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BC ainda depende de inflação, Fed e fiscal para decidir o fim do atual ciclo de altas da Selic

Apesar de ter sinalizado o início do fim do atual ciclo de aperto monetário, que começou em março de 2021, quando a taxa Selic estava em 2% ao ano, o Banco Central ainda depende de muitos fatores para decidir a magnitude das próximas altas e por quantas reuniões ainda elevará os juros.

Essa é a avaliação de economistas ouvidos pela Agência TradeMap sobre o comunicado da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC) desta quarta-feira (2), que elevou a taxa em mais 1,5 ponto percentual, a 10,75%, maior patamar desde 2017.

No texto, o Comitê sinalizou a redução do atual ritmo de alta de 1,5 ponto percentual da taxa Selic. Entretanto, o mercado se mantém dividido sobre os próximos passos — as projeções para a alta da Selic na próxima reunião de março vão de elevação de 0,75 p.p a 1,25 p.p.

Para o economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, a queda do dólar em janeiro –lembrando que a cotação da moeda americana tem impacto na inflação– não necessariamente se manterá ao longo de 2022.

“O que aconteceu em janeiro deve ser visto com cautela. Acho difícil o dólar se manter no patamar atual com a alta dos juros pelo Federal Reserve [banco central dos EUA]. Os preços não continuarão como estão”.

Boa parte dos economistas acreditava que o BC deixaria em aberto os próximos passos. “Essa redução agora será de 1,25 p.p ou 1 p.p? Menos do que isso acho improvável”, avalia Carlos Kawall, diretor da Asa Investments e ex-secretário do Tesouro.

Para ele, se o BC optar por reduzir o ritmo para 1 p.p, é provável que estenda o ciclo de aperto monetário até maio, com mais uma alta de 0,50 p.p. “Nosso cenário é uma taxa Selic entre 12% e 12,25% no fim do ciclo”, diz.

Ivo Chermont, economista-chefe e sócio da Quantitas Asset, avalia que o Copom está bastante dependente de dados futuros sobre inflação. “É um comunicado em que tudo depende da projeção de cada um para a inflação”, afirmou.

Além do avanço dos preços, o ritmo de alta dependerá da política monetária do banco central americano e das surpresas fiscais, aponta o gestor de renda fixa da Macro Capital, André Madarás. “Talvez, se as condições inflacionárias permitirem, é provável aumento de 1 p.p da Selic na próxima reunião e mais 0,5 p.p em maio, terminando o ciclo com a taxa básica em 12,25%”, diz Madarás.

O gestor destaca que a inflação ainda está bastante preocupante, com núcleos de inflação altos e bastante disseminada.

Kawall ressalta que a reunião de maio é a última que pode ter algum efeito sobre as expectativas de inflação para 2022. Depois disso, ele passa a mirar mais as expectativas para 2023.

É a mesma avaliação do economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo, para quem os próximos passos dependerão do balanço de riscos: atividade econômica, inflação e panorama fiscal. “No comunicado, o Copom considera que o balanço [de riscos] continua negativo”, ressaltou. “Mas se a alta das commodities for menor do que o BC estava esperando, pode haver uma surpresa positiva”.

No cenário de referência do BC, as projeções de inflação situam-se em 5,4% para 2022 acima do teto da meta para este ano, de 5%. Para 2023, a projeção do BC para a inflação encontra-se em torno de 3,2% , perto do centro da meta de 3,25%. O cenário do BC leva em conta uma alta da taxa Selic para 12% e com um primeiro corte de 0,25 p.p no fim deste ano.

Segundo Kawall, as expectativas de inflação pioraram. “O BC vinha dizendo que o câmbio poderia dar um alívio, mas os preços das commodities deram um salto forte e o balanço de riscos para a inflação está levemente negativo”, diz Kawall.

Outro risco destacado pelo BC para a inflação é o cenário da política monetária dos EUA, com o banco central americano endurecendo mais o tom do discurso, sinalizando um aperto monetário mais “célere” nos EUA.

Isso se soma a fatores de incerteza no cenário doméstico, com política fiscal a ser adotada no próximo governo e o risco de medidas populistas no ano eleitoral como o corte de impostos, que podem ter um efeito na inflação para baixo, mas trazem uma piora da perspectiva do quadro fiscal. “A incerteza política continua elevada, o BC vai ter que ser conservador”, diz Kawall, que espera uma inflação entre 5,5%e 6% neste ano.

Diante de incertezas nos mercados externo e doméstico, tanto a Asa quanto a Macro Capital não esperam um corte de juros neste ano.

Mercado de juros deve ter ajuste

O mercado de juros já refletia uma alta de 1,50 p.p da Selic para essa última reunião e mais 1,25 p.p para março e 0,5 p.p em maio segundo Madarás.

Apesar de o BC já sinalizar uma redução do ritmo de alta da taxa Selic, o gestor de renda fixa da Macro Capital acredita que o comunicado veio com tom até “hawk” (mais inclinado ao aperto monetário) com relação ao aumento da projeção da inflação para 2022 e piora do balanço de riscos. “Acho que no mercado de juros já está bem precificado o cenário apontado pelo BC no comunicado”, diz Madarás.

Para Kawall, pode haver algum ajuste para baixo das taxas de juros com prazos mais curtos, com alguns investidores que esperavam que o BC viesse com uma sinalização de uma alta de mais 1,50 p.p, reduzindo as apostas em uma Selic mais alta em março.

Já para o câmbio, tanto Kawall quando Madarás esperam que o real pode até se apreciar no curto prazo em função do fluxo de investimento estrangeiro, principalmente para bolsa, mas não deve ser um movimento sustentado no médio prazo. “O fluxo de bolsa não será eterno e há muitas incertezas sobre o ritmo de alta de juros pelo Fed, se será de 0,25 p.p ou 0,50 p.p, e se será em todas as reuniões, o que pode pressionar a taxa de câmbio”, diz.

 

 

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