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Selic só deve começar a cair em maio de 2023, diz Goldenstein, ex-BC

Para estrategista da Renascença, alta do dólar por descontrole nas contas públicas pode elevar ainda mais projeções para IPCA

Foto: Divulgação

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (21), sinalizou que o Banco Central deve encerrar o ciclo de alta de juros em agosto e manter a taxa Selic em patamar elevado por um período maior, indicando um processo de afrouxamento monetário mais lento e menos intenso no próximo ano.

Essa é a visão de Sérgio Goldenstein, ex-chefe do Demab (Departamento de Operações do Mercado Aberto) do BC e atual estrategista-chefe da Renascença.

Na última reunião, o BC desacelerou o ritmo de alta para 0,5 ponto, elevando a taxa Selic para 13,25% e deixou a porta aberta para novo aperto na próxima reunião. A Renascença prevê mais um alta de 0,50 ponto percentual, com a Selic indo para 13,75%.

Esse último ajuste já seria suficiente para o BC interromper o ciclo de alta de juros, com a taxa básica já em patamar bastante contracionista, podendo iniciar os cortes na Selic a partir de maio de 2023, quando já estará de olho na projeção de inflação para 2024.

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“A projeção de inflação para 2024 no cenário de referência do BC está em 2,7%, considerando uma taxa Selic de 10% no fim do ano que vem, abaixo da meta para o período, de 3%”, diz Goldenstein.

Meta de inflação só estará no alvo em 2024

Ao mencionar na ata que vai buscar uma convergência da inflação para o redor da meta no horizonte relevante e não mais a “convergência da inflação para as metas”, o BC sinalizou que não vai buscar a “ferro e fogo” a meta de 3,25% em 2023, aceitando algum desvio, destaca Goldenstein. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

Com o forte aumento da inflação corrente, com o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulando alta de 11,73% em 12 meses até maio, a tarefa do BC de trazer a inflação para o objetivo no ano que vem fica comprometida e exigiria um choque de juros muito grande, que poderia deprimir ainda mais o nível de atividade econômica, que deve desacelerar no ano que vem.

“O BC teria que elevar a taxa Selic para 15%, 16% para chegar na meta de 3,25% em 2023, o que iria provocar uma recessão muito forte e reduzir ainda mais a inflação para 2024, que já está abaixo da meta”, diz o estrategista-chefe.

A Renascença prevê um IPCA de 7% neste ano e de 4,9% para 2023, próximo ao teto da meta. “Se tiver uma boa sinalização da política fiscal no próximo ano, o câmbio tem espaço para apreciar, o que pode reduzir a projeção de inflação para 2023”, diz Goldenstein.

Câmbio, commodities e fiscal são risco

O estrategista-chefe da Renascença vê uma depreciação maior da taxa de câmbio, um novo choque de preços das commodities e uma deterioração do quadro fiscal como riscos para a inflação. Os três fatores poderiam levar o BC a manter a Selic em patamar elevado por mais tempo.

Por outro lado, uma desaceleração mais forte da atividade doméstica, reversão do choque de alta das commodities e recessão no cenário global em função das altas de juros promovidas pelos principais bancos centrais – este último fator foi incluído na ata de junho – poderiam reduzir a pressão sobre a inflação e abrir espaço para a autoridade monetária cortar a Selic mais cedo.

Impacto do fiscal

Apesar das projeções do cenário de referência do BC não incorporarem o impacto das medidas tributárias para conter a alta dos combustíveis, uma piora do quadro fiscal pode levar a um aumento das expectativas de inflação.

“Se o governo furar o teto de gastos, com a adoção de medidas populistas visando eleição, o câmbio tende a depreciar  e piorar as expectativas de inflação. Isso não está 100% incorporado nos preços”, diz Goldenstein.

Na ata, o BC reduziu a parte em que menciona o risco fiscal. Manteve apenas a frase em que aponta que “a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que sustentem a demanda agregada podem trazer um risco de alta para o cenário inflacionário e para as expectativas de inflação”.

Na visão de Goldenstein , o BC não quis se amarrar a uma extensão do ciclo de alta de juros caso haja a adoção de mais medidas fiscais expansionistas nos próximos meses.

O Congresso aprovou um projeto de lei que limita o aumento do ICMS pelos estados para combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte público a 17% ou 18% do valor total em imposto. O texto aguarda a sanção presidencial.

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Há ainda a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que compensa Estados que zerarem o ICMS sobre o gás de cozinha e o diesel, que deve ser votada pelo Senado. Em 17 de junho, a Petrobras anunciou reajuste de  5,18% do litro da gasolina e de 14,26% para o diesel.

Para Goldenstein, o impacto dessas medidas sobre a projeção da inflação neste ano e em 2023 ainda é incerto. “No cenário mais otimista, essas medidas tributárias teriam uma contribuição para queda de 3 pontos percentuais da inflação neste ano, o que reduzia a inflação para 2023 em 0,9 ponto”, afirmou. “Mas como alguns tributos vão ser recompostos em 2023, o BC considerou na ata que as medidas elevam a inflação do ano que vem.”

Na ata do Copom, o BC destacou que “as medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária.”

Impacto para os mercados

No mercado de renda fixa, as taxas de juros com prazos mais curtos caíram, com boa parte do ciclo de alta de juros no Brasil já refletido nos preços, enquanto as de prazos mais longos avançaram diante de incerteza sobre a política fiscal e pressões do governo para intervir na Petrobras.

“A curva precifica uma alta da Selic entre 13,75% e 14% para o fim do ciclo de aperto monetário, com cortes da taxa básica a partir de março e com CDI médio de 12,24% em 2023”, diz Goldenstein.

Para ele, uma queda mais forte das taxas só vai acontecer quando o BC de fato interromper o ciclo de alta de juros e a inflação corrente mostrar queda consistente. “Isso supondo que o cenário fiscal não vai piorar”, pondera.

O aumento da preocupação com o quadro fiscal diante da sinalização do governo de aumentar os gastos antes das eleições tem elevado os prêmios de risco na curva de juros, que já estão bastante altos, segundo o estrategista-chefe.

No mercado de juros futuros, perto do fechamento do pregão regular, a taxa do contrato de DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2023 recuava para 13,56% ante 13,58% do ajuste anterior. Já a taxa do DI para 2027 subia para 12,39% ante 12,38% do ajuste anterior, enquanto a a taxa do DI para janeiro de 2025 operava estável a 12,46%.

As taxas dos títulos do Tesouro Direto subiam. Às 15h26, a taxa do título com vencimento em 2025 subia de 12,53% para 12,55%. Já a taxa do Tesouro IPCA com vencimento em 2026 subia de 5,35% no último fechamento para 5,47%, enquanto a taxa do papel com prazo em 2035 subia de 5,67% para 5,73%.

Quando a taxa do papel sobe, os preços dos títulos emitidos no mercado com um rendimento menor caem. Isso significa que quem têm esses papéis na carteira teve uma desvalorização desses títulos, mas só realiza a perda se vender antes do vencimento.

O dólar, por sua vez, recuava 0,69% e negociava a R$ 5,15, após ter fechado em R$ 5,18 em 20 de junho, maior patamar em quatro meses.

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