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El-Erian alerta: Fed terá que lidar com estagflação e juros americanos não vão chegar aos 2%

Para assessor da Allianz, pressão inflacionária com alta de commodities chega em momento em que o BC dos EUA já está "bem atrás da curva

Foto: Divulgação

Após a demora do banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve, em reverter a política de estímulos adotada durante a pandemia, com a avaliação de que a inflação nos Estados Unidos era transitória, a autoridade monetária do país terá agora que lidar com a estagflação, que está passando de um cenário de risco para um cenário base.

A afirmação é do economista Mohamed El-Erian,  presidente do Queens’ College da Universidade de Cambridge, assessor econômico chefe da Allianz e ex-CEO da gestora americana Pimco, em entrevista à Agência TradeMap.

A invasão da Rússia na Ucrânia, que provocou um aumento dos preços das commodities e levou a uma disparada do petróleo – que chegou a ultrapassar os US$ 130 por barril -, deve aumentar a pressão inflacionária em um momento em que o Fed  já está bem atrás da curva, diz El-Erian.

Isso aumenta o risco de estagflação, quando a inflação é alta e o crescimento econômico está estagnado aliado a uma alta taxa de desemprego.

Para o gestor, mesmo que a guerra terminasse amanhã, levaria anos para as economias da Rússia e da Ucrânia se recuperarem, tendo ambas a possibilidade de ver o PIB cair em cerca de um terço, em função das consequências do conflito e das sanções impostas à Rússia, conforme apontou em artigo recente publicado pelo Project Syndicate.

El-Erian foi conselheiro de Barack Obama (2012-2017) e é presidente do conselho do hedge fund Gramercy Funds Management. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Qual será o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia sobre a economia global?

O impacto é multifacetado e profundo, envolvendo quatro níveis: a ruptura direta nas economias russa e ucraniana, as repercussões nos países desenvolvidos, as repercussões no mundo em desenvolvimento e o estresse no funcionamento do sistema global. A magnitude desses quatro efeitos e o alcance de suas interações adversas dependem da duração da guerra e de suas consequências imediatas.

Os EUA e a União Europeia removeram bancos russos do sistema financeiro internacional Swift e congelaram os ativos estrangeiros do banco central do país. Qual é o impacto das sanções sobre o governo e as empresas da Rússia?

O impacto é enorme, com potencial para colocar toda a economia russa ‘de joelhos’. O crescimento econômico entrará em colapso, a inflação aumentará e os pagamentos em atraso aumentarão, inclusive em títulos de renda fixa.

Qual é a sua perspectiva para o preço do petróleo? Existe alguma opção para compensar a produção russa? E qual o impacto de uma diminuição nas exportações de petróleo da Rússia sobre a inflação?

Embora existam alguns bolsões de capacidade ociosa de petróleo, é improvável que seus efeitos cumulativos sejam significativos o suficiente para compensar o impacto da sanção oficial e da “auto-sanção” do mundo corporativo. Sem um fim rápido da guerra, os preços do petróleo permanecerão altos e voláteis. Isso será ainda maior no caso do gás, especialmente na Europa.

Qual o impacto do aumento dos preços das commodities sobre a política monetária do Fed? Como o senhor vê o balanço entre o aumento do preço da energia e um crescimento menor do PIB global em função do evento geopolítico?

O Fed agora tem que lidar com a estagflação, que está passando de um cenário de risco para um cenário base. Isso ocorre em um momento em que o banco central mais poderoso do mundo já está bem atrás da curva na dinâmica da inflação, experimentou uma erosão de sua própria credibilidade em suas políticas e perdeu o controle de sua narrativa política. Com isso, a opção de primeira melhor política (que pode melhorar o bem-estar social ao máximo) é ainda mais ilusória.

Qual é a sua perspectiva para a taxa de juros nos Estados Unidos? A chance de um ciclo de aperto mais agressivo é menor após o conflito na Ucrânia?

O Fed subirá a taxa de juros, mas não para os níveis ao redor dos 2% que os mercados chegaram a precificar pouco antes da erupção da guerra na Ucrânia.

Como o senhor vê o Brasil nesse cenário? O Brasil poderia se beneficiar das saídas de investimentos da Rússia?

Eventualmente, mas não imediatamente. O cenário mais provável é uma saída geral dos mercados emergentes, que o Brasil sentirá devido ao seu peso nos índices.

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