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Os fantasmas que devem assombrar bancos como Bradesco (BBDC4) e Banco do Brasil (BBAS3) em 2023

As expectativas para os juros pioraram e a inadimplência deve continuar como o grande tema dos bancos neste ano

Foto: Shutterstock/casa.da.photo

A inadimplência, que comeu parte do lucro dos bancos em 2022, teima em não largar o posto da maior das preocupações das instituições financeiras do país.

Até meados do ano passado, acreditava-se que os calotes nos empréstimos estavam perto de parar de subir, mas a piora no cenário para os juros adiou o fim do problema.

Se antes o mercado tinha como certo que a Selic, a taxa básica de juros, havia chegado a um teto, de 13,75% ao ano, e que bastava esperar o Banco Central (BC) começar o processo de redução no primeiro semestre de 2023, agora não se descarta mais um novo aumento da taxa, o que retardaria, naturalmente, o início da queda.

As expectativas pioraram principalmente por causa do risco fiscal que o novo governo embute.

Os investidores ainda não se convenceram de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estão comprometidos em arrumar as contas públicas, e os sinais emitidos até então parecem confusos.

Incerteza maior é igual a riscos mais elevados e, obviamente, a juros mais caros.

Em 2022, os dois bancos que mais sofreram com o aumento da inadimplência foram Bradesco e Santander, justamente as duas instituições que mais estão expostas a clientes pessoa física, que por sua vez são mais sensíveis à piora nos juros.

Nos balanços mais recentes dos dois bancos, referentes ao terceiro trimestre, o Bradesco anotou uma taxa de inadimplência de 3,9%, bem acima dos 2,6% de um ano antes, enquanto a do Santander saltou de 2,4% para 3%.

O problema da inadimplência não é só os bancos deixarem de ganhar com os empréstimos que concedem, mas serem forçados a elevar as chamadas provisões para devedores duvidosos (PDDs), que nada mais são do que uma reserva que o banco acumula para compensar o dinheiro que pode vir a perder com calotes.

Embora as provisões não necessariamente sejam gastas, obrigatoriamente entram como despesas nos balanços, apenas pelo fato de que estão ali guardadas e não podem ser usadas para outro fim.

Com isso, as provisões, se elevadas, acabam derrubando o lucro das empresas.

O Bradesco e o Santander foram as duas instituições que mais frustraram o mercado com seus lucros do terceiro trimestre.

O Bradesco teve resultado líquido positivo de R$ 5,2 bilhões no terceiro trimestre, queda de 22,8% em relação a igual período do ano passado e 19% abaixo da mais pessimista das previsões do mercado, feita pelos analistas do Itaú BBA, que previam ganhos de R$ 6,4 bilhões.

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No terceiro trimestre, foram R$ 7,2 bilhões em despesas com provisões, mais que o dobro (+116,4%) que o volume anotado em igual período do ano passado.

Com a piora do lucro, a rentabilidade do banco também caiu. No terceiro trimestre, o retorno anualizado sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) recuou para 13% no terceiro trimestre, de 18,6% em igual período de 2021, um desempenho também frustrante.

O Santander, por sua vez, teve lucro líquido R$ 3,1 bilhões no período, uma queda de 23,5% em comparação com o trimestre anterior e abaixo de todas as previsões. E a rentabilidade do banco caiu para 15,6% no terceiro trimestre, de 20,8% no trimestre anterior.

O mercado reagiu mal aos resultados dos dois bancos, com queda nas ações, mas o movimento dos investidores quanto ao Bradesco chamou mais atenção.

No dia seguinte à divulgação do balanço, a ação do banco caiu mais de 17%.

O gestor Conrado Rocha, da Polo Capital, viu a reação como uma oportunidade. Para ele, o mercado foi além da conta e a ação acabou ficando muito barata.

Em entrevista à Agência TradeMap, o gestor reconheceu que o balanço do Bradesco para o terceiro trimestre foi ruim e até acha que o banco deve apresentar mais resultados negativos pela frente, por mais um ou dois trimestres, mas acredita que a instituições têm solidez suficiente para corrigir a rota e surfar uma nova valorização das ações.

“É um bancão com escala, história, créditos, um negócio forte de seguro, gestora. O mercado exagerou”, ele disse.

Rocha, que comprou ações do Bradesco após a queda de 17%, afirma que não será o cenário macroeconômico que vai ajudar o banco a se recuperar, mas sim a própria gestão da instituição, com um rebalanceamento dos negócios.

E, para dar uma dimensão do exagero que viu no mercado, faz uma comparação com o Itaú, o principal concorrente do Bradesco.

Segundo ele, o Itaú tem um melhor negócio do que o Bradesco, mas não a ponto de justificar uma diferença tão grande de preços no mercado.

De acordo com dados disponíveis no TradeMap, o preço da ação do Itaú está 1,58 vez maior que o valor do patrimônio líquido da companhia dividido pela ação (múltiplo P/VPA, também conhecido como P/B), enquanto o Bradesco tem uma proporção menor, de 1,31 vez.

“O Bradesco é uma oportunidade gigante”, disse o gestor.

Itaú (ITUB4)

O Itaú Unibanco costuma ser apontado pelo mercado como o banco mais sólido do setor.

Não à toa, enquanto os outros dois grandes do setor privado têm sentido mais a piora da inadimplência e o impacto em seus lucros, o Itaú tem demonstrado maior resiliência.

No terceiro trimestre, o lucro líquido do banco subiu 19,2% em relação a igual período do ano passado, para R$ 8 bilhões, e a taxa de inadimplência ficou praticamente estável, em 2,8%, apenas 0,1 ponto percentual acimado nível de um ano antes.

O banco também foi o único entre os privados que não viu a margem com o mercado ficar negativa. O indicador representa o saldo das operações de crédito que um banco realiza com outras instituições.

Em geral, esse indicador piora quando a Selic sobe rápido demais, porque os bancos tomam empréstimos a juros mais altos e não conseguem repassar esse aumento na mesma velocidade para os clientes finais.

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No Itaú, a margem com o mercado também piorou, com uma queda de 73,2% em um ano, para R$ 516 milhões, mas pelo menos o saldo seguiu positivo, diferentemente do que aconteceu com o Bradesco e Santander, que viram a margem com o mercado ficar negativa em R$ 1,2 bilhão e R$ 1,5 bilhão, respectivamente, no terceiro trimestre.

No entanto, o gestor Marcelo Ornelas, da Kinitro Capital, acredita que o Itaú também não vai conseguir escapar de resultados piores.

“A inadimplência começou a aparecer mais no Santander e no Bradesco, mas vai continuar e deve aparecer também no Itaú nos próximos trimestres. Vai ser um primeiro semestre muito difícil”, disse à Agência TradeMap.

Rocha, da Polo, não tem dúvidas de que o Itaú é melhor instituição do mercado, mas não vê como uma boa oportunidade de compra no momento, por uma mera questão de precificação. “Está valendo muito mais que os outros”, disse.

Banco do Brasil (BBAS3)

O Banco do Brasil é, ao lado do Itaú, um dos únicos bancões que terminaram o ano com valorização da ação. Os dois tiveram alta de 34,9% e 24,2%, respectivamente, enquanto o Bradesco recuou 11,9% e Santander ficou praticamente no zero a zero.

O banco também é bem avaliado pelo mercado, não só porque tem uma carteira de crédito robusta, com uma presença expressiva no agronegócio, mas principalmente porque foca em empréstimos de baixo risco, tendo a menor taxa de inadimplência entre os bancões, a 2,3%.

O problema é que o banco é público. Em 2022, a ação só não se valorizou mais porque a instituição passou o ano sob a sombra da eleição, com o risco de que a volta do PT ao governo pudesse representar uma mudança brusca na gestão da instituição.

Luiz Inácio Lula da Silva de fato voltou a ser presidente e até já indicou quem será a nova presidente do BB, Tarciana Medeiros, funcionária do banco há duas décadas e primeira mulher a comandar a instituição, mas ainda não há clareza sobre o que será do banco.

A Polo Capital era acionista do BB até dezembro do ano passado, porque acreditava que valia a pena investir na empresa mesmo com o risco político, mas já zeraram a posição. Embora reconheçam que o papel continua barato, avaliam agora que não compensa mais.

Rocha alerta que o banco pode sofrer com mudanças na gestão do crédito. Ele lembrou, por exemplo, do Bom Para Todos, programa que tinha a intenção de oferecer juros menores para deixar o mercado mais acessível.

“Como o mercado tinha pouca competição, ninguém baixou os juros. Só o BB baixou e depois tomou um prejuízo gigante”, ressalta o gestor, que identifica alguns pontos de atenção. “Se a carteira de crédito começar a crescer o dobro dos bancos privados e se entrar demais em crédito sem garantia, isso vai gerar um medo no mercado”.

Competição

Independentemente da instituição, Ornelas, da Kínitro, acredita que os bancos devem enfrentar um cenário mais difícil no médio e longo prazo, em razão da maior competição entre os players, como as fintechs.

Ainda que o cenário macroeconômico melhore, com juros e inflação menores, a concorrência seguirá acirrada e diminuindo a possibilidade de ganhos.

“Os bancos perderam muito valor no Brasil nos últimos 30 anos, principalmente em razão da competição e em benefício do consumidor, que consegue ter acesso a produtos mais baratos”, disse.

Embora uma instituição possa lançar um produto inovador, logo a estratégia é replicada por outro player e a vantagem conquistada é reduzida ou desaparece.

Para Ornelas, o ambiente de competição veio para ficar, especialmente no crédito de maior spread, para pessoa física e pequenas empresas, que oferecem maior risco. “Não tem mais um oligopólio para ficar com a melhor parte, e os bancos toparam reduzir o sarrafo da rigidez.”

Além disso, ele ressalta, os bancos estão alavancados quando se compara a carteira de crédito deles com o que valem na Bolsa. E, com o lucro sendo “comido” pela inadimplência, a rentabilidade tem caído, como aconteceu com Bradesco e Santander, que viram os retornos recuarem de algo em torno de 20% para 15% e 13%, respectivamente.

Se for retirado dos bancos o que ganham com tarifas, que têm um custo muito baixo, a rentabilidade seria ainda menor, porque dependeria mais do crédito. E o gestor alerta para a expectativa de que, quando os juros voltarem a cair, as fintechs ganharão mais força. “A atividade de crédito vai ser novamente atacada pelos novos bancos.”

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