O Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central, decidiu elevar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,50 ponto percentual, a 13,25% ao ano, nesta quarta-feira (15). Esse é o maior patamar para os juros brasileiros desde janeiro de 2017, quando a Selic estava em 13,75% ao ano.
O colegiado sinalizou novo aumento igual ou menor na próxima reunião.
“Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude. O Comitê nota que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação”, afirmou o comitê no comunicado.
A decisão ficou dentro do esperado pelo mercado. Na reunião de maio, quando a Selic foi elevada em 1 ponto, o Comitê já havia sinalizado que, em meio a pressões inflacionárias maiores do que o antecipado, a alta de juros continuaria, em menor grau, no encontro desta semana.
Os juros brasileiros começaram a subir em março do ano passado e, de lá para cá, a taxa já subiu 11,25 pontos, no maior choque de juros desde 1999 – na ocasião, em meio à crise cambial, o Banco Central elevou a taxa básica de juros em 20 pontos percentuais em uma só reunião.
O objetivo do Banco Central ao elevar os juros é combater a alta de preços, que vem se mostrando resiliente em um cenário de pandemia, com lockdowns rigorosos na China, e a guerra entre Rússia e Ucrânia, que vem impulsionado a inflação das commodities.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de maio subiu 0,47% na comparação mensal, abaixo da expectativa de mercado, mas ainda acumulando uma alta de 11,73% em 12 meses.
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No último boletim Focus, divulgado na segunda-feira da semana passada de forma parcial por causa da greve dos servidores do BC, os analistas esperavam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) alcançasse 8,89% no final de 2022 e 4,39% para 2023.
Ou seja, mesmo para o ano que vem as expectativas já estão próximas do teto da meta para o ano, que é de 3,25% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Combater a inflação alta é o principal objetivo do governo atualmente, já que a alta de preços é considerada a principal pedra no sapato do presidente Jair Bolsonaro em um ano eleitoral.
Para isso, o governo aprovou um projeto de lei limitando a alíquota do ICMS cobrado pelos estados de combustíveis e energia a 17%, e pretende aprovar uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) para ressarcir os entes da federação que zerarem a cobrança do imposto até o final de 2022.
Isso, entretanto, coloca mais pressão nos preços de 2023, que é o horizonte olhado pelo Copom, já que a zeragem do ICMS só valeria até o final deste ano.
Veja abaixo o comunicado completo:
Em sua 247ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 13,25% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
- O ambiente externo seguiu se deteriorando, marcado por revisões negativas para o crescimento global prospectivo em um ambiente de fortes e persistentes pressões inflacionárias. O aperto das condições financeiras motivado pela reprecificação da política monetária nos países avançados, assim como pelo aumento da aversão a risco, eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes;
- Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento acima do que era esperado pelo Comitê;
- A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente, tanto em componentes mais voláteis como em itens associados à inflação subjacente;
- As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
- As expectativas de inflação para 2022, 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 8,5%, 4,7% e 3,25%, respectivamente; e
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,90*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Esse cenário supõe trajetória de juros que termina 2022 em 13,25% a.a., reduz-se para 10,0% em 2023 e 7,50% em 2024. Optou-se por manter a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses, terminando o ano em US$110/barril, e passa a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022, de 2023 e de 2024. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 8,8% para 2022, 4,0% para 2023 e 2,7% para 2024. As projeções para a inflação de preços administrados são de 7,0% para 2022, 6,3% para 2023 e 3,3% para 2024. As projeções do cenário de referência não incorporam o impacto das medidas tributárias sobre preços de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações que estão em tramitação. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual e cresceu desde a última reunião.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e políticas fiscais que impliquem sustentação da demanda agregada, parcialmente incorporadas nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. Avaliou-se que as medidas tributárias em tramitação reduzem sensivelmente a inflação no ano corrente, embora elevem, em menor magnitude, a inflação no horizonte relevante de política monetária. O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 13,25% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê um novo ajuste, de igual ou menor magnitude. O Comitê nota que a crescente incerteza da atual conjuntura, aliada ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demanda cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.
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