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Copom eleva preocupação com cenário fiscal e não descarta nova alta de juros

Copom manteve Selic em 13,75% pela terceira reunião consecutiva e sinalizou a manutenção da taxa em patamar elevado por tempo prolongado

Foto: Shutterstock/Brenda Rocha - Blossom

Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) reforçou no comunicado da decisão sobre a taxa básica de juros o aumento da preocupação com o cenário fiscal e reafirmou que pode manter a taxa Selic em patamar elevado por mais tempo ou até voltar a apertar a política monetária para garantir a ancoragem da inflação à meta.

O Copom manteve, nesta quarta-feira (7), a taxa Selic estável em 13,75% pela terceira reunião consecutiva, como esperado pelo mercado.

O colegiado acrescentou no comunicado um parágrafo que ressalta que terá “especial atenção” com a política fiscal, destacando que acompanhará os desenvolvimentos dos seus efeitos nos preços de ativos e expectativas de inflação.

Para Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, o BC elevou o tom em relação à preocupação com o cenário fiscal, o que já era esperado pelo mercado.

“O BC apontou que vê elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais adicionais que impliquem sustentação da demanda agregada, em linha com as últimas falas do presidente do BC [Roberto Campos Neto]”, diz Damico.

O aumento da incerteza fiscal, segundo Damico, eleva o prêmio de risco no mercado, o que tem impacto na depreciação do câmbio e afeta a desaceleração da inflação, que vinha em uma tendência benigna de queda, aponta a economista da Armor.

As projeções de inflação no cenário de referência do BC subiram e situam-se em 6,0% para 2022 e 5,0% para 2023, acima da meta de 3,5% e 3,25% respectivamente. A projeção para 2024 encontra-se em torno da meta de 3%.

“Uma política fiscal mais frouxa requer uma política monetária mais apertada, mas o BC já vinha fazendo referência ao impacto da incerteza fiscal nos comunicados anteriores”, afirma Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra.

O Banco Fibra mantém a projeção de manutenção da taxa Selic em 13,75% até o fim de 2023. “Já tínhamos essa projeção, pois, independentemente de quem ganhasse a eleição, não estávamos esperando que o próximo governo iria fazer um aperto fiscal”, diz Oliveira.

A Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Transição, aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), prevê aumento de R$ 145 milhões no limite do teto de gastos para financiar o pagamento de R$ 600 do Bolsa Família, que deve substituir o Auxílio Brasil.

O impacto fiscal deve ser ainda maior uma vez que está previsto um gasto de R$ 24 bilhões fora do teto de gastos.

Para a Ativa Investimentos, uma trajetória explosiva das contas públicas certamente afetará as expectativas, o que faria o Banco Central prolongar o atual patamar de juro ou até retomar o ciclo de altas. A casa mantém a projeção da Selic em 13,75% até, pelo menos, a reunião de maio de 2023.

“Contudo, estamos atentos às questões fiscais e não hesitaremos em alterar nosso cenário-base com a definição dos projetos fiscais em tramitação no Congresso”, aponta Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, em relatório.

Para Oliveira, o importante é qual será a nova âncora fiscal que deve ficar no lugar do teto de gastos e seu impacto para a trajetória da dívida pública.

“A gente vislumbrava queda da taxa Selic para 11,25% no fim de 2023, mas como não temos certeza de que teremos uma política fiscal crível, que aponte para estabilização do patamar da dívida pública, não consigo descartar o pior cenário que seria de uma nova alta de juros”, diz Damico.

Mercado precifica postergação do corte de juros

Com o aumento do risco fiscal, o mercado postergou as apostas para o corte de juros, que antes era esperado para o fim do primeiro trimestre e agora está no início do segundo semestre de 2023.

Há casas, inclusive, prevendo aumento da taxa Selic para 14%no fim de 2023 em função do aumento dos gastos do governo.

“O mercado precificava um exagero no corte de juros para 2023, que chegou a três pontos percentuais há dois meses e hoje está em 0,50 ponto, mas o risco do BC retomar o ciclo de aperto nunca foi desprezível”, diz Oliveira.

Segundo o economista do Banco Fibra, o BC não necessariamente precisará elevar a taxa Selic novamente para manter a política monetária em terreno contracionista. Isso porque há uma expectativa de desaceleração da atividade econômica em 2023 e a queda da inflação deve elevar a taxa de juro real.

O que pode mudar esse cenário, segundo Oliveira, seria uma grande desinflação no cenário global, que poderia contribuir para a queda dos preços de commodities e da inflação no Brasil e abrir espaço para o BC cortar a taxa de juros no segundo semestre.

Para Damico, o que pode levar o mercado a rever as apostas no mercado de juros é qual será o tamanho final do aumento no teto de gastos na PEC da Transição, e a nomeação da equipe econômica do novo governo.

“Há grande chance do ministro da Fazenda ser o Haddad [Fernando Haddad , ex-prefeito de São Paulo], mas tudo vai depender de quem serão os nomes do segundo escalão na pasta e de quem será o ministro do Planejamento, se será um nome com perfil mais liberal ou não, além das primeira falas do ministro da Fazenda ao mercado sobre a política fiscal”, diz Damico.

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