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Uso de cartões aumenta, mas empresas de maquininhas não devem ter vida fácil

Acirramento da concorrência e alta na taxa de juros devem pressionar as margens

Foto: Shutterstock

Com a população mais digitalizada, é cada vez maior a troca do dinheiro pelo uso de cartões de crédito, débito e pré-pagos. O aumento da utilização desses meios de pagamento, porém, não significa que as chamadas empresas de adquirência, donas das famosas maquininhas, estejam surfando essa onda tranquilamente. Diversas mudanças importantes na indústria de meios de pagamento tornam o cenário bastante desafiador para as integrantes desse setor daqui para frente.

Quando o cartão de crédito começou a se popularizar no Brasil, relembra Fernando Fontes, CEO da empresa especializada em recebíveis CERC, a indústria de adquirência era controlada por um duopólio entre Visanet, que hoje é a Cielo, e Redecard, do Itaú (ITUB4).

Estas empresas alugavam suas maquininhas para os lojistas a preços elevados, o que correspondia a uma boa parcela das receitas delas. Além disso, cada maquininha aceitava apenas uma bandeira de cartão e cada companhia era responsável pela antecipação de recebíveis de uma bandeira.

Tudo mudou em 2013, diz Fontes, quando o Banco Central se tornou a agência reguladora de cartões de pagamentos do Brasil. “Isso, nos últimos oito anos, é o que veio promovendo uma enorme transformação neste mercado”, diz, pois o órgão agiu para aumentar a concorrência no setor. De um duopólio, o mercado de adquirência passou a contar com centenas de empresas, segundo o executivo.

A primeira consequência desse aumento de competição, diz Fontes, foi o fim do aluguel de maquininhas, com a entrada de players que vendiam os equipamentos a preços acessíveis. “Então um dos três principais mecanismos de monetização do negócio foi retirado”, explica.

Nesse cenário, o negócio com melhores margens para as empresas se tornou a antecipação de recebíveis. Mas também nessa linha o BC atuou, permitindo que os clientes pudessem negociar seus recebíveis com qualquer instituição financeira e não apenas com a empresa de maquininhas que processou a transação.

Depois de passarem por mudanças nos negócios de aluguel de máquinas, aumento de competição na captura de transações e mudanças na dinâmica da antecipação de recebíveis, estas companhias se depararam com mais um desafio: o Pix, que pode concorrer com o uso dos cartões.

A natureza da concorrência na indústria também é fonte de preocupação: “Você tem empresas que não necessariamente foram feitas para ser lucrativas. Um exemplo é a Rede, do Itaú. Ela pode dar prejuízo, contanto que gere fidelização do cliente. Então é uma briga um pouco mais cruel”, explica Mauricio Oliveira, gestor da CL4 Capital.

Crescimento nos volumes deve continuar

De acordo com dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs), o total de transações realizadas com cartões cresceu 33,4% ao longo de 2021, para 31,1 bilhões, assim como o valor transacionado, que passou para R$ 796,5 bilhões, uma expansão de 30,7%.

Gráfico de variação anual no valor transacionado em cartões
Fonte: Balanço do setor de meios eletrônicos de pagamento 2021/Abecs

A pesquisa anual sobre o endividamento das famílias conduzida pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostra que, entre as famílias endividadas em 2021, 82,6% afirmaram ter dívidas em cartão de crédito, o que representou uma alta em relação à fatia de 78% registrada em 2020.

“Você tem essa tendência secular, de por um meio ou outro, que vai aumentar a utilização de cartão de crédito. Tem toda a parte de fintechs, bancos digitais etc., que estão dando acesso a pessoas que eram desbancarizadas, além da penetração um pouco maior de pessoas que já utilizavam”, diz Mauricio Oliveira.

“Crescimento eu não tenho dúvida que vai ter. O volume só vai crescer. Agora, o que eu não sei é se as margens vão acompanhar esse crescimento”, diz Fernando Fontes.

De fato, o valor transacionado pelas empresas de adquirência listadas na Bolsa, medido pelo TPV (volume total de pagamentos), vem apresentando crescimento nos últimos anos, de acordo com os balanços das empresas. Nesta tabela, os dados de GetNet não foram considerados, uma vez que a companhia só divulga balanços desde 2021.

Empresa TPV 2019 TPV 2020 TPV 2021
Stone (STOC31) R$ 129,1 bilhões R$ 209,9 bilhões R$ 275,4 bilhões
PagSeguro (PAGS34) R$ 114,8 bilhões R$ 231,5 bilhões R$ 456,2 bilhões
Cielo (CIEL3) R$ 683,1 bilhões R$ 643,9 bilhões R$ 713,4 bilhões
Fonte: Balanços das empresas, elaborado pela Agência TradeMap

Apesar de a receita destas empresas seguir crescendo, suas margens já vêm sendo pressionadas por consequências das mudanças que atingiram em cheio o mercado de meios de pagamento nos últimos anos.

Cenário macroeconômico pode pesar

O cenário macroeconômico também pode impactar essas companhias. Com a concorrência no segmento de antecipação de recebíveis, muitas empresas passaram a oferecer promoções, como taxas de juros pré-fixadas por prazos longos. No momento em que a taxa Selic sobe, o custo de capital dessas companhias aumenta, ao passo que os juros que recebem dos clientes se mantêm nos patamares acordados.

Por outro lado, diz Oliveira, as companhias que vêm sendo capazes de reprecificar a operação de antecipação de recebíveis têm conseguido aumentar sua receita nessa linha de negócio.

E o que as empresas têm de fazer para navegar esse cenário? Reduzir preços e taxas e, consequentemente, perder margem – o que já vem acontecendo.

Empresa Margem líquida ajustada 2019 Margem líquida ajustada 2020 Margem líquida ajustada 2021
Stone (STOC31) 33,3% 28,9% 4,2%
PagSeguro (PAGS34) 25,8% 20,2% 14,8%
Cielo (CIEL3) 15,7% 5,6% 9,9%
Fonte: Balanços das empresas, elaborado pela Agência TradeMap

Diversificação

Diante de tantos desafios, as empresas de adquirência entraram em uma corrida para diversificar serviços. Nesse processo, muitas das que operavam apenas no segmento de adquirência começaram a oferecer produtos de crédito.

Nessa frente, porém, os bancos devem seguir tendo vantagem sobre as fintechs, opina Mauricio Oliveira, da CL4, pois já são experientes em concessão de crédito e têm muito mais capital, sem precisar recorrer a fontes de financiamento mais caras.

Na análise de Fernando Fontes, da CERC, quem deve navegar melhor esse cenário são as empresas que atuam no segmento de microempreendedores e que oferecem serviços relacionados ao varejo.

“Empresas de marketplace estão resolvendo problemas de armazenamento de produtos, logística de entrega, vendas, que são muito estratégicos para o lojista, de modo que o cartão se torna uma questão desimportante”, afirma Fontes. “Quem está mais posicionado no varejo, na ponta de vendas e entregas, e não só na ponta de captura de pagamentos, vai se dar melhor”.

Na mesma linha, Oliveira menciona PagSeguro e Mercado Pago, o braço de pagamentos do Mercado Livre (MELI34), como suas preferidas no setor. “A PagSeguro, porque ela está aderente ao que falou lá atrás e continua lucrativa. E o Mercado Pago está muito bem em termos de crescimento e carteira”, afirma.

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