegou a dizer ontem de manhã à CNN que o encontro aconteceria somente se os russos não invadissem a Ucrânia. Hoje de madrugada, porém, Blinken disse em sua conta oficial no Twitter que a decisão da Rússia de reconhecer a independência dos dois estados separatistas da Ucrânia era “previsível” e condenável. Ele não mencionou se a reunião com Lavrov ainda estava de pé.

Como o mercado vê a situação

“Acreditamos que ambos os lados irão, em última análise, calcular que o conflito militar tem um custo econômico e político muito alto para valer a pena”, diz o UBS em relatório.

Enquanto não se resolve esse impasse, a volatilidade pode se prolongar, afirma Roberto Attuch Jr., fundador e CEO da OhmResearch. “É cenário onde não tem guerra nem paz”, resume.

Para Attuch, todos os atores possuem algum incentivo para fechar acordo.

“A Rússia quer a garantia de que a Ucrânia não fará parte da Otan [Organização do Tratado do Atlântico Norte]. Se vier a fazer parte, vai arrastar a Ucrânia para uma guerra que ninguém quer. Já o presidente da França, Emmanuel Macron, precisa de uma vitória diplomática para se reeleger na França, enquanto a Alemanha está mais relutante a impor sanções à Rússia porque precisa de energia barata”, aponta.

Risco para a inflação

Impor sanções à Rússia no caso de uma escalada do conflito não seria interessante para nenhum país, já que poderia elevar o preço do petróleo entre US$ 120 e US$ 150, pressionando ainda mais a inflação e o preço de outras commodities agrícolas, afirma Attuch.

“A Rússia é o maior exportador de trigo e de matéria-prima para fazer fertilizantes. Os preços dos alimentos já estão perto da máxima histórica, e um aumento de preços pode provocar tensão social. Por isso, todo mundo tem interesse em uma desescalada do conflito”, diz.

Em caso de guerra, sanções mais rígidas do Ocidente prejudicariam seriamente as perspectivas de crescimento de longo prazo da Rússia. A União Europeia também sofreria consequências consideráveis, dado que a energia russa representa quase 40% da importação de gás para a região e 30% das compras de petróleo, aponta o UBS.

O banco vê como improvável que os fluxos de energia sejam significativamente interrompidos mesmo no caso de uma invasão militar, uma vez que a interrupção prolongada das exportações de energia para a Europa prejudicaria significativamente a economia russa.

Como se posicionar se o conflito piorar

Em um cenário em que a crise ainda pode durar meses, analistas e gestores recomendam ter uma posição mais defensiva na carteira. A principal preocupação é com um cenário de inflação maior, com os preços de commodities mais elevados.

Isso poderia levar o banco central americano, o Federal Reserve, a ter que intensificar mais a alta da taxa de juros, com impacto para crescimento e para o fluxo de recursos para mercados emergentes como o Brasil. “A inflação pode ficar mais alta não só em 2022, mas também em 2023”, diz Maurício Une, economista-chefe do Rabobank para a América do Sul.

Ele lembra ainda que a imposição de sanções à Rússia pode elevar o preço não só do petróleo, mas de commodities agrícolas como trigo e milho, com impacto também em fertilizantes. Esse cenário pode afetar o preço das carnes e aumentar a pressão inflacionária no Brasil.

O banco prevê uma inflação de 5,1% neste ano, com a taxa Selic alcançando 12,25% já em maio. “Se a gente tiver um cenário mais adverso, um eventual ajuste da Selic ainda pode ser necessário no segundo trimestre, mas a gente precisa ver a evolução da dinâmica do conflito”, diz Une.

Títulos atrelados à inflação

Ter uma posição em títulos públicos indexados à inflação faz sentido como proteção da carteira, avalia Tomás Awad, sócio-fundador da 3R Investimentos.

Para quem não tem exposição a dólar, Awad vê oportunidade de ter uma alocação na moeda americana como uma estratégia defensiva para a carteira. “O dólar está perto de R$ 5, é uma boa hora para comprar a moeda americana”, afirma.

O cenário de estagflação (inflação alta com crescimento baixo) é favorável ao ouro, que já acumula alta de 4,33% neste ano até 21 de fevereiro, aponta Attuch.

A Rússia é um dos maiores produtores de ouro, responsável por cerca de 9% da produção mundial . Em caso de interrupção de oferta, seja por parada de produção ou por sanções, o preço da commodity metálica pode subir, diz um gestor de fundo de uma grande casa, com cerca de R$ 23 bilhões sob gestão.

A Ohmresearch ainda está otimista com algumas commodities que se beneficiam da transição energética, como cobre e lítio, usados na fabricação de carros elétricos, e urânio para a geração de energia nuclear.

O banco UBS também recomenda a alocação em commodities como proteção para a carteira. “Os preços da energia provavelmente subiriam no caso de uma escalada na situação, e independentemente da situação na Ucrânia, esperamos que os preços do petróleo subam ainda mais este ano graças ao aumento da demanda e oferta um pouco restrita”, diz o banco em relatório.

O time de analistas do Rabobank espera que em um cenário de escalada do conflito, sem sanções impostas à Rússia, o preço do barril do petróleo ultrapasse US$ 120. No ano, o preço do barril de petróleo tipo Brent acumula alta de 16,45%, sendo cotado a US$ 92,45 em 21 de fevereiro.

O preço da commodity ainda vai depender do acordo entre Estados Unidos e Irã. O Irã produz um milhão de barris de petróleo por dia e um acordo com os americanos sobre controle de armas nucleares pode levar a um aumento da oferta. Mas o impacto disso nos preços vai depender de a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) manter ou não a produção atual, afirma o gestor de uma grande casa.

Hedge em ativos no exterior

A alocação em ativos no exterior, além de oferecer uma diversificação geográfica, continua sendo uma opção de hedge para a carteira, afirma Attuch.

Nesse sentido, ele vê o mercado acionário na China, principalmente no setor de tecnologia, como mais interessante que as bolsas americanas, que têm sofrido com a migração dos investidores de empresas de crescimento para ações de valor , como commodities e bancos, em mercados como o do Brasil.

“Dos grandes países, o mercado que está mais barato hoje é a China. O país tem espaço para fazer mais estímulos, tanto fiscais como monetários, e todo mundo que tinha motivo para vender China já vendeu”, pondera.

Apesar da volatilidade recente, o UBS ainda vê potencial de alta para os mercados de ações ao longo do ano, dada a perspectiva de crescimento robusto e aumento dos lucros das empresas.

“Embora algumas de nossas recomendações táticas, como nossa preferência por ações da Zona do Euro, possam sofrer em caso de uma escalada militar, setores como energia e finanças, ações de valor e commodities estão ambos posicionados para se beneficiar de um crescimento econômico robusto e estão relativamente bem isolados dos riscos primários de mercado”, apontou o banco.

O economista-chefe do Rabobank lembra que no curto prazo ainda pode haver a continuidade do fluxo de recursos para o Brasil, mas a partir do momento que houver um aumento das taxas de juros americanas e redução da diferença em relação à Selic [taxa básica brasileira], esse fluxo tende a diminuir.

“É claro que se a situação em relação ao conflito ficar muito ruim, o investidor vai preferir migrar os recursos para ativos considerados porto seguro, como os títulos do Tesouro americano“, diz Awad.

Por outro lado, uma solução para o conflito pode trazer um alívio para os mercados, podendo trazer um rali dos ativos no curto prazo. “Se passar muito tempo e não tiver nada radical, tem chance de os mercados se recuperarem”, diz Attuch.

Cadastre-se na plataforma do TradeMap aqui e acompanhe gratuitamente a cotação dos ativos internacionais da sua carteira.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.