Como esperado pelo mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) decidiu nesta quarta-feira (4) elevar os juros em 1 ponto percentual, a 12,75% ao ano, o maior patamar desde fevereiro de 2017 e a décima alta consecutiva da Selic. A decisão foi unânime.
O colegiado sinalizou no comunicado uma alta menor dos juros na próxima reunião, em junho.
“Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação”, afirmou o Copom no comunicado da decisão.
O atual ciclo de aperto monetário começou em março do ano passado, quando a taxa básica estava em 2% ao ano, menor patamar da história. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia de Covid-19, que provocaram uma série de choques de oferta pelo mundo, além da invasão da Ucrânia pela Rússia, obrigaram o colegiado a realizar aumentos rápidos e intensos nos juros.
A decisão se dá em um momento em que as expectativas para a inflação de 2023 (que é o horizonte que o BC está olhando hoje) se afastam cada vez mais do centro da meta para o ano, que é de 3,25%, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo.
Nesta segunda (2), o Boletim Focus mostrou que os analistas ouvidos semanalmente pelo BC já acreditam que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) chegará a 4,10% em 2023, bem acima do objetivo fixado pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). Os especialistas ainda esperam que a Selic termine 2022 em 13,25% ao ano, e 2023 em 9,25% ao ano.
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A polêmica do petróleo
A ata da reunião de março do Copom, quando a autoridade monetária elevou os juros a 11,75% ao ano, trouxe uma novidade polêmica à política monetária.
O comitê adotou como perspectiva mais provável para a cotação do petróleo, que vem disparando com a guerra na Ucrânia e que tem grande peso sobre a inflação, a precificação do mercado futuro.
Isso coloca o barril cotado a pouco mais de US$ 100 até o final do ano que vem, um pano de fundo muito mais benéfico para a inflação do que os US$ 121 que o BC vinha considerando anteriormente.
Nesse cenário, a inflação chegaria ao final de 2023 abaixo de 3,25%, que é o centro da meta para o ano que vem –essa presunção vem sendo duramente criticada pelo mercado, inclusive pelos bancos, já que a maior parte dos analistas acredita que os preços subirão acima de 4% no ano que vem.
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Veja a íntegra do comunicado.
Em sua 246ª reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 12,75% a.a.
A atualização do cenário do Copom pode ser descrita com as seguintes observações:
- O ambiente externo seguiu se deteriorando. As pressões inflacionárias decorrentes da pandemia se intensificaram com problemas de oferta advindos da nova onda de Covid-19 na China e da guerra na Ucrânia. A reprecificação da política monetária nos países avançados eleva a incerteza e gera volatilidade adicional, particularmente nos países emergentes;
- Em relação à atividade econômica brasileira, o conjunto dos indicadores divulgado desde a última reunião do Copom indica um crescimento em linha com o que era esperado pelo Comitê;
- A inflação ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente. Essa surpresa ocorreu tanto nos componentes mais voláteis como nos itens associados à inflação subjacente;
- As diversas medidas de inflação subjacente apresentam-se acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação;
- As expectativas de inflação para 2022 e 2023 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 7,9% e 4,1%, respectivamente; e
- No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95*, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). Optou-se por manter a premissa de que o preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura de mercado até o fim de 2022, terminando o ano em US$100/barril e passando a aumentar 2% ao ano a partir de janeiro de 2023. Adota-se a hipótese de bandeira tarifária “amarela” em dezembro de 2022 e dezembro de 2023. Nesse cenário, as projeções de inflação do Copom situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023. As projeções para a inflação de preços administrados são de 6,4% para 2022 e 5,7% para 2023. O Comitê julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual.
O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais em moeda local; e (ii) uma desaceleração da atividade econômica mais acentuada do que a projetada. O Comitê avalia que a conjuntura particularmente incerta e volátil requer serenidade na avaliação dos riscos.
Considerando os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 12,75% a.a. O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Copom considera que, diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista. O Comitê enfatiza que irá perseverar em sua estratégia até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.
Para a próxima reunião, o Comitê antevê como provável uma extensão do ciclo com um ajuste de menor magnitude. O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação. O Copom enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para suas metas, e dependerão da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação para o horizonte relevante da política monetária.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Bruno Serra Fernandes, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Sérgio Neves de Souza e Renato Dias de Brito Gomes.
*Valor obtido pelo procedimento usual de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos cinco dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.