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Dólar e bolsas dos EUA estão caindo em 2022: vale investir no exterior agora?

Foto: Pixabay

No final de 2021, a Bolsa brasileira parecia terra arrasada. Com o aumento do custo de capital às empresas e as perspectivas negativas para a economia, o Ibovespa caiu 11,92%, a primeira perda anual desde 2015. O dólar, por sua vez, subiu 7,36% no período, quinto ano consecutivo de valorização. 

Os múltiplos brasileiros se tornaram historicamente baixos dada a conjuntura mais difícil, enquanto os investidores no exterior nadavam de braçada. O S&P 500 disparou 27% com os incentivos monetários remanescentes e o dólar fortalecido mundo afora.

O rumo dos mercados, porém, mudou, graças à visão de que as commodities devem ter mais um ano de fortes preços e que os mercados emergentes tendem a apresentar um desempenho superior ao ano anterior. Isso somado à perspectiva de que o Fed (Federal Reserve, banco central americano) caminha para fechar a torneira da liquidez nos Estados Unidos.

Chegando ao fim do primeiro mês do ano, o S&P 500 cai quase 10%, ao passo que o Ibovespa já avança 6%. O dólar recua 2% desde o primeiro pregão de 2022 e negocia abaixo da previsão do mercado para o câmbio deste ano. 

Com as tendências aparentemente favoráveis ao Brasil, o que remete à expectativa de fortalecimento do real, a pergunta que (novamente) vem à discussão é: vale a pena investir no exterior agora?

O dólar está tão alto assim?

Um dos ventos contrários ao investimento em dólar é a possibilidade de perda com a desvalorização da moeda americana. O investidor, sobretudo iniciante, teme enviar seu capital para o exterior em meio a uma valorização do real.

O problema é que a acurácia desta previsão é ínfima. O dólar é movimentado por variáveis diversas que estão longe do controle dos investidores, como:

  • Taxa de juros nos EUA;
  • Balança comercial;
  • Gastos no exterior;
  • Risco Brasil;
  • Política fiscal;
  • Rating soberano.

Além disso, o dólar está consideravelmente longe de sua máxima histórica em termos reais. Em termos nominais, o ponto mais alto foi atingido em maio de 2020, a R$ 5,88. No intradia, em 14 de maio daquele ano, a divisa chegou a R$ 5,97.

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Entretanto, considerando o valor do dinheiro no tempo e o diferencial da inflação nos Estados Unidos e Brasil, em termos reais a maior cotação do dólar foi atingida em 22 de outubro de 2002, a R$ 3,95 – o que nos preços de hoje seria pouco acima de R$ 8. 

O mercado estava em polvorosa com a proximidade da vitória do petista Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições presidenciais daquele ano. O candidato carregava uma agenda econômica duvidosa, o que deixava os investidores com um pé atrás.

A sensação de incerteza em relação ao cenário político e de risco de rompimento com o mercado também paira sobre o mercado neste ano, que terá eleições para presidente no Brasil. 

Com a agenda de privatizações empacada em Brasília, o mercado avalia quais serão as medidas econômicas a serem adotadas a partir do ano que vem. O fato é que ainda existe espaço para o dólar subir caso o cenário seja deteriorado ainda mais. 

Aspectos conjunturais e estruturais integrantes da decisão

Quando se fala em investimento na Bolsa de Valores, inevitavelmente trata-se do longo prazo. Contudo, ao se pensar no exterior, os investidores devem considerar aspectos conjunturais e estruturais de curto e longo prazos, para fazer a melhor alocação de capital possível.

Os investidores devem responder algumas perguntas a si mesmos. A primeira delas talvez diga respeito ao cenário fiscal do Brasil.

Segundo a IFI (Instituição Fiscal Independente do Senado), o Brasil terá uma folga de R$ 36 bilhões no orçamento em 2022, mas isso custará a confiança no país.

Isso porque a folga é resultado das emendas constitucionais 113 e 114, que junto à PEC dos Precatórios mudaram o cálculo do teto de gastos, visto desde 2016 como a âncora dos gastos públicos nacionais que trazia sustentabilidade financeira do país.

A falta de confiança no Brasil tende a justificar a fuga de dólares, como tantas vezes já ocorreu por aqui, enfraquecendo o real.

No curto prazo, também é necessário pensar em qual economia atrairá mais investimentos através de seu crescimento. Neste quesito, o Brasil também perde. 

Segundo o FMI (Fundo Monetário Internacional), o país crescerá 0,3% em 2022 e 1,6% em 2023. Enquanto isso, os EUA devem aumentar sua economia em 3,9% neste ano e 3,8% no ano que vem. 

Além disso, o curto prazo também reserva altas emoções. Em ano eleitoral, a tendência é que o câmbio seja um dos principais termômetros da percepção do mercado sobre o futuro do país. 

Quando as incertezas mostraram-se altas, como em 2002, 2014 e 2018, o movimento do dólar foi intenso. Veja o retrospecto do comportamento do dólar nos últimos seis anos eleitorais:

  • 2018: +17,17%
  • 2014: +12,50%
  • 2010: -4,64%
  • 2006: -8,63%
  • 2002: +53,14%
  • 1998: +8,27%

Para quem acredita que volatilidade é risco – por mais que essa discussão seja ampla e não conclusiva no mercado financeiro – apostar suas fichas no dólar pode ser uma via de mão dupla neste ano. 

O caso ininterrupto entre o longo prazo e o dólar

No cenário de longo prazo, o dólar é vencedor. Se o horizonte do investidor for longo o suficiente para que os efeitos da volatilidade possam ser amenizados, a alocação do capital em ativos dolarizados – sejam eles as próprias stocks ou BDRs – trará benefícios. 

A inflação brasileira é consistentemente maior que a americana, o que faz com que o dólar perca menos valor que o real ao longo do tempo.

Desde 2002, ano em que o dólar atingiu o maior patamar em termos reais, a inflação dos EUA somou 55%, enquanto o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) no Brasil avançou 220%. 

O real foi criado em julho de 1994 e desde então perdeu 84% de seu valor. Isso significa que uma nota de R$ 10 de 28 anos atrás equivale a R$ 1,60 nos preços atuais. 

Dado que no longo prazo a moeda brasileira tende a perder mais valor que a americana, o câmbio também refletirá a diferença e distanciará cada vez mais o real do dólar.

Alocar parte do patrimônio em moeda forte é amplamente recomendado, para tirar a volatilidade e trazer segurança à carteira do investidor. A força do dólar remonta aos anos seguintes à Segunda Guerra Mundial, enquanto o real foi a 10ª tentativa de moeda no Brasil.

O vai e vem da política monetária também tende a alimentar a fortaleza que o dólar representa. A taxa de juros nos EUA deve começar a sair do zero em março e, com isso, diminuir a diferença para a Selic no Brasil, reduzindo o prêmio de risco brasileiro. 

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Como se expor ao dólar

Investir no exterior foi categoricamente desmistificado nos últimos anos. 

Corretoras internacionais que oferecem corretagem zerada para brasileiros; abertura dos BDRs (Brazilian Depositary Receipts) para investidores comuns da B3; e criação de fundos de investimento em ações estrangeiras são algumas das formas de se expor ao dólar por meio do mercado financeiro. 

Ao procurar o mercado americano, o investidor tem acesso a mais de 4 mil empresas listadas, enquanto aqui no Brasil o universo de empresas se limita a cerca de 400, sendo que mais da metade não tem liquidez satisfatória. 

O mercado americano de ações equivale a cerca de 61% de toda a capitalização do mercado acionário global. Por mais que haja a ideia de que esse percentual poderá cair, oportunidades específicas estão à disposição do investidor em valor ou de crescimento.

Neste total, também são incluídos os ETFs (Exchange Traded-Funds), ou fundos de índice. Essa classe é voltada para investidores passivos, que procuram acompanhar o desempenho de uma cesta de ativos pré-determinada. 

Nos EUA são mais de 1.000 ETFs, que atuam sobre os mais diversos setores e conjunto de empresas, podendo alavancar o capital ou focar no recebimento de dividendos, por exemplo – duas coisas que os cerca de 50 ETFs no Brasil não podem seguir. 

Além da forma direta, também há a possibilidade de usufruir da moeda global com empresas brasileiras que têm suas receitas altamente dolarizadas, como são os casos de Suzano (SUZB3) e Vale (VALE3). 

No caso da mineradora, a receita disparou em 2021 em função da guinada do preço da tonelada do minério de ferro, cotada em dólares. A produtividade em termos de volumes ficou em linha com o esperado, mas os preços praticados foram favoráveis. 

Receita líquida da Vale acompanha a alta de 167% nominais do dólar nos últimos 10 anos

Fonte: TradeMap
Fonte: TradeMap

Vale a pena investir no exterior agora?

A resposta para esta pergunta pode ser dúbia e é necessário fazer distinção. A percepção do dólar em si mesmo como um investimento muitas vezes acaba por ser incorreta. 

Como observado anteriormente, a variabilidade do dólar e suas razões fogem do controle do entendimento comum dos investidores, dificultando uma análise certeira. 

Por mais que existam indícios históricos, “apostar” na alta do dólar, sobretudo em prazos curtos e nebulosos, não parece ser uma boa pedida. 

Contudo, o investimento em moeda estrangeira e a diversificação da carteira de investimentos em amplitude geográfica fazem parte do manual do bom investidor. O investidor diligente deve ser humilde perante as incertezas e à possibilidade de estar errado, não colocando todos os ovos na mesma cesta – ou no mesmo país. 

No exterior, algumas das grandes empresas são negociadas a verdadeiras pechinchas se comparadas a alguns dos nomes mais populares no Brasil. 

O Google (GOGL34), por exemplo, é negociado a cerca de 24 vezes o lucro dos últimos 12 meses, ao passo que cresce sua receita na ordem de 20% ao ano. As vantagens competitivas, barreiras de entrada e avenidas de crescimento por meio de crescimento orgânico e inorgânico são de saltar aos olhos.

O YouTube foi adquirido pelo Google em 2006 por US$ 1,65 bilhão. Considerando que a plataforma de vídeos equivale a 11% do site de buscas na internet, dado seu peso na receita total, hoje o YouTube pode ser avaliado em aproximadamente US$ 210 bilhões. Isso representa um retorno de 133 vezes o investimento feito pelo Google, ou 33% ao ano.

No setor de tecnologia, que teve desempenho grandemente satisfatório na última década, o Brasil ainda fica aquém dos mercados desenvolvidos, oferecendo poucas opções de investimento.

Não é incomum ouvir dizer que o dólar está caro e não é hora de entrar neste mundo. Porém, há quantos anos esta narrativa não é repetida?

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