Ibovespa derrete após Fed e Copom; balanços também pesam

Incertezas sobre crescimento econômico e inflação pesam sobre os mercados, além de resultados trimestrais

Gabriel Bosa

Gabriel Bosa

Foto: Shutterstock

Depois das decisões de política monetária dos Estados Unidos e do Brasil, com aumentos nas taxas de juros dos dois países, o Ibovespa teve forte queda de 2,81% no pregão desta quinta-feira (5) e fechou aos 105.304 pontos, com R$ 24,13 bilhões em volume negociado. A cautela do mercado reflete temores de uma desaceleração econômica e da persistência da inflação, além de uma série de balanços negativos.

Com essa desvalorização, o saldo de 2022 passou para alta de apenas 0,46%. O balanço de maio, por sua vez, está em queda de 2,38%.

A sangria do Ibovespa não foi um movimento isolado. Em Nova York, o Nasdaq despencou 4,99%, o S&P 500 teve baixa de 3,57% e o Dow Jones perdeu 3,12%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 teve recuo de 0,76%.

BCs seguem roteiro previsto, mas possibilidades assustam

Como esperado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu na quarta-feira (4) elevar os juros em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano, o maior patamar desde fevereiro de 2017 e a décima alta consecutiva da Selic. A decisão foi unânime.

Após considerar por semanas a possibilidade de parar de subir juros na reunião desta quarta, o BC reconheceu pressões inflacionárias maiores do que o esperado e sinalizou que a alta de juros continua, em menor grau, na próxima reunião, em junho.

Na visão do mercado, a chance de o aumento na Selic continuar no segundo semestre aumentou após a sinalização do BC. Com isso, os contratos de juros futuros fecharam em alta, com a avaliação de economistas de que o cenário se mantém altamente incerto, o que foi apontado pelo próprio colegiado no comunicado. Isso pode levar a ajustes de rumo nas próximas semanas e meses.

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Nos EUA, Fed (Federal Reserve, o banco central americano) elevou os juros em 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 0,75% e 1%, e anunciou um plano para recolher gradualmente parte do estímulo que injetou na economia ao longo dos últimos anos.

A decisão veio em linha com o roteiro sinalizado pelo Fed ao longo das últimas semanas e, portanto, ficou dentro do esperado pelos investidores.

Embora o documento trouxesse sinais de que o Fed optou por ser mais constante – em vez de mais agressivo – nos próximos aumentos de juros, também apresentou trechos mostrando a preocupação do banco central com o impacto das medidas de lockdown na China e os efeitos disso sobre a inflação, o que acendeu um alerta entre os investidores -, de que a autoridade monetária poderia intensificar o ajuste nos juros se a pressão inflacionária persistir.

O presidente do Fed, Jerome Powell, diminuiu essa preocupação durante entrevista coletiva concedida após o anúncio da decisão. Ele afirmou que a chance de aumento de 0,75 pp nos juros não está sendo “ativamente considerada” pelo colegiado.

Apesar de as Bolsas dos EUA e do Brasil terem fechado o pregão de ontem em alta em resposta aos cometários de Powell, no mercado de juros futuros dos EUA, as apostas de aumentos mais intensos permaneceram.

Balanços movimentam o pregão

No fechamento, as principais baixas do Ibovespa eram de Totvs (TOTS3), Magazine Luiza (MGLU3) e Banco Inter (BIDI11), com perdas de 11,12%, 10,71% e 9,36%, refletindo a alta dos juros futuros.

A Totvs também repercutiu a divulgação do balanço do primeiro trimestre, em que a companhia registrou lucro líquido de R$ 85 milhões, uma alta de 5,4% em relação a igual período do ano passado. O resultado, embora tenha apresentado crescimento, frustrou analistas de mercado, que esperavam um ganho mais expressivo.

O Goldman Sachs, por exemplo, calculava que a companhia poderia ter um lucro líquido de R$ 151 milhões. Ou seja, o resultado de fato da Totvs veio quase pela metade do que o banco americano imaginava.

Outro papel que reagiu mal ao balanço foi o da BRF (BRFS3), que reportou prejuízo líquido societário de R$ 1,581 bilhão no primeiro trimestre de 2022, ante lucro de R$ 22 milhões anotado no mesmo período do ano passado. De acordo com a companhia, os resultados sofreram impacto do cenário macroeconômico e geopolítico, como a redução de renda da população brasileira e a alta da inflação ao redor do mundo. A ação teve baixa de 6,51%.

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Apesar de ter caído 1,15%, a ação da Energias do Brasil (ENBR3) teve uma das menores desvalorizações entre os papéis do Ibovespa. A companhia viu seu lucro crescer 5,7% nos primeiros três meses do ano, para R$ 522,7 milhões, impulsionada pelo crescimento de todas as áreas de atuação, como geração, transmissão e distribuição.

Na outra ponta, as únicas altas entre as ações do Ibovespa eram de Metalúrgica Gerdau (GOAU4), Suzano (SUZB3), Gerdau (GGBR4) e Klabin (KLBN11), com ganhos de 3,63%, 2,71%, 2,34% e 1,17%, nesta ordem. Todos os papéis que se valorizaram no pregão de hoje repercutiam seus balanços.

O lucro líquido da Gerdau aumentou 19% no primeiro trimestre em relação a um ano antes, para R$ 2,9 bilhões. O resultado foi motivado pelo aumento dos preços do aço – e consequentemente da receita da companhia – na mesma base de comparação.

Além de publicar os resultados, a Gerdau anunciou a distribuição de R$ 973,5 milhões em JCP (juros sobre capital próprio) – ou R$ 0,57 por ação. Terá direito a receber quem fizer parte da base de acionistas da empresa em 16 de maio. O pagamento será feito no dia 25 do mesmo mês.

A empresa também aprovou um programa de recompra de ações. Ao todo, serão adquiridas até 69 milhões de ações preferenciais – ou 10% dos papéis em circulação. O prazo para a conclusão do programa de recompra é de 18 meses.

A Suzano, por sua vez, registrou lucro líquido de R$ 10,3 bilhões no primeiro trimestre deste ano, após ter anotado um prejuízo de R$ 2,7 bilhões em igual período do ano passado. A Suzano se beneficiou principalmente do aumento do preço médio líquido da celulose e do papel, compensando a alta de custos e paradas de manutenção.

Depois do fechamento de hoje, destaque para os balanços de Bradesco (BBDC4), Natura (NTCO3), Engie (EGIE3), Rumo (RAIL3), Petrobras (PETR4), Fleury (FLRY3) e Lojas Renner (LREN3).

Bitcoin

O Bitcoin (BTC) entrou em queda livre no final da manha desta quinta-feira com os investidores repercutindo os impactos da alta dos juros norte-americanos e em linha com o mau humor que dominava o mercado de ações.

Após beirar os US$ 40 mil, a principal criptomoeda do mercado inverteu o sinal e bateu a mínima de US$ 36.443.

Por volta das 16h50 (de Brasília), o BTC registava queda de 6,89% em 24 horas, cotado a US$ 36,741, segundo dados da Mercado Bitcoin disponíveis na plataforma TradeMap.

O mergulho trouxe junto as principais altcoins. Na mesma hora, o Ethereum (ETH) perdia 8,25%, enquanto a XRP cedia 7,89%, conforme a CoinDesk.

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