
O susto dos investidores com as perdas no fundo Nu Reserva Planejada, do Nubank, e de outros fundos DIs que investiam em papéis de dívida da Americanas (AMER3) trouxe uma dúvida sobre quais os investimentos de fato oferecem baixo risco para a aplicação da reserva de emergência.
Os investimentos destinados a reserva de emergência, que é aquele dinheiro que o investidor pode precisar no curto prazo ou que ele quer deixar em caixa até encontrar uma boa oportunidade de alocação, precisam ter três características.
São elas: liquidez diária, serem pós-fixados e de baixo risco e baixa volatilidade, afirma Loni Batist, diretora do Guia Financeiro, plataforma educacional da Guide Investimentos.
Segundo Batist, o tamanho da reserva de emergência pode variar de três a 12 meses do valor da despesa mensal de cada investidor, e vai depender dos fatores de segurança extra que ele tem, como se tem emprego de carteira assinada, seguro de vida, plano de saúde e renda fixa mensal, entre outros fatores.
Veja abaixo algumas opções de investimento de baixo risco para aplicar a reserva de emergência.
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Tesouro Selic
O investimento em títulos públicos pós-fixados (Tesouro Selic) é a opção com menor risco de crédito para os investidores aplicarem os recursos da reserva de emergência. Isso porque o risco de um calote do governo é menor que o de uma empresa ou banco privado.
Esse papel oferece um retorno atrelado à taxa Selic, que hoje está em 13,75%. A média da projeção dos analistas para a taxa básica de juros no fim de 2023, segundo o último Boletim Focus, publicado em 16 de janeiro, é de 12,50%.
Contudo, mesmo esse investimento mais conservador pode apresentar rentabilidade negativa. Foi o que aconteceu em 2020, quando os investidores exigiram taxas de juros mais altas para financiar o governo diante do aumento do risco fiscal.
“O Tesouro Selic tem baixo risco de inadimplência, mas tem risco de mercado, de volatilidade”, diz Fernando Camargo Luiz, gestor da Trópico Investimentos.
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CDB com liquidez diária
Outra opção de investimento com baixo risco de crédito para investir a reserva de emergência são os CDBs (Certificados de Depósito Bancário) de grande bancos com liquidez diária e pós-fixados, ou seja, atrelados ao CDI ou à Selic, diz Christopher Galvão, analista da Nord Research.
Na plataforma do TradeMap, há uma opção de CDB com liquidez diária do Bradesco (BBDC4) para o prazo de dois anos pagando 100% do CDI. Nesse caso, mesmo que o vencimento do papel seja de dois anos, o investidor pode vender o título quando quiser.
CDBs de bancos médios costumam oferecer uma taxa de retorno maior, mas é preciso avaliar o risco do emissor. A Órama, por exemplo, recomenda o investimento no CDB com liquidez diária do Banco Master, que paga uma remuneração de CDI mais 1,69% pelo prazo de dois anos.
“Se o investidor quiser maior rentabilidade, ele vai ter que abrir mão de liquidez ou segurança”, disse Gilvan Bueno, sócio e gerente educacional da Órama.
No caso dos CDBs de bancos médios é preciso fazer uma análise da solidez financeira do banco e avaliar a consistência dos resultados, alerta Galvão.
Importante lembrar que os CDBs contam com a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) até o limite de R$ 250 mil por instituição, considerando os rendimentos do papel, com limite de pagamento de até R$ 1 milhão por CPF, a cada quatro anos. Mas há casos em que o FGC pode demorar a fazer o pagamento, alerta Luiz, da Trópico.
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Conta remunerada
Alguns bancos digitais como o PicPay, Nubank (NUBR33) e Mercado Pago oferecem a opção de rendimento automático do dinheiro disponível em conta, remunerado pelo CDI. Em geral, os recursos são aplicados no CDBs dos próprios bancos. Contudo, Batist afirma que só vale a pena esse tipo de investimento se ele tiver remuneração diária.
O Nubank, por exemplo, alterou a regra de rendimento da Nuconta no ano passado, e o dinheiro só vai render depois que permanecer lá por 30 dias.
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Fundos de renda fixa sem crédito privado
Muitos investidores tiveram um susto com a rentabilidade negativa do fundo NU Reserva Planejada e de outros fundos DI de grandes bancos, como do Banco do Brasil(BBAS3), Itaú Unibanco (ITUB4), Banestes e Credit Suisse em função do investimento em títulos de dívida da Americanas.
Esses fundos possuem portfólios compram títulos públicos do governo atrelados à taxa Selic ou títulos privados indexados ao CDI com baixo risco de crédito.
O fundo Nu Reserva Imediata, por exemplo, é classificado pela Anbima como uma carteira Renda Fixa Duração Baixa Grau de Investimento. Isso significa que o fundo pode investir em títulos de curto prazo de emissores com baixo risco de crédito. Pelo regulamento do fundo, a carteira pode investir até 50% do portfólio em títulos emitidos por bancos e empresas.
Em setembro, a carteira tinha 0,95% do portfólio em papéis da Americanas. No mês, até 19 de janeiro, o fundo apresenta perda de 0,59%.
O head de análise e sócio da Levante, Enrico Cozzolino, destaca que o investidor não deve escolher o fundo apenas pelo nome dele. “Fundos que investem em títulos de dívida corporativa não são para a reserva de emergência”, diz.
Uma forma dos investidores buscarem por fundos DI que só investem em títulos públicos é olhar a classificação Anbima dele na lâmina do produto.
Por exemplo, os fundos DI classificados como tipo Anbima “Renda Fixa Simples” precisam investir pelo menos 95% do seu patrimônio em títulos públicos federais, títulos de renda fixa emitidos por instituições financeiras com classificação de risco semelhante à dos títulos públicos (como CDBs de grandes bancos) ou operações compromissadas, e têm que ter taxa de administração baixa, afirma Bueno.
Nesse caso, o risco dessas carteiras investirem em títulos de dívida de empresas ou outros ativos de crédito privado corporativo é muito pequeno.
Os fundos classificados como “Renda Fixa Soberano” também só podem investir em títulos públicos segundo a Anbima (Associação Brasileira de Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Esses fundos podem ser classificados como duration (prazo médio dos ativos em carteira) alta, média e longa. No caso das aplicações para a reserva de emergência, Bueno afirma que é melhor os investidores escolherem os fundos de renda fixa soberano com duration baixa, isto é, que investem em papéis do Tesouro Nacional com prazos mais curtos, que costuma ter menor volatilidade.
Contudo, um fundo renda fixa soberano duration baixa pode investir tanto em papéis pós-fixados quanto prefixados.
Por isso, o investidor tem que ficar atento ano nome do fundo, se ele for um referenciado DI com classificação Anbima “Renda Fixa Duration Baixa Soberano”, quer dizer que ele investe basicamente em papéis do Tesouro Selic.
Já se o fundo DI tiver a denominação “Credito Privado” no nome significa que ele poderá ter uma parcela maior de crédito privado na carteira, diz Batist.
Bueno, da Órama, afirma que não tem mágica: quanto maior o retorno maior o risco. “Se um fundo está dando bem acima do benchmark, 120%, 130% do CDI, provavelmente ele teve que investir em papéis de maior risco que o título público”, disse.
No caso dos fundos, é preciso ficar atento à taxa de administração, já que um fundo DI com taxa alta pode ter um retorno abaixo do papel Tesouro Selic.
Hoje há várias opções no mercado de fundos DI renda fixa simples atrelados ao CDI que não cobram taxa de administração, como o Órama DI-FI RF Simples, Vitreo Selic FI RF Simples, Fundo Tesouro Selic Simples, do Modal, BTG Pactual Investe Mais Simples e o Trend DI Simples, da XP.
“Um fundo para aplicação da reserva de emergência tem que render pelo menos 100% do CDI, se não perder para o Tesouro Selic”, diz Bueno.
O fundo Trópico Cash Plus, apesar de ter a classificação de multimercado livre, também não investe em papéis de crédito privado, afirma Luiz. “O fundo só investe em título público e faz operações a termo”, disse. A carteira tem taxa de administração de 0,8% e aplicação mínima de R$ 1mil.
Os investimentos em papéis de renda fixa pagam uma tributação de Imposto de Renda que varia de 22,5% a 15% após dois anos. Já os fundos DI possuem a cobrança do imposto automático semestral, chamado de come-cotas.
Cozzolino recomenda aos investidores diversificarem a alocação dos recursos destinados para a reserva de emergência em mais de um investimento para reduzir o risco da carteira.
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