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Fundos de ações ESG crescem no Brasil; saiba as opções disponíveis e como escolher

Tema socioambiental ganha relevância entre os brasileiros e produtos de renda variável ligados a essa estratégia crescem na B3

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26) terminou, mas o interesse por investimentos que seguem critérios sociais, ambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês) continua a ser um dos temas mais relevantes e que tem crescido entre os investidores brasileiros.

Nesse cenário, fundos de ações com esse propósito têm se expandido no Brasil. A XP Asset lançou, neste mês, três fundos de índice listados em bolsa (ETFs) com foco em ESG.

Com isso, já são sete ETFs com esse foco listados na B3, além de seis certificados emitidos por instituições financeiras conhecidos como BDRs (Brazilian Depositary Receipts). Os produtos têm lastro em ETF listados no exterior. Juntos, esses produtos somam um patrimônio de R$ 2,4 bilhões.

Só o BDR de ETF iShares ESG Aware MSCI USA ETF, ou BEGU39, responde por um patrimônio de R$ 2,1 bilhões, ou 38% do volume total de 74 BDRs de ETF oferecidos pela BlackRock no Brasil, sendo o principal BDR de ESG do mercado.

“O produto hoje é mais acessado por investidores institucionais, mas, à medida que esse mercado se desenvolva, mais pessoas físicas devem investir”, diz Daniel Lobo, estrategista de ETFs na BlackRock.

Ao todo, a BlackRock lançou cinco BDRs de ETF com exposição a temática ESG, e um com foco em energia limpa, o iSharesGlobal Clean Energy (BICL39).

Fontes: B3 e gestoras. *Até 17 de novembro
ETFs Ticker Índice de referência Variação no ano*
 BTG Pactual ESG Fundo de Índice S&P ESGB11 Índice S&P/B3 Brazil ESG -12,82%
Trend ETF MSCI Eafe ESG Fdo Inv Indice Ie ESGD11 MSCI Emerging Markets Extented ESG Focus Index (ESG-E). 0,00%
 Trend ETF MSCI Emerging Markets ESG Fdo Inv Ind Ie ESGE11 MSCI EAFE Index. -0,20%
Trend ETF MSCI Eafe ESG Fdo Inv Indice Ie ESGU11 MSCI USA Extended ESG Focus Index (ESG-U) 0,40%
iShares  Índice Carbono Eficiente ECOO11 Indice BM&FBOVESPA Carbono Eficiente – ICO2 -18,53%
IT Now ISE ISUS11 ISE -13,17%
IT Now Russell 1000 Green Revenues 50 REVE11 Russell® 1000 Green Revenues 50 Index 25,77%
BDRs de ETF
iSharesGlobal CleanEnergyETF BICL39 S&P Global Clean Energy 14,18%
iSharesESGMSCI USALeadersETF BSUS39 MSCI USA Extended ESG Leaders 18,39%
iSharesESGAware MSCIUSAETF BEGU39 MSCI USA Extended ESG Focus, 32,68%
iShares MSCI USA ESG Select BUSA39 MSCI USA Extended ESG Select 2,74%
 iShares MSCI EAFE BEFA39 MSCI EAFE 14,73%
iShares ESG Aware MSCI EM BEGE39 MSCI Emerging Markets Extended ESG Focus 4,74%

Importante lembrar que os ETFs e os BDRs atrelados a índices listados no exterior, como o ETF Russell 1000 Green Revenues 50 e os BDRs vinculados ao índice MSCI USA, têm impacto da variação cambial, o que explica, em parte, a melhor performance no ano, já que o dólar sobe 6,5% frente ao real, até 18 de novembro.

Mesmo no longo prazo, contudo, investimentos com foco em ESG podem se mostrar mais rentáveis. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), criado pela B3 em 2005, rendeu 288,4% desde o lançamento até setembro deste ano, contra alta de 247,71% do Ibovespa.

Oferta de novos produtos

A BlackRock, que é a maior gestora do mundo em ETFs, com 30% do mercado global, pretende lançar outros BDRs de ETF no Brasil com a temática ESG com exposição a diferentes países e regiões, como a Europa.

“A companhia como um todo tem buscado um posicionamento mais forte com relação a aumentar a oferta de produtos com esse foco e ter um ativismo maior”, afirma Lobo.

Em sua carta anual em 2020, Larry Fink, CEO da BlackRock, abordou como tema central a incorporação dos critérios ESG nos investimentos. A gestora tem buscado se posicionar de maneira mais ativa nesse tema não só por meio de fundos passivos listados em bolsa, mas também nas carteiras com gestão ativa.

Em maio, ao lado de outros investidores, a BlackRock colocou membros no conselho de administração da Exxon Mobil para garantir a construção de planos para lidar com a transição da economia global para baixo carbono e fazer com que a companhia tenha postura mais ativa na abordagem sobre mudanças climáticas.

Desastres como o da barragem da Samarco em Mariana em 2005 e da Vale em Brumadinho em 2019 mostram que os fatores socioambientais são intrínsecos ao risco dos negócios.

Ativismo colaborativo na estratégia ESG

A gestora JGP tem adotado uma postura mais colaborativa com as empresas no endereçamento das questões ESG. A gestora, que é signatária do Principles for Responsible Investment (PRI), criou sua própria metodologia na avaliação das empresas.

Para cada setor é desenvolvido um questionário com cerca de cem perguntas quantitativas e qualitativas relacionadas ao tema ESG, que variam para cada segmento, enviadas para a empresa e demais stakeholders.

“Primeiramente, realizamos uma análise de materialidade, de modo a definirmos o que é importante para cada setor para criarmos um framework setorial, que é validado também junto com as empresas para ver se realmente faz sentido para o segmento”, explica Marcos di Tullio, sócio e analista de empresas na JGP.

Um time de quatro pessoas dedicadas à área de ESG é responsável por levantar os dados e mapear os principais indicadores junto com os analistas de ações e de crédito e depois as pautas são validadas no Comitê de Sustentabilidade. “ESG é um tema estratégico, que deve ser intrínseco ao trabalho do analista”, diz di Tullio.

A partir dessa análise, as empresas recebem uma nota, que é calibrada de acordo com peso dos temas para cada setor. “Já temos mais de 30 frameworks prontos que englobam mais de cem empresas”, afirma o analista.

No fundo de ações JGP ESG FIC FIA, a  gestora tenta dar maior peso na carteira para empresas com melhor avaliação ESG, mas pode investir em setores como de mineração. “Baterias de carros elétricos, por exemplo, precisam de muitos metais, e as mineradoras, que eram as vilãs, agora são vistas como essenciais”, diz di Tullio.

Isso não exclui, contudo, os cuidados na avaliação para verificar se as companhias não estão explorando em área de terras indígenas ou adotando outras práticas não sustentáveis, conta o analista.

Entre os investimentos vetados na gestão estão os em empresas que gerem mais de 5% da receita de produção e comércio de tabaco; casas de apostas; companhias de armas e munições; empresas que derivem mais de 10% da receita de mineração de carvão; ou envolvidas com trabalho infantil.

“Excluímos pouca coisa porque acreditamos que o engajamento é a melhor forma de ter impacto no mundo real, por isso, preferimos estar próximos às companhias para ajudá-las a melhorar as práticas”, diz di Tullio.

Quais fatores observar antes de escolher um fundo ESG

Pelo fato de não haver uma padronização de metodologia na escolha dos investimentos de ESG, com muitas gestoras adotando seus próprios critérios, é difícil fazer uma comparação entre as carteiras.

Tem gestoras que usam filtro negativo, com a exclusão de determinadas empresas ou setores da carteira. Outras dão mais peso para as empresas com melhores notas no quesito ESG, mas não excluem, necessariamente, alguns setores considerados poluentes, como ligados à energia fóssil.

O gestor da JGP, di Tullio, recomenda que investidores pesquisem sobre as gestoras, vejam as cartas de investimento, como elas trata o tema ESG, seu histórico no tema, os critérios de escolha dos ativos e o que de fato está em carteira.

Os reguladores estão mais atentos a essa questão. Neste mês, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) suspendeu a primeira emissão de oferta pública do fundo Rio Bravo ESG, que investe em cotas de fundos incentivados de investimento em infraestrutura renda fixa crédito privado (FIC-FI-Infra). A autarquia alegou irregularidades em materiais publicitários, como a disponibilização de informações que não estavam no prospecto da oferta e ausência de linguagem serena e moderada.

A Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) lançou uma audiência pública propondo a definição de critérios para a identificação dos fundos que têm como objetivoinvestimentos sustentáveis, que terminou em 29 de outubro.

De acordo com a classificação atualmente em vigor, existe uma subcategoria sustentabilidade/governança apenas para os fundos de ações, que somava em outubro quase R$ 2 bilhões em patrimônio, mas o universo dos fundos ESG é pelo menos dez vez maior, segundo a Anbima.

Para ajudar investidores a selecionarem esses produtos, a corretora Órama lançou ano passado um selo ESG para os fundos disponíveis na plataforma, que conta com 16 carteiras, que respondem por R$ 2,4 bilhões.

A  avaliação é baseada em critérios de um processo de diligência completo, no qual é verificada a implementação dos critérios ESG dentro da atuação da gestora. É desejável que a casa seja aderente ao PRI e que as abordagens estejam dentro das definidas pelo GSIA (Global Sustainable Investment Alliance).

Também são verificados parâmetros como implementação de questionário ou score ESG dentro da análise e atuação nos conselhos das empresas para torná-las mais transparentes e socialmente responsáveis.

“Não basta o fundo se auto afirmar ESG, ele precisa passar por uma validação do nosso time, no qual conversamos com todos os gestores para entender o que é feito, além de analisarmos a carteira histórica do produto”, diz Yuske Sone, coordenador de fundos na Órama Investimentos.

O Itaú Unibanco também lançou neste mês uma carteira recomendada diversificada com foco em ESG, que inclui recomendações de renda variável, renda fixa e fundos de ações de acordo com o perfil de risco de cada investidor.

Entre os fundos na carteira estão JGP ESG Seleção Ações, Fama FIC FIA e Itaú Momento ESG Ações, além de dois – ETFs Russell 1000 Green Revenues e S&P Kensho Hydrogen Economy –, focados em empresas voltadas para fabricação de hidrogênio de células a combustível.

“Devemos ter em breve uma carteira recomendada de ações ESG que podermos incluir na carteira diversificada, afirma Martin Iglesias, líder em investimentos e alocação de ativos do Itaú Unibanco, destacando que ainda existem poucos fundos ESG no Brasil voltados para investidores não qualificados. “Um dos objetivos dessa carteira era cutucar o mercado a oferecer maior disponibilidade de produtos com esse foco”, diz Iglesias.

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