Mais uma vez, o cenário de elevações nos juros ao redor do mundo pesou sobre as bolsas – e a B3 não foi exceção. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, fechou em baixa de 1,79%, aos 103.25 pontos, com R$ 22,81 bilhões em volume negociado.
Com mais esta queda, o índice reverteu os ganhos que acumulava desde o início do ano, e o saldo de 2022 passou a ser de baixa de 1,5%. A desvalorização acumulada em maio é de 4,29%.
O Ibovespa seguiu a tendência de seus pares no exterior, em dia de pessimismo generalizado. Em Nova York, o Nasdaq fechou em baixa de 4,29%, o S&P 500 caiu 3,2% e o Dow Jones teve baixa de 1,99%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 somou perdas de 2,82%.
Juros vs. inflação
“Por trás do mau humor de investidores seguimos encontrando preocupações com um cenário de economia robusta de um lado, e pressões inflacionárias e elevação de juros do outro”, explica Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, em comentários ao mercado. Este cenário, na visão de Sá, cria temores de uma desaceleração na economia global.
Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) elevou os juros pela décima vez seguida, em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano. É o maior patamar desde fevereiro de 2017, e o avanço deve continuar.
A alta de juros tem como objetivo frear a inflação no Brasil, mas acaba prejudicando as companhias porque diminui a atividade econômica no país. Para empresas que estão em expansão e precisam de capital e financiamento, os juros elevados são duplamente danosos, porque encarecem os empréstimos e diminuem o apelo destas companhias junto aos investidores, que passam a buscar retornos mais garantidos na renda fixa.
Os juros também estão subindo nos Estados Unidos. Na última quarta-feira (4), o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) anunciou um aumento de 0,5o ponto porcentual as taxas, para a faixa de 0,75% a 1,00% ao ano.
China vs. commodities
Junto com as perspectivas de alta de juros, a continuidade da guerra da Ucrânia e dos lockdowns para conter a disseminação da Covid-19 na China também seguem gerando um sentimento de aversão ao risco, segundo a Rachel de Sá.
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Em meio às restrições, a China divulgou os dados de sua balança comercial de abril, que mostrou que as exportações do país desaceleraram para 3,9%. Em relatório, o Banco Central da China (PBoC) informou que irá oferecer apoio localizado a setores que vêm sendo afetados pelas medidas restritivas.
Em resposta aos dados fracos e às declarações do banco, as commodities tiveram queda. O minério de ferro caiu 5,78% na Bolsa de Dalian, para US$ 119,92. Com isso, as ações de siderúrgicas e mineradoras caíram em bloco, com destaque para Vale (VALE3) e CSN (CSNA3), com perdas de 4,1% e 4,51%, respectivamente.
O petróleo tipo Brent, por sua vez, fechou em baixa de 5,74%, a US$ 105,94 por barril, mesmo diante de expectativas de endurecimento das sanções europeias sobre o petróleo russo. Assim, PetroRio (PRIO3) teve baixa de 8,6%, 3R Petroleum (RRRP3) recuou 8,71%, e Petrobras (PETR4) caiu 2,72%.
Nem mesmo o anúncio de um aumento de 8,8% no preço médio do diesel para as distribuidoras da Petrobras, que passará de R$ 4,51 para R$ 4,91 por litro, foi capaz de conter a queda das ações.
Esse é o primeiro reajuste da estatal sob o comando de José Mauro Coelho, que assumiu à presidência em abril, prometendo ao mercado não segurar o preço dos combustíveis. O último reajuste havia ocorrido em março, com base na elevação de preços no mercado. Agora, segundo a estatal, a decisão leva em conta o desalinhamento com o preço do mercado e a volatilidade do valor no mercado, causado entre outros fatores, pelo conflito entre Rússia e Ucrânia.
De acordo com a Abicom (Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis), mesmo com o reajuste indicado, o preço anunciado segue abaixo do observado no exterior. O litro do diesel no mercado doméstico estava 17% menor do que o praticado no exterior. Quando a conta é aplicada sobre o reajuste desta segunda-feira, o preço se mostra 9,8% menor que o mercado global.
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Destaques do pregão
No fechamento, as maiores baixas do Ibovespa eram de Locaweb (LWSA3), Petz (PETZ3) e Magazine Luiza (MGLU3), com quedas de 14,44%, 10,88% e 9,07%, respectivamente.
Mais uma vez, as ações de tecnologia e varejo refletiram os juros. “Entre os destaques negativos, temos quedas de ações com múltiplos mais altos. Nesse momento de risk off [aversão ao risco], tudo o que tem fluxo de caixa muito lá na frente perde bastante”, explica Leandro Petrokas, analista CNPI-T e sócio da Quantzed.
A Embraer (EMBR3), por sua vez, teve queda de 7,98%, mesmo depois de anunciar, na manhã de hoje, que completou a combinação de negócios envolvendo a Eve, sua subsidiária de veículos elétricos de decolagem e pouso vertical, e a empresa americana Zanite.
“A combinação de negócios está em linha com a estratégia de inovação e crescimento da Embraer e a sua consumação reforça o compromisso da companhia de atingir esses objetivos”, destacou a empresa em comunicado.
Outro papel que teve forte baixa foi o de Ecorodovias (ECOR3), de 4,93%, após a companhia informar que o tráfego em suas rodovias em fevereiro recuou 4,7% contra o mesmo mês de 2021.
Em termos de balanços, o Itaú (ITUB4) teve baixa de 1,43% depois da divulgação de seus resultados. O banco registrou um lucro líquido recorrente de R$ 7,361 bilhões no primeiro trimestre, resultado 15,05% maior que o observado um ano antes e superior ao esperado pelo mercado.
O mesmo aconteceu com a Azul (AZUL4), que teve baixa de 4,94%. A companhia registrou melhora no resultado operacional no primeiro trimestre e terminou o período com lucro líquido de R$ 2,6 bilhões – após prejuízo um ano antes. No entanto, o bom resultado final foi reflexo do câmbio sobre instrumentos financeiros da empresa.
Na direção oposta, o BTG Pactual (BPAC11) ficou entre os maiores ganhos do Ibovespa depois de divulgar seu balanço. No fechamento, as maiores altas era de JHSF (JHSF3), BTG Pactual e BRF (BRFS3), com ganhos de 4,11%, 3,61% e 2,75%, nesta ordem.
O BTG reportou lucro líquido ajustado de R$ 2,1 bilhões, alta de 72% em relação ao mesmo período do ano anterior e número recorde na história da instituição. A receita total do BTG subiu 55,6% na mesma base comparativa, e atingiu R$ 4,35 bilhões.
Os números vieram acima das expectativas do Itaú BBA e do UBS-BB, que projetavam R$ 1,7 bilhão em lucros e R$ 3,75 bilhões em receitas no primeiro trimestre.
As ações da BRF, por sua vez, sobem em um movimento de recuperação depois de chegarem a cair 12% na semana passada, de acordo com Petrokas. “Uma alta discreta em comparação com quedas recentes”, diz o analista.
Bitcoin
O Bitcoin despencou nesta segunda-feira para a casa dos US$ 31 mil e arrast103.250ou junto todo o mercado de criptomoedas com a ampliação da fuga de investidores dos ativos de risco.
Por volta das 16h50 (de Brasília), o BTC somava queda de 7,27% em 24 horas, cotado a US$ 32.047, segundo dados da Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.
Este é o pior momento para a principal criptomoeda do mercado em 10 meses e representa queda de 56% do pico de US$ 73 mil, alcançado em novembro do ano passado.
Apesar do quadro negativo, investidores apontam para a abertura de uma janela de oportunidades para entrada de novos investidores.
O pessimismo também impactava as principais altcoins. Na mesma hora, o Ethereum (ETH), segundo maior token, perdia 12,56%, enquanto a Terra (LUNA) registrava queda de 32,15%, conforme a CoinDesk.