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Brasileiros resgatam US$ 56 milhões de investimentos no exterior em janeiro; ainda compensa investir lá fora?

Queda do dólar e desvalorização de bolsas americanas trazem oportunidade de alocação em ações globais, dizem gestores

Os investidores brasileiros realizaram um saque líquido de US$ 56 milhões de investimentos em carteira em ativos no exterior em janeiro, contra um aporte líquido de US$ 898 milhões no mesmo período do ano passado, segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira. A queda do dólar frente ao real, a desvalorização das bolsas de valores americanas neste ano, após recordes de alta em 2021, e o aumento da taxa Selic para dois dígitos reduziram o apetite dos investidores por investimentos no exterior.

Esse cenário, contudo, pode ser um bom momento para os investidores com foco no longo prazo possam aproveitar os preços mais baixos para aumentar a alocação em ativos globais, afirmam os gestores ouvidos pela Agência TradeMap.

“Com o ajuste do câmbio e das bolsas americanas, esse é um bom momento de entrada para os investidores que não tinham uma exposição a ações internacionais “, diz Marc Forster, head da Western Asset Brasil.

No ano, o dólar cai 10,06% , retornando para o patamar próximo de R$ 5, menor patamar desde 30 de junho de 2021.

Para quem já tem exposição a esses papéis, Forster afirma que pode ser um momento para fazer um rebalanceamento após a queda dos ativos. “É um momento para recompor o hedge na carteira com esses ativos”, diz.

O investidor brasileiro pode aplicar em ações globais no mercado local diretamente na B3 via BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são como cópias dos papéis listados lá fora; por meio de fundos de índices listados na Bolsa (ETFs– Exchange Traded Funds); ou por fundos de ações ou multimercados que investem em ativos no exterior.

Em janeiro, os fundos de ações que investem no mercado internacional registraram um saque líquido de R$ 1,8 bilhão, enquanto os fundos multimercados que investem em ativos no exterior tiveram saída líquida de R$ 1,3 bilhão, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima)

Esses resgates ocorreram no momento em que as bolsas americanas tiveram um desempenho negativo. Enquanto os índices S&P 500 e Nasdaq acumulam queda de 10,42% e 15,79% no ano, até 22 de fevereiro, o Ibovespa sobe 7%. O índice brasileiro se beneficia da realocação dos portfólios globais, com os investidores saindo de posições em ações de crescimento, como do setor de tecnologia que são mais impactadas com a alta da taxa de juros americana, para papéis de empresas de valor e mais maduras, como companhias de commodities e bancos.

Queda de ações de ‘techs’ trás oportunidade de compra

A queda das ações do setor de tecnologia neste ano, que estavam com valuations mais altos após anos de forte valorização, trouxe oportunidades de compra.

A gestora GeoCapital aproveitou a queda das ações do setor para trocar parte da posição em papéis de empresas de valor — da “velha economia” como Berkshire Hathaway, Disney, Coca-Cola e John Deerer — por papéis de empresas com alto potencial de crescimento, posição dominante em seus setores e geradoras de caixa como Meta (ex-Facebook), Alphabet, Adobe, SolarEdge, Nintendo e Palo Alto.

“Essas ações estão com preços bastante atrativos e oferecem bom potencial de retorno em um horizonte de cinco anos”, diz Gustavo Aranha, sócio e diretor de distribuição da GeoCapital.

A GeoCapital investe diretamente em ações lá fora e oferece fundos com e sem hedge cambial. “Com o dólar mais barato está em bom momento para os investidores brasileiros investirem em ações lá fora”, diz Aranha.

A gestora Adam Capital também continua vendo valor em empresas de tecnologia com perspectiva de alto crescimento e alavancagem baixa como o Google, afirma André Salgado, sócio fundador da gestora.

“O múltiplo do Google [preço/lucro] está bem próximo ao do S&P, perto de 20 vezes, mas continua atrativo se considerar que é uma empresa com crescimento e margens elevados”, diz Salgado.

A Western Asset também não alterou a exposição ao setor, que representa 30% da carteira do fundo Western Asset FIA BDR nível I, e inclui papéis como Salesforce (SSFO34), Cisco (CSCO34), Microsoft (MSTF34), Apple (AAPL34) .

“Não mudamos nossa visão fundamental para o setor. A penetração da tecnologia na vida das pessoas vai continuar crescendo”, diz Forster.

O fundo da Western busca uma carteira diversificada de ativos, com exposição a bancos, empresas de consumo e até hotéis.

Já a Santander Asset Management reduziu a posição em fundos com grande peso em ações de crescimento na carteira do Global Equities e aumentou em portfólios mais focados em setores tradicionais como consumo, setor financeiro e energia. “No longo prazo, a disrupção virá de empresas com alto crescimento como de tecnologia e saúde, mas reduzimos o risco para navegar o curto prazo”, diz Daniel Castro, gestor do fundo.

Bancos devem se beneficiar com a alta de juros

A gestora Adam Capital vê o setor de bancos como um dos mais atrativos lá fora, que deve se beneficiar da alta da taxa básica de juros americana e que continua com múltiplos baratos.

Com a correção das bolsas dos EUA neste ano e os preços descontados dos ativos nas bolsas brasileiras, a Adam reduziu a posição em ações americanas de três terços para dois terços e a diferença foi alocada em Brasil. Entre as posições na bolsa brasileira estão Petrobras (PETR3 PETR4) e Vale (VALE3), além de bancos. “São setores que estão com valuations baratos e aguantem muito desaforo”, diz Salgado.

Já a Itaú Asset zerou a posição em bolsa americana nos fundos da família Itaú Hedge Plus e Macro Opportunities e aumentou a aposta na alta das taxas dos títulos do Tesouro americano com prazos entre um e dois anos.

“Começamos a ver a inflação acelerando nos EUA e reduzimos a posição em bolsa americana, trocando por alocações que se beneficiariam da alta da taxa de juros nos EUA”, disse Ricardo Marin, gestor do Itaú Hedge Plus e Macro Opportunities.

Apesar do mercado já precificar uma alta da taxa básica americana para 1,60% no fim deste ano, do atual patamar entre 0% e 0,25%, Marin acredita que ainda pode haver algum ajuste já que as condições financeiras globais ainda se encontram em níveis estimulativos.

Para o gestor da Adam, o pior cenário seria de uma inflação crescente nos Estados Unidos, pressionada pelo aumento dos preços do petróleo, combinado com baixo crescimento. “Não acho que esse é o cenário base, estamos vendo a atividade retomando com calma, mas precisa de melhora do cenário geopolítico”, diz Salgado.

A família de fundos Itaú Hedge Plus e Macro Opportunities mantém uma posição em petróleo, que já carregava antes da crise entre Rússia e Ucrânia, dado o cenário de oferta e demanda apertado.

No caso de Brasil, Marin afirma que os fundos reduziram a posição em Brasil diante do cenário de risco eleitoral.

Crise na Ucrânia pode impactar fluxo para Brasil

Apesar da bolsa brasileira estar sendo beneficiada com a alta do preço das commodities, especialmente do petróleo com a tensão entre Rússia e Ucrânia, a continuidade do fluxo de investimentos estrangeiros para o Brasil vai depender do impacto da crise geopolítica no crescimento.

De acordo com dados do BC, houve entrada de US$ 4,8 bilhões de investimentos estrangeiros em carteira no Brasil em janeiro.

“A continuidade do fluxo vai depender muito da intensidade da crise. Não pode chegar a um ponto em que crescimento global seja comprometido”, diz Salgado.

Para o gestor da Adam, o aumento da posição dos investidores estrangeiros em Brasil de forma mais estrutural vai depender do crescimento da economia brasileira.

Aranha, da GeoCapital, lembra que os investidores brasileiros deveriam ter pelo menos uma parcela em ativos internacionais como estratégia de diversificação de risco. “As empresas brasileiras representam apenas 1% do mercado acionário global e faz sentido o investidor brasileiro ter pelo menos metade da posição em renda variável em ações globais”, diz Aranha.

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