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Lula vai diminuir o lucro do Banco do Brasil (BBAS3)? Veja como o banco se saiu em governos do PT

Levantamento da TradeMap constatou que, nos governos petistas, o lucro do BB foi maior que a média dos bancos privados na maioria dos anos

Foto: Shutterstock

Na semana passada, o líder nas pesquisas eleitorais para a Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez uma declaração que pode ter sido encarada como preocupante para os investidores que têm o Banco do Brasil (BBAS3) na carteira.

O ex-presidente defendeu, em evento com pequenos empresários em São Paulo no dia 17 de agosto, que, em um eventual novo governo, os bancos públicos devem reduzir suas margens de lucro e não buscar os lucros de bancos privados. “É preciso que a gente enquadre o Banco do Brasil. Não queremos que bancos públicos tenham nenhum prejuízo, mas não queremos que tenham os mesmos lucros dos bancos privados”, afirmou.

Contudo, não foi bem isso que aconteceu com o BB nos governos petistas.

Em um levantamento realizado pela Agência TradeMap, o Banco do Brasil teve lucros maiores que a média dos principais bancos privados (Itaú Unibanco, Bradesco e Santander) na maioria dos anos de gestão do PT, que vão de 2003, quando Lula assume o primeiro mandato, até 2016, quando a ex-presidente Dilma Rousseff teve o segundo mandato interrompido em um processo de impeachment.

Ao longo desses 14 anos, apenas em três anos o lucro do BB ficou menor que a média dos privados: em 2007 (primeiro ano do segundo mandato de Lula), 2014 (último ano do primeiro mandato de Dilma) e 2015 (primeiro ano do segundo mandato de Dilma).

O curioso é que, em uma análise que inclua os resultados do banco já depois da saída do PT — de 2003 até o ano passado –, o pior desempenho do BB em comparação aos demais foi justamente no primeiro ano completo após a saída de Dilma, em 2017, quando o presidente já era Michel Temer, antes vice da petista.

Outra curiosidade é que o ano em que o BB teve o seu maior lucro também foi durante a gestão petista, em 2013, sob o comando de Dilma. Após correção dos dados pela inflação, o banco teve, em 2013, a preços de hoje, um lucro líquido de R$ R$ 25,28 bilhões, acima dos R$ 25,18 bilhões do Itaú, dos R$ 19,26 bilhões do Bradesco e dos R$ 3,38 bilhões do Santander.

Para o gestor de ações Conrado Rocha, sócio da Polo Capital, a fala de Lula pode sim ser vista como apenas discurso eleitoral. Para ele, os partidos de esquerda costumam ter essa posição mais intervencionista durante o processo eleitoral, mas, quando governam, se inclinam mais para o centro.

“O Lula é o legítimo representante disso. Quando foi presidente, governou com o Henrique Meirelles [presidente do Banco Central nos dois mandatos do petista], que foi banqueiro a vida toda”, avalia.

Do outro lado, o presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição e vice-líder nas pesquisas, tem um viés mais à direita do espectro político, mas que também tende a ir para o centro, acredita Rocha. “Bolsonaro de fato não interveio no banco e o Paulo Guedes, seu ministro da Economia, já declarou que quer privatizar o BB. O mercado adora ouvir isso, pois o banco tem uma vantagem competitiva enorme”, diz.

Já o analista João Abdouni, da INV, vê um cenário de incerteza para o banco. “Se pegarmos o histórico da Petrobras e do Banco do Brasil no governo Lula, veremos poucas intervenções. Já no governo Dilma houve mais. Não dá para cravar se haverá ou não intervenção estatal”, avalia.

Apesar disso, em razão da lei das estatais, criada para tentar proteger mais as companhias públicas de interferências políticas, Abdouni acha que uma intervenção abrupta na empresa tem um custo político alto, e traria turbulência ao mercado e aos investidores.

Além disso, para o estrategista-chefe da Vitreo, Francisco Levy, um acirramento eleitoral mostrado nas pesquisas entre Lula e Bolsonaro faz os dois candidatos trazerem para o jogo um discurso mais “ao centro”, e menos favorável a intervenções.

Embora Lula lidere as pesquisas com uma certa folga, a pesquisa mais recente do Datafolha, feita após o primeiro debate (realizado domingo na Band) e publicada nesta sexta-feira (2), mostrou que o presidente já não levaria o pleito no primeiro turno, como indicavam pesquisas anteriores, em comparação que leva em conta apenas os votos válidos.

A pesquisa de hoje indica que Lula tem 45% das intenções de voto (ou 48% dos votos válidos), dois pontos a menos que no levantamento anterior, enquanto Bolsonaro ficou estacionado com 32%. Já o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) oscilou de 7% para 9% e a senadora Simone Tebet (MDB) subiu de 2% para 5%.

O avanço de outros candidatos aumenta a chance de segundo turno. Para levar no primeiro turno, Lula teria de somar pelo 50% dos votos válidos mais um.

“Uma disputa que caminha para o segundo turno faz o Lula trazer um discurso mais sereno para conduzir um governo de forma responsável dos lados financeiro, fiscal e monetário. Ao mesmo tempo mostrando que precisa ser social e olhar a sustentabilidade no longo prazo”, comenta o estrategista-chefe da Vitreo.

Tese de investimento muda daqui para a frente?

Ainda que possa ser apontada como “eleitoreira”, a fala de Lula pode preocupar os investidores que planejam tomar uma posição nos papéis do banco daqui para frente.

Rocha, da Polo, avalia que o mercado tem uma impressão de que, num novo governo Bolsonaro, o papel pode valorizar em torno de 20% no começo do mandato, principalmente considerando a possibilidade de uma privatização no futuro.

Apesar disso, se Lula for eleito, o papel também deve subir depois de um tempo, ele acredita. “Existe um receio em uma transição de governo turbulenta, mas, se tivermos uma passada de faixa tranquila, esses ativos de risco devem ‘andar’ um pouco”, comenta.

Para Abdouni, dada essa questão política que ronda o BB, o Bradesco desponta como uma melhor opção para os investidores. O analista cita que a relação do preço da ação em comparação com o lucro das empresas na Bolsa, refletida no indicador preço/lucro (P/L), favorece o banco privado nessa disputa.

Na prática, o P/L indica o quanto um investidor está disposto a pagar pelos lucros de uma empresa. Se uma companhia possui um P/L de dez vezes, siginfica que o preço atual da ação representa dez vezes os lucros que essa empresa tem em 12 meses. Representa dizer que em dez anos a empresa “valerá” o investimento.

Dessa forma, quanto menor o P/L de uma empresa, em menos tempo ela compensa o investimento, portanto, é mais atrativa para o investidor.

“Historicamente, o BB negociou com um preço a cinco vezes o lucro, e  Bradesco com uma faixa de nove vezes. O segundo está mais descontado pela média histórica. Quem surfou na onda recente dos papéis do Banco do Brasil, que passaram de R$ 28 para os R$ 40 de julho pra cá, surfou. Não vejo mais um upside desse no futuro”, completa o analista da INV.

De acordo com dados da plataforma do TradeMap, o Bradesco conta atualmente com um P/L de 5,02 vezes enquanto o Banco do Brasil possui um P/L de 3,63 vezes. Ou seja, na prática, o Bradesco está mais descontado em termos históricos do que o Banco do Brasil.

Francisco Levy, estrategista-chefe da Vitreo, afirma que esse desconto histórico na relação entre preço e lucro do BB se deve ao fato de o banco ser estatal, pois sempre há um interesse governamental de utilização pública por trás do negócio.

“Qualquer banco público tem que ter uma finalidade social, tem que ter um viés um pouco mais social do que um privado, cujo objetivo é maximizar lucro. Mas eu acho que essas coisas precisam ser feitas com prudência”, avalia.

Banco do Brasil foi destaque no 2º trimestre

No segundo trimestre deste ano, os quatro grandes bancos listados na Bolsa brasileira (Bradesco, Itaú, Santander e Banco do Brasil), somados à Caixa Econômica Federal, atingiram um lucro de R$ 32,89 bilhões. No consolidado do primeiro semestre, o número chega a R$ 62,18 bilhões.

Ao lado do Itaú, o Banco do Brasil liderou os resultados dos bancos no segundo trimestre. Enquanto o primeiro teve lucro líquido gerencial de R$ 7,6 bilhões no período, o BB registrou um lucro líquido ajustado de R$ 7,8 bilhões.

“Deixando para trás a ineficiência estatal, a instituição financeira foi a que mais lucrou no período, com o menor índice de eficiência (quanto menor, melhor), de 33,2%”, avaliou Jader Lazarini, analista CNPI da Agência TradeMap.

Isso ocorreu mesmo com o BB tendo encerrado o trimestre com mais agências do que tinha no fim de março, colocando um pouco de lado a ideia do mercado de que os bancões deveriam enxugar demasiadamente suas operações para fazer frente aos digitais e serem mais eficientes.

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O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) do banco surpreendeu por conta do avanço mais sólido do patrimônio líquido do que a maior parte dos concorrentes. Entre junho de 2021 e o mesmo mês de 2022, o PL cresceu 7%, o segundo maior crescimento no período, logo atrás do Itaú (+9,5%).

Enquanto isso, as provisões avançaram apenas 2,3% em 12 meses, para R$ 2,93 bilhões, visto que o índice de cobertura do BB já é o maior dos quatro bancos e o de inadimplência acima de 90 dias está em 2%.

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