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BC sinaliza alta menor no próximo Copom, mas não se compromete com fim do ciclo

Do ano passado para cá, o Copom promoveu o maior choque de juros desde 1999, na crise cambial

Silvia Rosa

Silvia Rosa

Foto: Shutterstock

Após considerar a possibilidade de parar de subir juros na reunião desta quarta, o Banco Central reconheceu pressões inflacionárias maiores do que era esperado e sinalizou no comunicado da decisão de hoje — a Selic subiu 1 ponto, a 12,75% ao ano— que a alta de juros continua, em menor grau, na próxima reunião, em junho.

Ao mesmo tempo, não se comprometeu com o final do ciclo atual. De março do ano passado para cá, a taxa básica subiu 10,75 pontos, o maior choque de juros de um ciclo de aperto monetário desde 1999, quando, em meio à crise cambial, o BC elevou a taxa em 20 pontos percentuais em uma só reunião.

Apesar de a decisão não ter surpreendido quase ninguém — a maior parte dos analistas acreditava em um aumento dessa magnitude –, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) colocou de lado a ideia de que a inflação pode caminhar para a meta em 2023 sem um ajuste adicional de juros.

Na ata da reunião do colegiado em março, e em declarações posteriores do presidente do BC, Roberto Campos Neto, o comitê havia indicado que acreditava em uma inflação dentro da meta do ano que vem — para isso, adotou um cenário alternativo, em que o barril do petróleo não passará muito dos US$ 100 o barril em 2023.

Esse cenário foi duramente criticado pelo mercado, e após a inflação voltar a surpreender negativamente, o BC reconheceu que reavaliaria suas projeções para a inflação — no comunicado desta quarta, projetou que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) irá a 3,4% no ano que vem, acima da meta de 3,25%.

Os analistas ouvidos pelo Boletim Focus esperam uma taxa básica de 13,25% no final deste ano.

“Apesar das declarações de Roberto Campos Neto, os dados de inflação surpreenderam para cima, e existia uma expectativa de que o BC teria que continuar um pouco mais o processo de aumento de juros, para controlar as expectativas e evitar descontrole”, afirmou o economista-chefe da Genial Investimentos, José Márcio Camargo.

Décima alta consecutiva

A taxa básica já está no maior patamar desde fevereiro de 2017, e o aumento de hoje foi o décimo consecutivo, em uma decisão unânime mas demorada do colegiado — da mesma forma que ocorreu na reunião anterior, em março, o anúncio, que tradicionalmente acontece pouco depois das 18h30, foi feito após 19h.

“Nosso cenário é de mais uma alta final de 0,5 ponto da Selic em junho. O BC não quis se comprometer agora com o fim de aperto monetário, sinalizando que os futuros passos podem ser ajustados para garantir a convergência da inflação à meta”, diz Alessandra Ribeiro, sócia e diretora da área de macroeconomia e análise setorial da Tendências Consultoria.

Para Ribeiro, o tamanho do choque de juros já é relevante e o Banco Central agora deve querer esperar para ver os efeitos do aperto monetário sobre a inflação.

A Tendências prevê um IPCA de 7,4% neste ano e de 3,7% para 2023.

No cenário do BC, que considera o preço do barril de petróleo a US$ 100 e bandeira tarifária de energia amarela, as projeções de inflação situam-se em 7,3% para 2022 e 3,4% para 2023, acima da meta de 3,25% para o ano que vem.

O risco para a inflação, segundo a especialista, é de um recrudescimento da guerra na Ucrânia que impacte as exportações de petróleo e gás na Rússia e leve a um aumento maior do preços dos combustíveis.

“Apesar de confirmar o que já vinha sendo falado de uma alta menor na próxima reunião, o BC deixou a palavra ‘provável’ o que dá um benefício de dúvida de não fazer essa próxima alta. Por isso, considero levemente dovish [propenso a menos aumento nos juros]”, diz Marcelo Oliveira, CFA e fundador da Quantzed, empresa de tecnologia e educação financeira para investidores.

Porta aberta

Analistas e gestores apontaram ainda que o BC não indicou que encerrará o ciclo na próxima reunião.

“O BC não fechou a porta de vez para uma próxima alta além de junho”, afirma Getúlio Ost, gestor de renda fixa da SulAmérica Investimentos. A SulAmérica espera mais uma alta de o,5 ponto na próxima reunião, com a taxa Selic encerrando o ciclo de aperto monetário em 13,25%.

Ost lembra que, diferentemente de outros países, o Brasil começou o ciclo de aperto monetário muito antes, e que ainda que tenha alguma surpresa com uma aceleração maior da alta de juros nos EUA, o BC faria esse ajuste permanecendo com a taxa Selic por mais tempo em patamar elevado. “A discussão agora é quando o BC deve sinalizar um corte de juros no ano que vem”, disse.

Para Ost, mesmo que o BC interrompa o ciclo de alta de juros na próxima reunião, o diferencial de juros no Brasil para os Estados Unidos, com taxa de juros entre 0,75% e 1%, continua muito relevante.

Impacto para os mercados

Sem grandes surpresas com o Copom, Ost espera que as taxas de juros no mercado futuro podem até ter um ajuste marginal para cima, com parte do mercado ainda mantendo uma aposta pequena em uma extensão do ciclo de aperto monetário além de junho.

Para Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, é possível que o câmbio se aprecie nesta quinta-feira. “É possível que vejamos algum ajuste adicional na curva de juros, com eventual apreciação do câmbio. A Bolsa inevitavelmente deve sofrer algum baque com a política monetária contracionista”, afirmou.

Saiba mais: 
Às vésperas de reunião do Copom, mercado eleva aposta para taxa Selic em 2023, aponta Focus

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