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Shopee e Shein podem contornar lockdowns da China, mas correm risco no Brasil

Redes de varejo da China vêm incomodando as concorrentes do setor no Brasil - e governo está de olho

Foto: Shutterstock

O regime de “tolerância zero” com a Covid-19 adotado pela China, que motivou uma onda de lockdowns para conter a disseminação da doença, tem causado uma série de preocupações nos mercados, envolvendo desde a desaceleração na economia global até interrupções nas cadeias de produção.

Além dos efeitos globais, os lockdowns também podem ter impactos mais localizados. A política do gigante asiático pode, por exemplo, colocar uma pedra no sapato de um grupo de empresas que tem feito barulho no Brasil: as varejistas chinesas, como Shopee, Shein e AliExpress.

Agora, com interrupções logísticas e o acúmulo de navios nos portos chineses, essas empresas podem ter dificuldade em enviar produtos ao Brasil. Isso, segundo Marcelo Ikaro, gerente associado da Peers Consulting, é especialmente prejudicial, considerando que o modelo de negócio dessas companhias foi construído pensando na exportação.

Já Marcelo Inoue, analista de ações da Perfin, vê menos potencial de impacto vindo dos lockdowns. “Quem compra já espera um prazo muito longo, compra pelo preço”, opina. Assim, uma demora a mais no tempo de entrega não deve ser um problema para essas empresas, na visão do analista.

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Poucas alternativas no cenário

Uma possibilidade que poderia ser estudada por estas empresas para diminuir a exposição às políticas chinesas, segundo Ikaro, é uma expansão geográfica.

“Desde o começo da pandemia, as empresas entenderam que talvez faça sentido não operar só na China, do outro lado do mundo. Precisa ter algo mais próximo. Só que isso não acontece do dia para a noite… Requer investimento, é algo de longo prazo”, explica.

Mais importante do que o problema de prazo, porém, é que a saída da China também coloca em xeque os preços baixos, diferencial competitivo dessas empresas. “Ela não vai ter aquela eficiência de custo que tinha antes, então talvez seus preços cheguem mais perto dos preços das varejistas nacionais”, diz o especialista da Peers Consulting.

Nesse cenário, explica Inoue, as empresas venderiam produtos comprados de fornecedores brasileiros – que, por sua vez, importariam esses produtos da China pagando impostos. Ou seja: as companhias perderiam a atratividade de custos, passando a competir nas mesmas condições com as empresas locais.

Há ameaças maiores que lockdowns

Nos últimos meses, um grupo de empresas brasileiras tem pressionado o governo para tributar os chamados aplicativos cross-border, que vendem produtos importados – neste caso, da China.

O Ministério da Economia, inclusive, estaria discutindo uma medida provisória para tributar qualquer mercadoria comprada nessas plataformas em 60%, independentemente do valor da compra, segundo informações que circularam na imprensa. Atualmente, as taxações ocorrem apenas para produtos acima de US$ 50.

Este tipo de medida poderia inviabilizar o negócio das varejistas chinesas no Brasil, segundo Marcelo Ikaro.

O analista da Perfin concorda: “As compras não são motivadas pela qualidade, pela marca ou pelo prazo, que é muito alongado. É puramente pelo preço. Então, taxando na fonte, uma boa parte desse fluxo de compras seria eliminada.”

De acordo com a equipe de analistas da XP Investimentos, em relatório publicado no início de maio, a medida provisória para taxar os aplicativos chineses tem apoio dentro do ministério, mas é considerada danosa à imagem do governo. “A vemos como potencialmente impopular por reduzir um poder de compra já pressionado do consumidor médio brasileiro”, diz a corretora.

Por outro lado, a XP destaca que a medida, por favorecer as varejistas e a indústria brasileira, poderia impulsionar a geração de renda e emprego no país.

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O tamanho da ameaça

As varejistas brasileiras não estão erradas em se preocupar com o avanço das chinesas por aqui. De acordo com a XP, apenas a Shopee recebeu 140 milhões de pedidos no quarto trimestre do ano passado, o equivalente a cerca de 1,5 milhão por dia.

“É um número gritante. São 700 mil pacotes chegando por dia, mais ou menos”, diz Marcelo Inoue, da Perfin, em referência ao conjunto de empresas cross-border.

Já Marcelo Ikaro, da Peers Consulting, estima que a Shein tenha faturado R$ 2 bilhões no Brasil no ano passado. “Para ter uma noção da força dela, ela já passou H&M e Zara nos Estados Unidos em vendas”, diz.

Inoue acrescenta que o aumento da presença destas empresas no Brasil não ameaça apenas as varejistas, mas também players da indústria nacional, como a fabricante de produtos eletrônicos Multilaser (MLAS3). “O consumidor brasileiro, em vez de comprar o produto da Multilaser, que paga os impostos, acaba comprando um equivalente chinês que vem sem nenhuma taxação”, diz.

Como se posicionar nesse cenário

Considerando a ameaça da Shein para as varejistas de vestuário, o analista da Perfin defende o investimento em empresas com marcas fortes e cujos produtos não podem ser substituídos. Entre estas, Inoue destaca Arezzo (ARZZ3), Grupo Soma (SOMA3), Vivara (VIVA3) e Grupo SBF (SBFG3), dono da marca Centauro e responsável pela venda de produtos Nike no Brasil.

“Quem quer comprar Nike, vai comprar na Centauro. Quem quer comprar um vestido da Farm, vai comprar no Grupo Soma. Quem quiser comprar uma joia de ouro, vai comprar na Vivara. E quem quer comprar um sapato da Schutz e da Arezzo vai comprar na Arezzo. Assim essas empresas estão mais isoladas do efeito Shein”, diz o analista.

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