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Bolsa na visão das gestoras: Helô Cruz, Sara Delfim e Denise Pondé apontam onde estão as oportunidades em ações

Com o conflito na Ucrânia, gestoras reforçaram foco em commodities e têm olhado para papéis mais defensivos, como de energia

Lugar de mulher é também no pregão. Entre as rotinas de mãe, mulher e profissional, as gestoras Heloisa Cruz, responsável pelo fundo de ações Stoxos, Sara Delfim, da Dahlia Capital, e Denise Pondé, da ARX Investimentos, acompanham os mercados, visitam empresas, analisam teses de investimento e buscam oportunidades para suas carteiras, que estão entre os fundos de destaque no mercado brasileiro.

Com a intensificação do conflito entre Rússia e Ucrânia, as gestoras reforçaram o foco em commodities e têm olhado para papéis mais defensivos que pagam bons dividendos, como do setor de energia elétrica. E a queda do segmento de varejo também despertou algumas boas oportunidades. Veja a seguir os setores e as ações preferidos das gestoras.

Conflito na Ucrânia reforça posição em commodities

A Dahlia Capital já estava posicionada em commodities desde o segundo semestre do ano passado por conta do desequilíbrio entre oferta e demanda, mas o conflito entre Rússia e Ucrânia, que fez disparar o preço do petróleo, reforçou essa visão.

“Desde o segundo semestre estávamos otimistas com commodities de forma geral, o que inclui petróleo, alumínio, cobre e minério de ferro e seus derivados”, diz Delfim, sócia e membro do time de gestão da Dahlia.

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Para a gestora, mesmo com um acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, o preço do petróleo não voltaria abaixo de US$ 85 por barril em função da oferta restrita decorrente da diminuição dos investimentos no aumento da produção, em meio ao processo de transição de energia mais poluente para energia limpa.

“Aumentar a taxa de juros nesse caso não necessariamente vai funcionar para controlar a inflação, que é um problema de oferta, que é controlada”, diz Delfim.

Uma das soluções para compensar sanções sobre as exportações de petróleo da Rússia, terceira maior produtora de petróleo, responsável por 11% da oferta global, seria um aumento conjunto da oferta pelos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), afirma a gestora.

No caso das commodities metálicas, o grande driver é o crescimento da China. “Sabíamos que, após os Jogos de Inverno, o presidente da China, Xi Jinping, que deve ser reconduzido neste ano para mais um mandato, voltaria a estimular o crescimento para ter uma economia pujante”, diz Delfim.

A China anunciou neste mês a meta de crescimento de 5,5% para este ano. “Esse número parece tímido, mas, dado o contexto, é um crescimento muito bom, que dá uma bela ajuda aos emergentes por conta das commodities.”

Além disso, Sara lembra que um dólar mais fraco, com a desaceleração do crescimento americano diante da alta esperada de juros nos EUA, é um cenário favorável para commodities. “No fundo Dahlia Total Return, zeramos a posição comprada em dólar frente ao real, que se beneficia da alta de commodities e do fluxo positivo de recursos para o Brasil”, diz.

O fundo rendeu 0,58% neste ano, até fevereiro, com retorno de 70,17% desde seu início, contra alta de 41,74% do benchmark da carteira, dado pelo IPCA mais a média das taxas das NTN-Bs.

Da mesma forma, a gestora vê oportunidades no ouro com o aumento da aversão a risco, como um ativo de proteção. “Estamos monitorando o conflito e seu impacto no crescimento.”

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A ARX Investimentos já vinha focando também em empresas de commodities diante do cenário de aumento da inflação, conta Denise Pondé, gestora dos fundos de ações da ARX Investimentos.

A casa tinha na carteira papéis como Suzano (SUZB3), Petrobras (PETR3) e Gerdau (GGBR4) e de bancos, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

“Com o petróleo nesse patamar, a ação da Petrobras está muito barata apesar do risco de mudança na política de combustíveis”, diz Pondé. Para a gestora, mesmo se houver um aumento da oferta por membros da Opep, ele não será suficiente para compensar o gargalo com uma eventual sanção à importação de petróleo da Rússia.

A gestora do fundo de ações Stoxos, Helô Cruz, como seus seguidores a conhecem nas redes sociais, prefere as empresas de commodities agrícolas e tem evitado se posicionar em companhias que exportam para Rússia.

A gestora tem posição em uma empresa de petróleo, mas não carrega ações da Petrobras. “Muita coisa de governança na Petrobras foi feita de maneira definitiva, mas tenho medo de um governo mais intervencionista”, diz.

Transição energética favorece commodities

Outro fator que deve sustentar a alta demanda por algumas commodities metálicas como alumínio e cobre é a transição energética. “O cobre tem um importante papel na fabricação de carros elétricos”, diz Delfim, lembrando que o material ganhou importância na pandemia como esterilizante contra vírus e bactéria. “É um material que está sendo usado até em balcões de aeroportos.”

Entre as empresas brasileiras que podem se beneficiar da transição energética, a gestora cita WEG (WEGE3), que desenvolve soluções para geração de energia solar, eólica, hidrelétrica e saneamento, e Intelbras (INTB3), que oferece soluções para geração de energia solar.

Olhando mais para o médio e o longo prazos, a Dahlia vê oportunidades em dois grandes temas: planeta e pessoas. No tema planeta, que engloba questões como emergência climática, a gestora investiu na empresa holandesa DSM, que produz um medicamento parecido com um “luftal” para o gado, que ajuda a reduzir a emissão de gás metano entre 50% e 70%.

No tema pessoas, a Dahlia investiu em uma companhia que desenvolveu tratamento para glaucoma.

Entre as empresas que devem se beneficiar do foco em ESG (que leva em conta fatores ambientais, sociais e de governança), a gestora do fundo Stoxos vê grande potencial nas ações da Ambipar (AMBP3).

A empresa anunciou neste mês que fechou uma parceria, por meio da subsidiária Biofílica Ambipar Environmental, com a British Petroleum Carbon para desenvolver projetos de compensação de carbono. “As empresas de petróleo vão precisar se organizar para mostrar que podem compensar o meio ambiente, e a Ambipar está super bem-posicionada”, diz Helô.

Alocação no setor elétrico como estratégia defensiva

Diante do cenário de aumento de incertezas nos cenários global e doméstico, com eleições no Brasil, as ações de energia se mostram uma opção de alocação defensiva. “É um setor regulado, com as tarifas reajustadas em linha com a inflação, composto por empresas que são boas pagadoras de dividendos”, diz Delfim.

Da mesma forma os bancos são vistos como mais defensivos em um contexto de aumento de juros, diz a gestora da Dahlia.

A ARX também está posicionada em ações de bancos e do setor elétrico, com foco em empresas boas pagadoras de dividendos. “No fundo ARX Income, que tem perfil mais conservador, já vínhamos com uma visão mais cautelosa, focando em empresas boas pagadoras de dividendos por conta das eleições”, diz Pondé.

O fundo rendia 8,5% neste ano, até 4 de março, e acumula alta de 7.233% desde seu início em 1999, contra 884,46% do Ibovespa.

De olho em oportunidades de papéis descontados

As gestoras aproveitaram a queda das ações brasileiras no ano passado, em que os setores de varejo e consumo foram os mais penalizados diante da perspectiva de alta de juros, para fazer alocações em alguns papéis.

A Dahlia, por exemplo, viu no valuation descontado das ações da Vivara (VIVA3) uma oportunidade para montar uma posição na companhia. “A empresa está abrindo mais lojas e tem um perfil de cliente que permite repassar o aumento de custo com a alta do ouro”, diz Delfim.

No fundo multimercado Total Return, a Dahlia reduziu a posição em Bolsa em relação ao fim do ano passado e aumentou a posição em caixa. “Reduzimos o risco diante do cenário de inflação maior no mundo.”

Já a ARX aproveitou a queda das ações para aumentar a exposição a papéis de varejo alimentar e empresas de shopping center. A gestora tinha na carteira ações do Assaí (ASAI3) e da BR Malls (BRML3), cujos papéis sobem 7,1% neste ano com as notícias sobre uma potencial fusão com a Aliansce.

A ARX também está posicionada para a consolidação no setor de saúde, e tem na carteira papéis da Hapvida (HAPV3), que se uniu à Intermédica, e da Sul América e Rede D’oR (RDOR3) , que anunciaram uma fusão recentemente. “Com o envelhecimento da população brasileira, vai crescer a demanda por planos de saúde”, diz Pondé.

Já Helô Cruz aproveitou a queda de 16% das ações da Irani Papel e Embalagem (RANI3) no ano passado para comprar os papéis. “A tese secular da Irani é que o crescimento do e-commerce vai demandar mais embalagem.”

Outro setor no qual a gestora vê oportunidade é no de incorporadoras voltadas para alta renda, como, por exemplo, JHSF (JHSF3). “Os papéis foram afetados por causa da alta dos juros, mas a empresa está indo bem porque os clientes nesse segmento não são muito afetados com isso.”

Maternidade e mercado financeiro

Com uma carreira no mercado financeiro, com passagens por Fator Corretora, JP Morgan, Itaú e Guepardo Investimentos, a engenheira química Helô Cruz decidiu montar um clube de investimento após o nascimento do primeiro dos três filhos para dedicar mais tempo à maternidade.

“Coloquei meu dinheiro nesse veículo e a ideia era operar na pessoa física, mas comecei a trocar ideia com as pessoas nas redes sociais e elas começaram a me pedir para dar curso”, diz a gestora, que abrirá uma nova turma do curso Valuation Fundamentado em maio, que ensina os alunos como analisar as empresas.

Após um histórico de performance de sucesso com seu clube de investimentos, Helô resolveu abrir para captação seu primeiro fundo de ações no ano passado. Em 2021, considerando a performance no clube e depois no fundo de ações, alcançou um retorno de 28% com uma equipe formada por ela e um estagiário, que gerem uma carteira com cerca de 30 ações.

O fundo busca identificar assimetrias no mercado, em papéis que não estão muito no radar dos investidores. “Acabo focando mais em empresas small caps, mas também posso investir em blue chips que estão com muito desconto. A ideia é buscar grandes assimetrias em empresas que têm muito para ganhar e pouco para perder”, diz Helô, após fazer uma pausa na entrevista para enviar uma ordem.

Grávida de gêmeos, Pondé, da ARX, formada em Engenharia de Produção, está na gestora desde 2010 e é a única analista mulher no time de gestão de fundos de renda variável. “Pretendo continuar atuando na gestão de fundos após o nascimento dos meus filhos. É o que amo fazer”, diz.

Segundo Delfim, que já tem experiência na maternidade como mãe de gêmeos, as gestoras mulheres possuem características importantes ao time de gestão, como um olhar mais analítico, mais resiliência e menos impulsividade na tomada de decisão.

“Um time mais diversificado de gestão traz mais equilíbrio para as decisões”, diz a profissional, que tem mais de 20 anos de experiência em análise de empresas, com passagens por Bears Stearns e Bank of America Merrill Lynch.

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