Quem tem medo da inadimplência? Não os bancos brasileiros, segundo pesquisa divulgada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
De acordo com o levantamento, as empresas do setor passaram a prever um crescimento ainda maior da carteira de crédito neste ano e no próximo, ainda que esperem também mais atrasos nos pagamentos destes empréstimos.
Segundo a Febraban, a perspectiva é de que a carteira de crédito aumente 14,1% em 2022 e 8,4% em 2023. Foi o sétimo aumento consecutivo nestas projeções.
“A melhora das expectativas pode ser atribuída ao crescimento maior do que o esperado do crédito e da atividade, além da reedição dos programas públicos de crédito”, disse a Febraban num comunicado.
Na pesquisa anterior, referente a setembro, as previsões eram de crescimento de de 13,9% e 8,0%, respectivamente.
Na carteira com recursos livres – que inclui empréstimos desvinculados de critérios determinados pelo governo -, a projeção de crescimento em 2022 subiu de 16,7% para 17,3%. O avanço é reflexo do crescimento do consumo e do uso mais intenso de linhas como cartão de crédito e crédito pessoal pelos consumidores.
Na carteira de recursos direcionados – vinculados a parâmetros determinados pelo governo -, a estimativa de crescimento em 2022 também subiu, passando de 9,3% para 10,2%, puxada principalmente pela revisão para cima na concessão de crédito rural e pela nova rodada dos programas públicos de crédito (Pronampe e PEAC-FGI).
Inadimplência também deve subir
A revisão para cima nas projeções de crescimento do crédito ocorreu a despeito de os bancos terem ficado mais pessimistas em relação aos índices de inadimplência.
Em setembro, o mercado previa que em 2022 os empréstimos com 90 dias ou mais de atraso nos pagamentos atingiriam 3,9% da carteira de recursos livres. Agora, a previsão é de que essa taxa chegue a 4,3%. Para 2023, a previsão passou de 4,2% para 4,6%. Foi o segundo mês seguido de piora nestas projeções.
Os bancos já estão sentindo o peso da inadimplência em seus resultados financeiros.
O Bradesco, por exemplo, divulgou um lucro menor que o esperado pelo mercado no terceiro trimestre, em parte por causa do aumento nas despesas para cobrir perdas com o atraso no pagamento de empréstimos.
Inadimplência vai piorar?
Apesar de esperarem piora nos índices de inadimplência, os bancos indicaram recentemente ao mercado que consideram a situação sob controle.
O executivo-chefe do Santander Brasil, Mario Leão, disse no final de outubro que a qualidade da carteira de crédito do banco está melhorando, e que os empréstimos concedidos mais recentemente têm registrado menos atrasos do que os mais antigos.
No Itaú Unibanco, a taxa de inadimplência aumentou no terceiro trimestre, mas ficou menor que nos demais bancos privados e não impediu a instituição de lucrar mais do que os especialistas previam.
Já no caso do Banco do Brasil, a alta exposição da instituição ao agronegócio contribui para manter a inadimplência abaixo da média do mercado, embora agora a empresa tenha proporcionalmente menos recursos para cobrir eventuais perdas com empréstimos atrasados.