Logo-Agência-TradeMap
Logo-Agência-TradeMap

Categorias:

“Woodstock para Capitalistas”: o que esperar do encontro anual da Berkshire (BERK34)

Sucessão de Warren Buffet na presidência do conselho e novas aquisições estão na pauta da assembleia deste sábado (30)

Foto: Shutterstock

Todos os anos, uma multidão de investidores do mundo inteiro se dirige para Omaha, no estado americano de Nebraska, para a assembleia anual de acionistas da Berkshire Hathaway (BERK34). O objetivo é ouvir os conselhos do megainvestidor que ficou conhecido como oráculo de Omaha, Warren Buffett, 91, e de seu sócio Charlie Munger, 98.

Neste sábado (30), após dois anos de afastamento por causa da pandemia, acontece o primeiro encontro presencial da gigante de investimentos desde 2019, em uma assembleia que promete ser a mais quente de todas.

Recentemente, o Calpers, maior fundo de pensão dos EUA, dos funcionários públicos da Califórnia, disse em documento enviado à SEC (Securities and Exchange Commission, equivalente à Comissão de Valores Mobiliários americana) que votará a favor de uma proposta dos acionistas para substituir Warren Buffett como presidente do conselho da Berkshire Hathaway.

O megainvestidor também acumula o cargo de CEO. A proposta de removê-lo da presidência do conselho (feita por acionistas ligados à organização National Legal and Policy Center) argumenta que uma única pessoa ocupar os dois cargos enfraquece a governança corporativa da companhia.

Embora seja improvável uma remoção de Buffett da presidência do conselho, uma vez que ele detém 32% das ações com direito a voto e a proposta já foi rejeitada pelo conselho, o assunto deve levantar um debate na assembleia.

Conhecido como um “Woodstock para Capitalistas”, como o evento é chamado pelo próprio Buffett, essas assembleias são mais que uma simples reunião com investidores. O encontro serve como uma vitrine para as participações que a Berkshire detém em inúmeras empresas — há a distribuição de brindes relacionados a essas companhias, como doces e trens de brinquedo –, além do mais importante: a oportunidade para fazer perguntas para Buffett.

Um dos maiores gurus do mercado, com uma fortuna avaliada em US$ 120,1 bilhões, ele ocupa a posição de 5º homem mais rico do mundo, segundo a Forbes.

Além de Munger, atual vice-presidente e companheiro de negócios de Buffett desde 1965, o evento conta com a presença de dois executivos da Berkshire: Greg Abel, CEO da Berkshire Hathaway Energy e vice-presidente de operações não relacionada as seguros da Berkshire Hathaway, e Ajit Jain, vice-presidente das operações de seguros do grupo.

Veja abaixo os principais pontos a serem discutidos no evento.

Novas aquisições da carteira

Um dos pontos importantes que serão acompanhados por quem investe em papéis da Berkshire Hathaway (BERK34) são os comentários de Buffett sobre os papéis em carteira e as novas aquisições.

A Berkshire divulgará seu balanço trimestral no início da reunião. Atualmente a Berkshire Hathaway é uma holding que investe em várias empresas, com um império que vai desde Apple, Coca-Cola e Kraft Heinz a papéis do setor financeiro como Bank of America, American Express e até em empresas brasileiras, como Nubank (NUBR33) e Stone (STOC31).

Outros setores preferidos de Buffett são seguros, ferrovia e energia.

Um dos pontos que devem ser levantados no encontro trata das motivações das últimas aquisições e se a empresa deve colocar o pé no acelerador nas compras, após uma redução das atividades na pandemia.

Em 7 de abril, a Berkshire anunciou a aquisição de uma fatia significativa da fabricante de notebooks e eletrônicos HP por US$ 4,2 bilhões, passando a deter 11,5% da empresa.

Em março, a empresa de Buffett já tinha adquirido a seguradora Alleghany por US$ 11,6 bilhões, 1,26 vez o valor contábil da empresa.

A Berkshire ainda aumentou a posição na petroleira Occidental Petroleum para 14,6% da empresa.

“Charlie e eu não somos stock-pickers; nós somos business-pickers“, disse Buffett na carta anual de 2022.

Recompra de ações

Um dos comentários que pode afetar o preço das ações da Berkshire Hathaway (BERK34) é a visão de Buffett sobre recompra dos papéis.

Nos últimos dois anos, a empresa vinha aumentado a recompra de ações, totalizando US$ 51,7 bilhões. Nos últimos dois meses, contudo, o volume de ações recompradas diminuiu. Segundo estimativa da revista semanal Barron’s, a Berkshire recomprou US$ 2 bilhões em janeiro e fevereiro, contra um total de US$ 7 bilhões no mesmo período do ano passado.

Isso aconteceu porque, na visão de Buffett, as baixas taxas de juros tinham inflado o preço dos ativos e reduzido as oportunidades de compras de novos negócios. Uma diminuição das recompras, contudo, pode aumentar a pressão para queda do papel.

Sucessão

Um dos pontos de maior atenção no encontro deve ser a discussão sobre a proposta de substituição de Buffett como presidente do conselho, apresentada por alguns acionistas e já rechaçada. Embora seja improvável uma remoção do megainvestidor desse posto, uma vez que ele detém 32% das ações com direito a voto, a discussão sobre o seu sucessor sempre surge nas assembleias.

Sua substituição também como CEO já surgiu em outros encontros. No último deles, Buffett disse que se tivesse que tomar a decisão naquele momento o escolhido seria Greg Abel, CEO da Berkshire Hathaway Energy e vice-presidente de operações não relacionadas a seguros da Berkshire Hathaway.

ESG

Outro ponto de grande questionamento dos investidores tem sido a posição de Buffett sobre adotar uma estratégia de investimento com foco em ESG (que leva em conta as questões ambientais, sociais e de governança).

O fundo de pensão Calpers disse, em documento enviado à SEC, que apoiou quatro propostas de acionistas exigindo que o conglomerado fornecesse uma avaliação anual sobre como gerencia riscos e oportunidades relacionados ao clima.

A empresa de Buffett tem sido cobrada nas assembleias para apresentar um relatório detalhado de suas ações nessa área, o que Buffett e outros acionistas rechaçaram por considerarem muito custoso.

Buffett também tem sido questionado pelos acionistas em relação a seus investimentos em empresas de setores mais poluentes, como petróleo e intensivos em carbono.

Na carta anual da Berkshire, Buffett destacou os investimentos na subsidiária de transporte ferroviário BNSF Railway e na Berkshire Hathaway Energy, que tem posição de liderança em fontes renováveis.

Outros assuntos aos quais os investidores deverão ficar atentos são os comentários do megainvestidor sobre o impacto do conflito entre Rússia e Ucrânia, o risco de estagflação nos Estados Unidos e o comportamento da política monetária americana.

Por que os comentário de Buffett são importantes?

Ao construir um império de investimentos em empresas ao longo de mais de 50 anos, a Berkshire Hathaway vale hoje US$ 733 bilhões na bolsa americana, mais que a Meta de Mark Zuckerberg, cotada a US$ 559 bilhões em valor de mercado. Ela se tornou a única companhia não ligada a tecnologia na lista das dez empresas de capital aberto mais valiosas dos EUA.

Neste ano, até 29 de abril, a ação da gigante de investimentos acumula alta de 9%, contra queda de 11,73% do S&P 500. De 1965 até agora, a Berkshire teve retorno médio anual de 20,5%, quase dez pontos a mais que o S&P.

Os recibos de ações da Berkshire negociados na B3 (BDRs, como são conhecidos os Brazilian Depositary Receipts) acumulam queda de 2,67% neste ano até 29 de abril, recuo em grande parte gerado pela valorização do real frente ao dólar no ano.

Compartilhe:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.