TradeMap Discovery: O investimento em meio a inflação elevada e avanço econômico modesto

Durante evento, Breno Perrucho, educador financeiro do canal Jovens de Negócio, destacou que os ETFs são opção mais simples para o investidor iniciante do que montar por conta própria uma carteira de ações

Gabriel Navarro (esquerda) e Breno Perrucho em painel do TradeMap Discovery. Foto: Camila Ávila

O quadro inflacionário existente hoje se deve não somente aos gargalos gerados pelas barreiras da cadeia de fornecimento e pela adoção de uma agenda verde – que traz mais pressão com a redução de investimentos em setores como o de petróleo -, mas pelo aumento excessivo de estímulos fiscais e monetários adotados durante a pandemia do coronavírus. A avaliação é de Zeina Latif, ex-economista-chefe da XP Investimentos e secretária de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.

Durante o TradeMap Discovery, evento realizado entre segunda (16) e quarta-feira (18) desta semana, na Arena B3, em São Paulo, Zeina afirmou que o ambiente pós-pandemia é de crescimento modesto, dadas as mudanças na nova ordem global, que devem aumentar as medidas protecionistas no comércio mundial.

No contexto de risco, se atentar à inflação é imprescindível para a preservação de patrimônio. Para Guilherme Aché, sócio-fundador da Squadra Investimentos, no período pós-pandemia, o novo normal é uma inflação que vai ficar acima da meta durante bom tempo. “Vamos ter que conviver com juros reais mais altos.”

Renda fixa

Nesse cenário de inflação alta, pouco crescimento e juros básicos de dois dígitos no Brasil, há uma corrida para a renda fixa. Para Ellen Steter, responsável pela área de estratégia da Ágora Investimentos, uma boa alternativa nesse segmento para o médio e o longo prazos são as LIGs (Letras Imobiliárias Garantidas).

Lançado em 2018, o produto lembra ativos como LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários).

Mas especialistas alertam que os investidores não devem se fixar apenas neste tipo de investimento. É necessário recorrer a múltiplas alternativas.

Dan Kawa, Chief Investment Officer (CIO) e sócio da TAG Investimentos, destacou que, como proteção contra a inflação, os ativos brasileiros oferecem uma boa margem de segurança em meio às expectativas de piora do quadro macroeconômico.

Na renda variável, “tem muita coisa barata que consegue garantir retorno de dois dígitos no futuro”, afirmou Eduardo Mira, o Professor Mira, como é conhecido, em referência aos mercados de ações e fundos de investimentos imobiliários (FIIs).

Bolsa

Na Bolsa, o mundo da renda variável, uma lição a aprender é que um cenário de turbulência e de queda generalizadas de ações, como o atual, pode abrir oportunidades na Bolsa.

Para Will Castro Alves, estrategista-chefe e sócio da Avenue, as baixas recentes têm a ver com o momento natural de aversão ao risco e não com os fundamentos por trás dos ativos.

Mas Lucas PitMoney, influenciador e sócio da Inside Research, ressaltou que a concentração de boa parte da carteira na renda variável não é para todo investidor. Muito menos o iniciante. Por isso é importante se planejar.

Segundo ele, o processo ideal de investimento é definir qual porcentagem do portfólio deve estar em cada classe de ativos. E, de acordo com a variação no valor dos ativos, ajustar o percentual de participação de cada um deles na carteira.

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Diversificar a carteira – por exemplo, com papéis de empresas de diferentes setores e maturidade do negócio – é outra forma de proteção contra os riscos, assim como buscar aplicações em dólar, diz PitMoney.

“O real anda junto com ativos de risco. E o sentimento de aversão ao risco faz com que a gente fique à mercê do mercado global. Por isso a necessidade de dolarizar.” O influenciador acredita que, para quem quer se expor ao mercado global, esta é a hora.

Tanto PitMoney quanto Castro destacaram oportunidades existentes nas big techs americanas. No Brasil, o setor de construção civil também é opção, assim como empresas com receitas vindas da exportação, como WEG (WEGE3), Klabin (KLBN11) e Embraer (EMBR3), assinalam.

Criptomoedas

A exemplo do visto na Bolsa, o momento de grande desvalorização dos criptoativos pode abrir portas para o investidor. Fernando Ulrich, head de educação da Liberta Investimentos, espera outros “solavancos” para os próximos meses, “o que significa mais oportunidade de entrada para quem está pensando no longo prazo”.

Para ele, o ideal é ter no máximo 5% da carteira com esses ativos e priorizar criptomoedas mais seguras e estáveis, como Bitcoin (BTC) e Ether (ETTH). Depois, ir para outras mais promissoras, que são mais especulativas.

Roberta Antunes, sócia e CGO da Hashdex, enfatizou que é importante levar em conta o horizonte de investimento. “Se você vai precisar do dinheiro em seis meses, não coloque em cripto”, diz. Segundo ela, o prazo ideal de investimento nesses ativos é de dois a cinco anos no mínimo.

Por outro lado, na avaliação de Sabrina Coin, empresária e produtora de conteúdo do mercado de criptomoedas, esses ativos não são investimentos, mas uma oportunidade de exposição a uma tecnologia que oferece liberdade financeira – modelo que se assemelha ao do sistema financeiro tradicional, porém, vai no sentido oposto ao da centralização das operações em bancos e demais instituições financeiras.

Para Ulrich, da Liberta, o Bitcoin representa o futuro do dinheiro na internet.

Metaverso

No mundo online, o metaverso já pode ser visto como meio real para a realização de investimentos. “O metaverso e o NFT são evoluções da tecnologia. E, geralmente, quem não acredita acaba cinco ou dez anos depois utilizando”, disse Charles Wicz, responsável pelo canal “Economista Sincero”.

Entre as opções de investimentos, Wicz e George Wachsmann (mais conhecido por Jojô), sócio fundador e Chief Investiment Officer (CIO) da Vitreo, citaram as empresas da linha de frente do desenvolvimento de equipamentos e softwares, como a Nvidia (NVDC34), focada na produção de óculos de realidade virtual e processadores, e a Roblox (R2BL34), referência no mundo de games.

Mas, assim como todo mercado que está dando os primeiros passos, o metaverso é cercado de incertezas e riscos. Para Jojô e Wicz, a melhor proteção para quem for aposta nos ativos é a mesma dada para as criptomoedas: começar com pouco e estudar muito.

Primeiros passos para investir

Com simplicidade e sem pressa. É assim que uma pessoa deve dar os primeiros passos no mundo dos investimentos. E, nesse início, a escolha não precisa ser limitada. Para Breno Perrucho, educador financeiro do canal Jovens de Negócio, à medida que o investidor ganha conhecimento, pode buscar alternativas mais sofisticadas.

Para Gabriel Navarro, educador financeiro e criador de um canal de finanças no Tik Tok, “a chave é viver um degrau abaixo da sua realidade financeira e, assim, ter uma perspectiva melhor de vida no futuro”.

Neste início, aponta Perrucho, o investidor que quiser um rendimento maior que o da poupança pode começar pelo Tesouro Direto, comprando títulos da dívida pública como o Tesouro Prefixado e o atrelado à Selic ou ao IPCA. “Depois que aprender, aí sim é possível o investidor começar a analisar renda fixa privada”, acrescenta.

Para quem prefere a renda variável, a alternativa pode ser pelos ETFs (sigla em inglês para Exchange Traded Funds), que são fundos com cotas negociadas em Bolsa.

Perrucho recomenda começar pelos ETFs porque, ao investir em cotas desses fundos, o investidor fica exposto a um conjunto de ações ou de outros ativos. O BOVA11, por exemplo, é um ETF que replica o desempenho do principal índice de ações da B3, o Ibovespa.

Esse tipo de aplicação, segundo ele, é mais simples para o investidor iniciante do que montar por conta própria uma carteira com vários papéis.

O professor Gustavo Cerbasi, especialista em educação financeira, alertou que o investidor tem que montar uma carteira de acordo com seus objetivos, garantindo primeiro a reserva de liquidez para as necessidades e depois pensando em montar um portfólio de longo prazo em ações e para a previdência, além de buscar proteção com hedge cambial.

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