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E agora? Saiba o que fazer com investimentos no exterior com juros em alta no mundo

XP Investimentos recomenda elevar a alocação em fundos de renda fixa globais

Foto: Shutterstock

A taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, deve terminar o ano acima de 12%, e nos Estados Unidos o ciclo de alta de juros, que promete ser agressivo, começa já no mês que vem. Ao mesmo tempo, a entrada de recursos no Brasil por causa da disparada na cotação de commodities mudou o patamar do dólar e da Bolsa neste início de 2022, favorecendo os ativos locais.

Levando esse cenário em consideração, como fica a sua alocação quando o assunto é investimento no exterior? Para especialistas, não é hora de virar as costas para as aplicações em ativos gringos, mas é recomendável analisar que tipo de aplicação vale mais a pena no momento atual.

Tradicionalmente, os índices de ações americanos tendem a cair em momentos de aumento acelerado na taxa de juros dos Estados Unidos, que hoje está próxima de zero. Além disso, o investidor deve levar em conta, na hora de calibrar sua carteira, que tanto a renda fixa como a variável estão indo muito bem no Brasil neste início de ano.

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Fonte: TradeMap

“A renda variável costuma ter um impacto imediato na aversão a risco, e o S&P 500 teve o pior janeiro em 20 anos. O receio é com a incerteza: em qual magnitude e velocidade o Fed [o Federal Reserve, banco central dos EUA] vai precisar subir juros? A resposta a essa pergunta de fato se reflete na bolsa americana”, aponta Rodrigo Sgavioli, head de Alocação e Fundos da XP Investimentos.

Ele recomenda ter cautela com os ETFs (Exchange Traded Funds) que replicam índices americanos, já que muitos analistas estão prevendo que, para conter a inflação, o Fed irá elevar juros em todas as reuniões de política monetária de 2022.

“Se você está investindo através de índice, saiba que tem menos margem de manobra. Você está sentado em algo passivo, indexado, e fica a mercê de se vai performar bem ou mal. Tudo vai depender do quão hawkish [propenso à elevação de juros] o Fed vai ser”, resume o especialista da XP.

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Para Francisco Levy, estrategista-chefe da Vitreo, a relação entre risco e retorno de se investir no exterior piorou nos últimos meses.

“É claro que é importante aplicar uma parte da sua carteira no exterior, já que a diversificação é importante. Vai que o Brasil vira a Argentina e tudo o que você tem está aqui”, lembra o gestor. “Mas estou reduzindo um pouco a alocação internacional. As bolsas lá fora já subiram muito, está mais perigoso. São ganhos modestos e risco grande”.

Na avaliação de Sgavioli, o momento é de o investidor avaliar com cuidado quais setores da bolsa americana ainda possuem potencial de crescimento.

“Em um cenário como esse, é importante olhar para performances setoriais, olhar quem se beneficia de inflação e juros mais altos, como setor financeiro, materiais básicos e energia, por exemplo. Já empresas de tecnologia que dependem muito do crescimento futuro vão sofrer mais”, afirma o head da XP. “É hora de ter gestores mais ativos, que possam mexer na carteira, e ficar mais pesado em setores que tenham condições de repassar custos maiores para os preços”.

E a renda fixa global?

A despeito dos cuidados necessários ao se avaliar onde aplicar no exterior, especialistas apontam que há oportunidades em investimentos lá fora. Na avaliação da XP, o aumento da Selic torna os fundos que investem no exterior e que ao mesmo tempo fazem proteção cambial uma opção atraente para investidores.

A explicação para isso é que, ao fazer a operação de hedge, como a proteção cambial é chamada, os gestores precisam trazer os contratos futuros das moedas em questão (como o dólar e o real, por exemplo) a valor presente. Como em qualquer outro investimento, esse cálculo do custo de oportunidade da aplicação é feito utilizando-se a taxa de juros de cada país.

Hoje a Selic está em 10,75% ao ano, enquanto a taxa básica americana está próxima de zero. Essa diferença entre as duas taxas (o diferencial de juros) está alta, e essa vantagem é naturalmente “carregada” para os fundos hedgeados.

“Quando investe em fundos que aplicam no exterior e que possuem proteção cambial, o investidor ganha indiretamente o diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. Esse efeito já permite um retorno indireto entre 4% a 6% a mais por causa do hedge”, calcula Sgavioli, da XP.

Entre janeiro e fevereiro, a corretora elevou a recomendação de aplicação em fundos de renda fixa global –atualmente, o peso para o investidor de perfil intermediário está em 14%.

De acordo com ele, essas aplicações possuem uma gestão muito mais ativa do que fundos de renda fixa brasileiros, e tendem a dar retornos melhores, ainda mais quando se considera que eles acabam incorporando esse ganho com o diferencial de juros.

“Nossos modelos apontam para uma alta do prêmio de risco da renda fixa global”, afirma. “A gestão de renda fixa lá fora é muito melhor, porque o mercado é absurdamente maior, e isso propicia uma grande liquidez. Os fundos têm uma capacidade de gestão ativa muito grande, com estratégias sofisticadas”.

No caso da alocação em renda variável internacional, a recomendação da XP é manter o percentual (que é o mesmo da renda fixa global, de 14% para o perfil intermediário).

Para Levy, da Vitreo, ao tomar a decisão de investir ou não em renda fixa global, o investidor deve colocar na ponta do lápis os custos com aplicações que eliminam o risco cambial.

“O retorno lá fora está muito baixo”, pondera. “Se você pegar o custo operacional do hedge mais os custos de se investir em fundo que aplica lá fora, pode ter um retorno no final que não vale a pena, já que a renda fixa no exterior paga muito pouco”.

Dólar mais barato

Na avaliação dos especialistas, a queda recente do dólar por causa da entrada de recursos do exterior no Brasil, em função do aumento nos preços das commodities, abriu uma janela de oportunidade para compra da moeda. Do início do ano para cá, o dólar desvalorizou mais de 8% em relação ao real.

“A queda recente do dólar é uma boa janela de oportunidade para quem quer comprar papel moeda, ter uma exposição internacional um pouco mais dolarizada”, afirma o especialista da XP. “Mas não podemos olhar o dólar e dizer que está estruturalmente em um novo patamar, ainda mais em um ano de eleição presidencial. Quando se fala de alocação de carteiras, é muito mais em um horizonte maior, três, cinco anos”, explica.

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