As ações da Meta, controladora do Facebook (FBOK34), abriram o pregão desta quinta-feira (3) na Nasdaq perdendo um quarto de seu valor. Após a divulgação do resultado no quarto trimestre, a empresa chegou a perder quase US$ 300 bilhões em valor de mercado.
A desconfiança dos investidores com o Facebook tem relação com as perspectivas cada vez mais nebulosas no curto prazo e guidance abaixo do esperado para 2022.
Especificamente sobre o quarto trimestre, os resultados foram considerados fracos.
Entre outubro e dezembro do ano passado, o lucro líquido foi de US$ 10,25 bilhões, queda de 8% na comparação com igual período do ano anterior, mesmo com o crescimento da receita na ordem de 20% na mesma base comparativa, que foi a US$ 33,67 bilhões.
Parte do resultado é explicado por custos e despesas, que tiveram um aumento de 38%.
Para o primeiro trimestre deste ano, a empresa liderada por Mark Zuckerberg prevê um faturamento entre US$ 27 bilhões e US$ 28 bilhões, abaixo do que previam analistas. Em suma, os riscos daqui para frente são três:
- Competição acirrada (principalmente TikTok);
- Redução do número de usuários pela primeira vez na história;
- Alterações no iOS da Apple.
Mesmo assim, olhando um cenário amplo, o Facebook ampliou seu lucro em 35% na comparação entre 2020 e 2021, colocando US$ 39,37 bilhões no bolso.
Com a queda desta quinta, as ações são negociadas a apenas 17 vezes o lucro dos últimos 12 meses, um dos menores patamares da história da empresa, que foi listada na Nasdaq em 2012. Faz sentido?
Relação entre os BDRs do Facebook e o BDRX, índice da B3 de BDRs

Competição é a palavra da vez
O CFO da Meta, David Wehner, assumiu que a concorrência chegou para ficar e “ventos contrários” tendem a pressionar a empresa nos próximos trimestres.
A companhia tem elevado os investimentos no Reels, recurso do Instagram, que geram mais receita a menores custos para a companhia, mas que podem trazer menos engajamento aos influenciadores, tão preciosos para o sucesso da plataforma.
Porém, considerando o WhatsApp uma rede social, o Facebook controla três dos cinco aplicativos da categoria mais utilizados em todo o planeta, quando o Instagram entra na conversa.
O medo de que o Facebook se torne o Myspace – rede social atropelada por Zuckerberg – parece ser real entre os agentes do mercado, embora as proporções sejam altamente diferentes.
Facebook testa pico de alcance
Com crescimento estratosférico desde sua criação, a Meta atinge mensalmente 2,91 bilhões de pessoas todos os meses, por meio de algum aplicativo de sua família de redes sociais. Isso equivale a 37% da população global.
Quase quatro em cada 10 pessoas no planeta se relacionam com o Facebook de alguma forma.
Mas, como o mercado é feito de expectativas, o resultado do quarto trimestre não agradou. A estimativa de analistas era de que esse número, em vez de ser 2,91 bilhões, fosse de 2,95 bilhões. A diferença, que parece ser pequena, é a maior responsável pela forte queda das ações.
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O Facebook parece estar provando do mesmo mal das chamadas soft techs, como Netflix (NFLX34), Spotify (S1PO34) e Twitter (TWTR34). As três empresas, inclusive, acompanham o movimento negativo nesta quinta-feira.
As companhias parecem ter chegado próximas do pico da velocidade de crescimento da base de usuários durante a pandemia. O desafio daqui para frente é reter a atenção dos usuários, evitando evasões, e chamar atenção de novos potenciais clientes.
No caso do Facebook, nesse sentido, é cada vez mais difícil, já que o mercado espera que o crescimento da empresa em número de usuários cresça a ponto de atingir a maior parte da população, o que é factualmente quase impossível dada a escassez de internet no mundo não desenvolvido.
Apple acaba com a festa
Mark Zuckerberg também atribuiu o resultado pior do que o esperado entre setembro e dezembro do ano passado às novas medidas instauradas pela Apple (AAPL34) em sua nova versão do iOS, seu sistema operacional.
A empresa fundada por Steve Jobs deixará de compartilhar dados com plataformas e redes sociais. Naturalmente, o peso será sentido no negócio de publicidade, carro chefe do Facebook que demanda alto volume de dados de usuários.
Segundo Wehner, a medição do crescimento desta avenida de negócios será prejudicada, assim como a empresa acompanha possíveis mudanças regulatórias que giram em torno da privacidade de usuários.
Metaverso: investimento de longo prazo do Facebook
Uma das principais apostas do Facebook para os próximos anos, o Reality Labs, registrou uma perda (que na prática entende-se como um investimento por parte da Meta) de US$ 10 bilhões.
O negócio é voltado a desenvolver as estruturas para o metaverso. A operação gerou uma receita de US$ 877 milhões, enquanto o prejuízo operacional atingiu US$ 3,3 bilhões.
Tudo isso em conjunto vem em meio a um cenário macroeconômico mais desafiador, com inflação, custos, interrupção na cadeia de suprimentos e taxa de juros jogando contra a indústria.
O mercado pesa a mão sobre uma das empresas com maior crescimento nos últimos anos. Nos últimos três anos, a taxa de crescimento média do Ebitda foi de 29,4%, enquanto o lucro por ação (LPA) retornou aos investidores um crescimento de 23,2% por ano neste período.
O ROIC (Retorno sobre Capital Investido) atual é de 44,12%, mais de quatro vezes maior do que o WACC (Custo Médio Ponderado de Capital), o que, por definição, mostra que a empresa gera muito valor.
No quarto trimestre, o fluxo de caixa livre (o montante que sobra depois de realizar todos os pagamentos e investimentos) da companhia somou US$ 12,56 bilhões, alta de 36% em 12 meses.
A depender da capacidade de execução de todas as plataformas concorrentes, as redes sociais estão em uma linha tênue entre garantir o crescimento presente e investir para o futuro e para a chamada web 3.0. Os números mostram que o Facebook está bem posicionado para ambos os cenários.