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Banco do Brasil (BBAS3) supera projeções do mercado, mas não surpreende mais

Pecha de menor eficiência em função do viés estatal já não faz mais parte da tese de investimento do BB, embora incerteza com mudança da composição do controlador permaneça

Foto: Shutterstock/rafapress

Após o fechamento de um pregão agitado para o setor bancário, o Banco do Brasil (BBAS3) apresentou seus números referentes ao período de julho a setembro deste ano. Assim como no trimestre anterior, o balanço da estatal superou as expectativas dos investidores, mas o bom resultado já não surpreende mais o mercado.

Nos três meses analisados, o Banco do Brasil lucrou de forma ajustada R$ 8,36 bilhões, avanço de 62,7% em comparação ao mesmo intervalo de 2021. Esse foi o maior resultado líquido em um único trimestre na história da instituição.

Nenhuma projeção de mercado esperava um lucro superior a R$ 8 bilhões, o que já representaria uma forte alta na comparação anual. 

Além do lucro, o ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) e a margem financeira bruta ficaram acima das expectativas dos investidores. O BB deixou de ser um player aquém dos pares privados, o que faz com que a entrega de ótimos resultados não surpreenda mais. 

A pecha de menor eficiência em função do viés estatal já não faz mais parte da tese de investimento do banco – embora a incerteza relacionada à mudança da composição do controlador, a partir do ano que vem, exista. 

A expectativa de um bom resultado levou as ações BBAS3 a recuarem menos que os pares do mercado na quarta-feira (09), antes da divulgação do balanço. Os papéis caíram 2,65%, em linha com o Ibovespa, mas abaixo de Itaú (-4,8%), Santander (-5,9%) e Bradesco (-17,38%), banco que teve uma das maiores quedas diárias de sua história.

Inadimplência bancária no radar no terceiro trimestre

O otimismo do mercado na precificação das ações no último pregão diz respeito à solidez dos empréstimos do Banco do Brasil, o maior temor de investidores em relação à atividade bancária nos últimos meses.

Enquanto Santander e Bradesco são muito expostos a pessoas físicas e pequenas e médias empresas – grupos que exprimem mais risco em meio à alta das taxas de juros, que dificulta os pagamentos em dia -, o Banco do Brasil é muito próximo ao agronegócio.

O setor, que equivale a quase 30% do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, mostra-se – ao menos por ora – mais resiliente à dinâmica inflacionária no país. Os preços das matérias-primas seguem sólidos e, mesmo que uma recessão global aconteça em 2023, com impacto sobre os volumes, as grandes empresas estão capitalizadas.

Carteira de crédito do Banco do Brasil em expansão controlada

A carteira de crédito ampliada do Banco do Brasil cresceu 5,4% em 12 meses, para R$ 969,2 bilhões, com desempenho positivo em todas as áreas. A visão ampliada inclui a carteira classificada, títulos e valores mobiliários privados e garantias.

O avanço da carteira ficou dentro da margem de erro das estimativas dos investidores. Ao não expandir demasiadamente o crédito neste momento, o “pé no chão” do banco pode ser visto como positivo, mesmo que quase 47% da carteira tenha nível de risco considerado AA, o melhor patamar. 

Já a taxa de inadimplência acima de 90 dias do Banco do Brasil subiu de 2% para 2,34%, do segundo para o terceiro trimestre de 2022, ainda confortável e abaixo da média da indústria.

O aumento, que ficou levemente acima do estimado pelo mercado, se deu principalmente à fatia das pessoas físicas e em razão da alteração do mix da carteira de crédito para linhas com melhor retorno ajustado ao risco.

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As pessoas físicas equivalem a 28,9% da carteira de crédito ampliada do BB, muito abaixo dos mais de 40,5% do Bradesco, por exemplo. 

As despesas de provisão somaram R$ 6,3 bilhões entre julho e setembro deste ano, um avanço de 14,6% em 12 meses e de 37,9% em comparação ao segundo trimestre de 2022, com uma observação de piora de risco com pessoas físicas. 

O banco tem reportado uma queda consistente da cobertura sobre os empréstimos atrasados em mais de 90 dias. O índice saiu de 325%, em dezembro de 2021, para 234,9%, em setembro deste ano.

A distância para a média de mercado, no período, caiu de 77,2 para 24,2 pontos percentuais, mas não deve incomodar, dado o nível de provisões e o perfil de empréstimos do BB.

ROE e margem com mercado são ‘carteiradas’ do BB

Com a margem financeira bruta (NII) acima do esperado e com as “contas em dia”, o lucro líquido pôde ser satisfatório e também elevou a rentabilidade do banco – mostrando o nível operacional do BB. 

O ROE na visão para mercado, que reflete as principais métricas que analistas utilizam nas previsões de resultado, ficou em 21,8%, 1,2 ponto acima do segundo trimestre, que já foi considerado um desempenho ótimo. 

A margem teve forte avanço, chegando a R$ 19,6 bilhões no terceiro trimestre, crescimento de 25% ano contra ano. Pode ser atribuída a esse resultado uma boa dinâmica de carteira, com o crescimento e a reprecificação do portfólio.

A margem com mercado, ou Tesouraria, teve resultado de R$ 10,15 bilhões, quase dobrando na comparação em 12 meses, resultado da exposição aos ativos de renda fixa. Aqui, o Bradesco teve uma perda de mais de R$ 1,5 bilhão no terceiro trimestre. 

Banco do Brasil eleva projeções

A maré positiva fez com que os executivos do banco reajustassem suas projeções. O BB enxerga espaço para aumentar a carteira de crédito, sobretudo em empresas. Já para pessoas físicas, a direção foi oposta, com redução do topo do guidance de 15% de crescimento para 13% no ano contra ano. 

A companhia também espera uma margem financeira bruta de até 21,5%. O piso da nova projeção é maior do que o teto do guidance anterior.

O lucro da estatal deve ficar entre R$ 30,5 bilhões e R$ 32,5 bilhões neste ano. Isso significa que, no quarto trimestre de 2022, o BB deve lucrar entre R$ 7,7 bilhões e R$ 9,7 bilhões, segundo as contas do banco.

A primeira hipótese significa uma alta de 29,8% na comparação anual. Na segunda, seria um avanço de 63,5% sobre o lucro de R$ 5,9 bilhões do quarto trimestre de 2021. 

Seja em um cenário ou outro, o Banco do Brasil o crescimento continuará sólido, mesmo que desacelerado. 

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