Inflação alta reduz expectativa de lucro das empresas e afeta bolsas – o que marcou a semana

Anúncio de corte nos juros para financiamento imobiliário na China impediu quedas mais intensas nos mercados globais

Lorena Vieira

Lorena Vieira

Foto: Shutterstock

A inflação voltou a assombrar os mercados mundiais nesta semana, depois que investidores tiveram um gostinho do que os preços altos podem fazer sobre o consumo de uma das maiores economias do mundo.

Duas gigantes do varejo dos Estados Unidos, a Target e o Walmart, divulgaram resultados mais fracos do que se previa para o primeiro trimestre. O motivo, segundo ambas, foi a dificuldade em repassar aos clientes o encarecimento de vários produtos – principalmente alimentos e combustíveis.

Os investidores entenderam isso como um sinal preliminar de enfraquecimento da economia, anterior inclusive à desaceleração que deve ocorrer conforme o banco central do país avança no processo de alta de juros.

A perspectiva de lucros menores à frente fez o mercado reavaliar o preço justo das ações e isso puxou para baixo tanto as bolsas americanas quanto as de outros países.

O que impediu quedas mais intensas foi o anúncio de um corte nos juros para financiamento imobiliário na China – medida vista como uma tentativa do governo local de estimular a economia. Mas a perspectiva de novos lockdowns no país ainda gera preocupação.

Durante apresentação de resultados, a Cisco mostrou pessimismo ao considerar que, mesmo quando houver a reabertura do porto de Xangai, o caos logístico vai continuar diante do congestionamento que se formará para o transporte das mercadorias represadas.

Vale ressaltar que o Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, teve um desempenho menos negativo que seus pares do exterior porque grandes empresas daqui, como Vale e Petrobras, devem ser beneficiadas pelo cenário atual, de preços altos para commodities.

O sinal do verde do TCU (Tribunal de Contas da União) à privatização da Eletrobras foi outro fator que ajudou neste descolamento. O prazo para a operação vai até o fim do primeiro semestre e é apertado, mas o mercado espera ver a companhia privatizada em poucas semanas.

Veja os destaques do noticiário da Agência TradeMap na semana.

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O vermelho da Magalu

O Magazine Luiza saiu do azul no primeiro trimestre de 2021 para um prejuízo ajustado de R$ 98,8 milhões entre janeiro e março deste ano. A empresa reconhece que a conjuntura desafiadora em termos econômicos veio para ficar, com contração monetária e menos renda disponível, e se concentra em como retomar as margens de forma saudável, voltando às médias históricas – deixando de lado a ideia de crescer a qualquer preço.

Dividendos

O mercado brasileiro representa um mar de oportunidades de empresas com alto padrão de pagamento de dividendos. E com a volatilidade vista neste ano, em razão da inflação, taxa de juros e a guerra da Ucrânia, a estratégia de investimento com foco nesses proventos voltou a ganhar notoriedade. O IDIV, índice de dividendos da B3, tem melhor desempenho que o Ibovespa na janela dos últimos 12, 24 e 36 meses.

Shein pulando a muralha

Com interrupções logísticas e o acúmulo de navios nos portos da China, redes varejistas do país asiático podem ter dificuldade em enviar produtos ao Brasil.

Para evitar este problema – e a pressão de concorrentes do país para taxar os produtos que elas enviam para cá -, estas empresas poderiam tentar uma expansão geográfica. E é isso que a Shein resolveu fazer. A empresa começou a montar equipe para operar no Brasil. Contratou Felipe Fleister, ex-diretor do Shopee, para o cargo de gerente-geral da operação local, segundo o NeoFeed, e está com 14 vagas abertas no LinkedIn.

Da LUNA ao chão

O mau humor do mercado mundial nesta semana e o colapso da criptomoeda LUNA jogaram o Bitcoin (BTC) no pior patamar desde dezembro de 2020 e derrubaram os preços das altcoins, ressaltando o grau de volatilidade que o investidor interessado nestes ativos precisa enfrentar. Desde o começo do mês, o BTC já perdeu 20,5% do seu valor, segundo dados do Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

As recentes altas e baixas realmente geram medo e acendem o alerta de risco, mas são movimentos muito menos intensos aos observados até não muito tempo atrás, quando a volatilidade do BTC batia os três dígitos em questão de dias. A despeito disso, o UBS afirmou, nesta semana, que o atual quadro de baixa reitera as percepções de que as criptomoedas ainda são ativos “altamente especulativos” e não funcionam para a diversificação de carteiras.

Sem perdão

Os balanços que trouxeram os resultados das empresas no primeiro trimestre mostraram que o aumento da Selic, rápido como foi, pode ser implacável até para companhias que, em tese, são menos sensíveis à variação dos juros, como as dos setores de saúde e commodities. Ao final do primeiro trimestre, taxa básica de juros estava em 11,75% ao ano, contra 2% 12 meses antes.

Atenção, investidor

Na agenda dos próximos dias, as informações mais relevantes virão de indicadores sobre a atividade do setor privado da Europa e dos Estados Unidos, previstos para terça-feira (24).

Estes relatórios, que serão divulgados pelo IHS Markit, são o termômetro mais atualizado sobre o tamanho da pressão inflacionária sobre as empresas, e se ela está prejudicando as vendas e a produtividade.

No Brasil, no mesmo dia, está prevista aquele que deve ser o dado mais relevante para os mercados domésticos: a prévia da inflação de maio, medida pelo IPCA-15.

A expectativa é a de que a inflação em 12 meses – que em abril atingiu 12,13% – comece a desacelerar, o que reforçaria a tese de que o fim do ciclo de alta de juros no Brasil está próximo.

Outro evento relevante, este previsto para quarta-feira (25), será a divulgação da ata da mais recente reunião de política monetária do banco central dos EUA, o Federal Reserve.

As autoridades da instituição fizeram sinalizações muito claras recentemente de que estão focadas em forçar a inflação a convergir para a meta de 2% ao ano (hoje a taxa está em 8,3%), e que farão isso com aumentos de 0,50 ponto porcentual nos juros nas próximas reuniões. A previsão é que a ata reforce esta mensagem.

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