Considerando os números do quarto trimestre de 2021, abaixo do esperado pelo mercado devido principalmente a despesas financeiras elevadas, a equipe de analistas do UBS-BB rebaixou seus preços-alvo para as ações de PagSeguro (PAGS) e Stone (STNE), mantendo recomendação neutra. As informações são de relatórios distribuídos nesta quinta-feira (14).
O novo preço-alvo do banco para PagSeguro é de US$ 22, contra US$ 30 anteriormente, mas ainda com um potencial de valorização, de 25% em relação ao valor do papel no fechamento de quarta-feira, de US$ 17,59. Por volta das 15h30 desta quinta, o papel tinha baixa de 2,1%, a US$ 17,22.
Já para a Stone, o preço-alvo foi revisado de US$ 21 para US$ 13 – potencial de alta de 21% contra o último fechamento, quando o ativo era avaliado em US$ 10,71. Por volta das 15h30, a ação caía 4,6%, a US$ 10,28.
O banco ressalta que, apesar de as ações de PagSeguro e Stone estarem sendo negociadas 54% e 52%, respectivamente, abaixo de sua média histórica e 73% e 75% abaixo dos picos registrados em março de 2021, “o atual cenário de menor lucratividade justifica múltiplos mais baixos”.
As revisões dos analistas do UBS-BB têm como objetivo refletir os resultados das companhias no quarto trimestre de 2021, ambos abaixo do esperado pelo mercado, e as perspectivas mais negativas para o longo prazo, apesar das projeções positivas das empresas para o primeiro trimestre deste ano.
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Apesar do cenário desafiador, os analistas esperam um crescimento de volume total de pagamentos (TPV) e de receita de recebíveis mais elevado do que esperavam anteriormente, devido principalmente à estratégia de reprecificação que vem sendo adotada pela companhia.
Esta estratégia já fez com que a take rate líquida da PagSeguro tenha subido nos últimos meses, chegando a 2,48% em janeiro e 2,64% em fevereiro – 0,08 ponto percentual e 0,24 p.p. acima do registrado no quarto trimestre, segundo o UBS-BB.
Sobre a reprecificação, a administração da companhia afirma que os reajustes de preço devem ser finalizados em abril, que não houve aumento significativo de evasão de clientes e que mais ajustes devem ser adotados regularmente, a depender da taxa de juros. Assim, a expectativa do UBS-BB é que a take rate líquida suba 15 pontos base no primeiro trimestre.
“Apesar de a estratégia de reprecificação ter sido melhor do que esperávamos, acreditamos que ainda não é suficiente para compensar os impactos negativos de maiores despesas financeiras”, diz o banco. As despesas financeiras têm sido impactadas pelo ciclo de altas na taxa básica de juros.
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As projeções do banco para o lucro ajustado por ação da PagSeguro foram elevadas em 5% para 2022 e 1% para 2023, quando o banco espera R$ 6,26.
Em relação ao PagBank, a expectativa da própria PagSeguro, de acordo com as projeções divulgadas na manhã desta quinta-feira, é que haja uma redução de receita neste trimestre, na comparação com os três últimos meses do ano passado. A expectativa é de receita entre R$ 240 milhões e R$ 260 milhões, contra R$ 310 milhões no quarto trimestre de 2021.
A principal razão por trás da retração, diz o UBS-BB, é a abordagem mais cautelosa que a companhia vem adotando na concessão de crédito, para se proteger do cenário macroeconômico desafiador, com altas na inadimplência e na inflação.
As projeções do UBS-BB para a carteira de crédito do PagBank foram reduzidas em uma média de 24% para os anos de 2022 e 2023, devendo chegar a R$ 2,3 bilhões neste ano e a R$ 4,4 bilhões no seguinte.
De acordo com a gestão da PagSeguro, diz o UBS-BB, essa desaceleração não é vista como um problema e é apenas questão de tempo para que volte a acelerar.
Alguns fatores que poderiam fazer com que a PagSeguro tenha uma performance superior à esperada pelo UBS-BB, segundo os próprios analistas, seriam receitas acima das esperadas para o PagBank, mais ajustes nas taxas e preços do negócio de recebíveis sem impactos significativos sobre a evasão, e um endividamento melhor do que o esperado.
Por outro lado, um crescimento menor do que o previsto nas receitas da PagBank, piora na qualidade dos ativos de crédito ou despesas maiores do que as esperadas podem pesar contra a companhia.
Além disso, o banco cita riscos para todo o setor brasileiro de instituições financeiras: mudanças nas taxas de juros e de câmbio; mudanças regulatórias; concorrência; mudanças estruturais na indústria de adquirência.
Stone
Para a Stone, as expectativas do UBS-BB de lucro por ação foram reduzidas em 2% para 2022 e 6% para 2023, devido principalmente ao aumento nas despesas financeiras e a menor originação de crédito. Por outro lado, a estratégia de reprecificação da companhia deve gerar uma alta nas receitas com recebíveis. A projeção para 2023, então, é de lucro por ação de R$ 3,53.
A estratégia de reprecificação da Stone, iniciada em novembro de 2021, também ajudou a impulsionar a take rate, que subiu para 2,02% em janeiro, contra 1,71% no quarto trimestre, mas, diferentemente da PagSeguro, gerou evasão adicional.
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Também para a Stone, porém, a análise do UBS-BB é que a reprecificação não foi capaz de compensar os impactos negativos das despesas financeiras.
Outro ponto que joga contra a Stone é a pausa na originação de crédito, que, segundo a companhia, deve ser retomada entre o segundo e o terceiro trimestre deste ano. A carteira de crédito da Stone caiu de R$ 1,6 bilhão no terceiro trimestre de 2021 para R$ 1,2 bilhão no quarto trimestre e R$ 850 milhões em janeiro deste ano – e deve continuar diminuindo.
A estimativa para a carteira de crédito da Stone, então, é de R$ 143 milhões em 2022 e R$ 395 milhões em 2023.
O banco ressalta, porém, que a companhia está trabalhando em novos produtos de crédito que devem trazer melhorias como: uma experiência mais simples para o cliente; garantias pessoais; novo processo de vendas; novo sistema de nota de crédito; e melhor monitoramento de riscos.
Segundo o UBS-BB, a Stone poderia ter uma performance acima da esperada caso apresente resultados indicando que é capaz de conciliar melhor lucratividade e crescimento, como a retomada de seu negócio de crédito, mostrando sustentabilidade; sinais de que é capaz de continuar a elevar preços sem gerar evasão ou desaceleração no volume total de pagamentos; e melhorias na integração com seu negócio de software.
Na direção oposta, uma maior compressão de margens ou mais problemas em seus negócios de crédito ou software podem tornar os analistas ainda mais pessimistas em relação ao papel.