A Cogna Educação, dona da Kroton, uma das empresas do segmento mais afetadas pelo isolamento social imposto nos últimos dois anos, conseguiu deixar o pior da pandemia para trás e apresentou, nos últimos três meses de 2021, uma melhora significativa dos resultados financeiros, de acordo com balanço publicado na quinta-feira (24).
Em teleconferência com analistas nesta sexta-feira (25), a companhia afirmou que o impulso para a retomada tem vindo da aposta no ensino a distância (EAD) para os cursos da Kroton, de ensino superior, seja no modelo totalmente digital ou no híbrido.
No quarto trimestre, enquanto a base de alunos da Kroton no modelo presencial caiu 19,7% em relação a igual período do ano anterior, a base de EAD cresceu 15,1%. O crescimento no ensino a distância mais do que compensou a queda vista no presencial e fez a base total da empresa aumentar 5,2%, para 860 mil.
Foco em EAD
A estratégia, ainda que a pandemia tenha arrefecido, é seguir com foco no EAD para a maioria dos cursos, deixando o presencial para os de maior valor, como medicina.
Por envolver custos menores, o EAD permitiu à Kroton, principal negócio da Cogna, dar um salto de 25 pontos percentuais (p.p.), em um ano, na margem em relação ao Ebitda (lucro antes de impostos, juros, depreciações e amortizações), para 28,7%, no quarto trimestre do ano passado.
A Cogna viu esse avanço se refletir nos números do grupo como um todo, que deixou de ter um margem negativa de 6,1%, no quarto trimestre de 2020, para alcançar 27,3%, nos últimos três meses de 2021. “Entramos em um novo patamar de rentabilidade”, disse o CEO da Cogna, Rodrigo Galindo, durante a em teleconferência.
Barreiras
A empresa, porém, registrou prejuízo líquido de R$ 210 milhões em 2021 e não deverá ter uma vida fácil em 2022. No quarto trimestre, conseguiu reduzir o prejuízo ajustado em 87,3%, para R$ 74,94 milhões.
Para conseguir manter o nível de rentabilidade obtido no quarto trimestre ou elevá-lo, a empresa terá três grandes barreiras pela frente neste ano, disse o vice-presidente da Cogna, Frederico Villa.
A primeiro delas é a receita da Kroton, que caiu 13,4% em 2021 e não deve voltar a crescer em 2022, em razão do efeito negativo causado pelo modelo presencial, que deve seguir com faturamento em queda neste ano.
Mas, como a tendência é que o EAD siga crescendo em participação e parte do presencial vá ficando para trás, a Cogna acredita que a receita total da Kroton deve voltar a crescer a partir de 2023.
O segundo ponto é que, com a pandemia se aproximando do fim, alguns cursos devem voltar ao presencial em 2022, o que vai pressionar os custos da empresa.
“São mais gastos com energia elétrica, água, segurança e limpeza, por exemplo”, ressaltou Villa. Ele ponderou que o grupo passou por uma reformulação da sua rede durante a pandemia e tem, hoje, uma estrutura mais leve.
A terceira barreira é macroeconômica. Os preços estão subindo de maneira geral e, com isso, a empresa passa a ter mais dificuldade para suportar o aumento dos custos. “Ninguém esperava que a inflação fosse tão persistentemente alta”, disse o vice-presidente financeiro.
Ainda assim, Villa afirmou que a empresa vai perseguir um “pequeno crescimento ou estabilidade” da margem em 2022.
Disciplina de preço
Apesar dos desafios macroeconômicos, a companhia está otimista com a captação de novos alunos. Embora ainda não possa divulgar projeções, o que só deve ocorrer após a publicação do balanço do primeiro trimestre deste ano, a Cogna acredita que a Kroton deve ter uma expansão de “dois dígitos” tanto no presencial quanto no EAD, mas com uma taxa maior para o ensino remoto.
Como o foco é garantir a manutenção ou o aumento da rentabilidade, porém, a empresa não pretende ser agressiva na guerra de preços entre as instituições de ensino. “Teremos disciplina de preços, sem atacar volume”, afirmou o CEO.
Em relatório distrbuído após a divulgação do balanço, os analistas da XP ressaltaram que a receita da Kroton foi, como esperado, o ponto negativo, mas ponderaram que a recuperação da margem Ebitda, após a reestruturação da companhia durante a pandemia, é uma boa notícia.
“A nosso ver, mostra um cenário mais construtivo para a empresa daqui para frente”, escreveram os analistas Rafael Barros e Larissa Pérez. A visão da corretora para a Cogna continua neutra, em razão das incertezas sobre o lucro do negócio no curto prazo.
Por volta das 14h30, a ação da empresa liderava as altas do Ibovespa, com avanço de 16,02%.