Criada a partir da união entre NRE Educacional e Medcel, faculdades especializadas em Medicina, a Afya (NASDAQ: AFYA) tem sido um caso de sucesso desde 1999, quando surgiu ao mercado.
A gestora Bozano, que mudou de nome para Crescera — e tinha o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, como um dos sócios — idealizou o negócio e colocou a Afya à frente do setor. Hoje, as empresas correm atrás dos cursos ligados à saúde em busca de maior rentabilidade da operação.
Na noite da última terça-feira (5), a companhia deu mais um passo rumo à ampliação de sua operação. A Afya adquiriu a CardioPapers, plataforma de conteúdo e educação médica na área de cardiologia.
O valor é de R$ 35 milhões em dinheiro. Outros R$ 15 milhões estão ligados a metas, como receita, a serem desembolsados entre 2023 e 2024.
A CardioPapers oferece cursos e livros que acompanham os médicos em toda a trajetória da carreira. Hoje, são cerca de sete mil alunos, que devem gerar uma receita bruta de R$ 18 milhões à plataforma.
O negócio vai ao encontro da proposta de geração de valor da Afya aos seus clientes. A companhia consiste num ecossistema de faculdades e healthtechs, atuando junto aos profissionais de saúde da graduação à última especialização.
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A empresa abriu capital na Nasdaq em 2019, levantando US$ 300 milhões. Com o bolso cheio e as atividades aquecidas, a companhia tem reportado resultados positivos. No acumulado de 2021, a receita líquida somou R$ 1,71 bilhão e o Ebitda ajustado R$ 755 milhões, altas de 43% e 34% em comparação a 2020, respectivamente.
Para este ano, o guidance aponta para um faturamento líquido de até R$ 2,36 bilhões e um Ebitda de até R$ 1,01 bilhão. Isso perfaz uma margem Ebitda potencial de 43% – a mesma deste ano.
A rentabilidade praticada explica a busca incessante do mercado para produtos ligados à saúde.
A busca pela eficiência
A margem Ebitda é uma amostra da eficiência operacional da empresa, pois demonstra a margem de lucro sem considerar os custos com juros, impostos, depreciação e amortização.
Dentre as companhias do setor educacional listadas na B3, não há nenhuma empresa com o patamar de lucratividade operacional da Afya.
(últimos 12 meses) | Cogna | Ser Educacional | YDUQS | Anima | Cruzeiro do Sul |
Margem Ebitda | 10,80% | 25,75% | 27,91% | 26,56% | 22,37% |
Margem Líquida | -10,24% | 3,73% | 3,60% | -3,31% | 4,56% |
ROIC | 0,15% | 9,02% | -15,54% | 5,60% | 19,40% |
A busca pela eficiência é notória no setor, que tem voltado seus esforços cada vez mais à ampliação de seu ensino a distância, com altos investimentos em tecnologia e digitalização, assim como por cursos de medicina e correlatos.
Em cursos – ou produtos, no caso de plataformas e ecossistemas – de maior valor agregado e, consequentemente, maior tíquete médio, as margens são maiores e os custos são repassados com mais facilidade.
Esses alunos tendem a ter LTV (life time value), o valor que um cliente retorna ao longo do tempo, maior, justamente por conta da duração dos cursos e constante necessidade de atualização. Nesse sentido, a Afya já está com os dois pés à frente.
De acordo com um estudo da Ondina Investimentos, recifense especializada em fusões e aquisições e dívida estruturada, um aluno deste curso vale, em média, R$ 1,4 milhão.
O foco de companhias de educação que não são voltadas exclusivamente à medicina, diferentemente da Afya, é encontrar um equilíbrio entre o EAD para a maior parte dos cursos e deixar o presencial para medicina e medicina veterinária, por exemplo.
A Cogna (COGN3), por exemplo, colocou na rua a Krotonmed, com operação asset light que visa uma receita líquida de R$ 482 milhões e Ebitda de R$ 244 milhões já neste ano.
A YDUQS (YDUQ3), por sua vez, tomou um caminho similar à Afya. No mês passado, a empresa pagou R$ 52 milhões pela Hardwork, edtech pautada em tecnologia para preparação de alunos para provas de residência médica, com foco em R1 e Revalida.
Por enquanto, o mar não está para peixe. O setor tem acumulado resultados aquém do esperado, sofrendo com o cenário macroeconômico mais desafiador – que induz a uma maior inadimplência – e arrefecimento do Fies, o que se reflete nas ações.

Por volta das 13h30 desta quarta-feira, as ações da Cogna caíam 5,03%, da YDUQS, 3,20%, ao passo que a Anima recuava 3,73%. Os papéis da Ser Educacional e da Cruzeiro do Sul tinham baixa de 1,18% e 1,30%, respectivamente, em movimento negativo de todo o mercado na sessão.
Na Nasdaq, as ações da Afya iniciaram o dia em queda, mas inverteram e negociavam com alta de 1,12%, a US$ 14,06.
Para a Afya, as avenidas de crescimento são claras. A tendência, porém, é que a concorrência aumente ao longo dos próximos anos.