Tarifaço, ruído político e reprecificação histórica: o que guiou o Ibovespa em 2025

Foto: Shutterstock/Alf Ribeiro

O Ibovespa encerrou 2025 em alta, com valorização de 33,95% no ano, atingindo o patamar histórico dos 160 mil pontos, em um período marcado por forte volatilidade e mudanças relevantes na percepção de risco dos investidores. O avanço do índice ocorreu apesar de um ambiente macroeconômico ainda desafiador, com juros elevados no Brasil e incertezas no cenário internacional, e foi sustentado principalmente por um movimento de reprecificação seletiva, rotação setorial e eventos corporativos relevantes.

No cenário externo, os mercados operaram sob influência de fatores geopolíticos, comerciais e monetários. O retorno do protecionismo nos Estados Unidos, com anúncios de tarifas sobre produtos estratégicos, e o shutdown mais prolongado do governo norte-americano, caracterizado pela paralisação parcial ou total das atividades diante da falta de aprovação orçamentária, trouxeram momentos de maior aversão ao risco e impactaram o fluxo para mercados emergentes. Ainda assim, a trajetória mais previsível da política monetária do Federal Reserve, com manutenção de juros elevados e sinalização mais clara ao longo do ano, contribuiu para a retomada gradual do apetite por ativos de risco.

No Brasil, o pano de fundo macroeconômico foi marcado por desinflação gradual, enquanto a política monetária permaneceu restritiva, com a Selic mantida em 15,00% ao ano, refletindo a preocupação do Banco Central com a ancoragem das expectativas. O debate fiscal seguiu no centro das atenções, influenciando os juros de longo prazo e o câmbio, ao mesmo tempo em que a atividade doméstica mostrou relativa resiliência, sustentando setores mais ligados ao consumo interno.

O ambiente político doméstico também adicionou volatilidade pontual, com a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro, embora sem provocar mudanças estruturais na leitura do mercado. A reação dos investidores permaneceu concentrada nos fundamentos macroeconômicos e na condução da política econômica.

No campo corporativo, 2025 foi marcado por forte dispersão de desempenho entre as empresas do Ibovespa. As altas ficaram concentradas em companhias ligadas à economia doméstica, especialmente nos setores de educação, construção e energia elétrica, impulsionadas por reestruturações, desalavancagem e melhora operacional. Em contrapartida, empresas mais alavancadas ou expostas a ciclos globais adversos, como saúde, petróleo e commodities, foram pressionadas por margens mais fracas, volatilidade de preços e maior cautela operacional.

Em síntese, o comportamento do Ibovespa em 2025 refletiu um investidor mais seletivo e orientado a fundamentos, privilegiando geração de caixa, solidez de balanço e previsibilidade operacional em um ambiente ainda marcado por incertezas, mas também por oportunidades pontuais de reprecificação.


Entre as principais altas do ano, se destacaram:

Cogna (COGN3): (238,26%)
A Cogna liderou as altas do Ibovespa em 2025, com valorização de 238,26%, em um movimento de forte reprecificação após a conclusão de um amplo processo de reestruturação financeira. Ao longo de 2024, a companhia reduziu significativamente sua alavancagem, promoveu a venda de ativos não estratégicos e estabilizou a geração de caixa. Em 2025, o mercado passou a precificar a normalização do EAD, com melhora nos indicadores de evasão e ticket médio, além do potencial de turnaround operacional.

Cury (CURY3): (113,20%)
A Cury avançou 113,20% no ano, refletindo sua forte exposição ao programa Minha Casa Minha Vida, relançado com condições mais favoráveis. A companhia apresentou margens resilientes, ROE elevado e geração de caixa consistente, sendo tratada como um ativo defensivo no setor de construção.

Auren Energia (AXIA3): (105,26%)
A Auren figurou entre os destaques positivos, com altas expressivas, sustentadas por um portfólio robusto de ativos renováveis, contratos de longo prazo no mercado livre e ganhos de eficiência após reorganização societária.

BTG (BPAC11): (99,75%)
O Banco BTG subiu 99,75%, impulsionado pela melhora na qualidade da carteira de crédito, redução da inadimplência e expectativa de expansão do ROE.

Cyrela (CYRE3): (97,81%)
A Cyrela teve alta de 97,81%, beneficiada pelo foco em projetos de alta renda, que permitiram maior repasse de preços, além da redução do endividamento e do retorno consistente de dividendos. A disciplina financeira e a execução operacional contribuíram para a melhora da percepção de risco ao longo do ano.

Direcional (DIRR3): (93,64%)
A Direcional avançou 93,64%, acompanhando o movimento positivo observado em empresas com forte presença no Minha Casa Minha Vida. A companhia se destacou pelas margens operacionais acima da média do setor e pela execução consistente de seus projetos, fatores valorizados pelos investidores.

Eneva (ENEV3): (91,64%)
A Eneva acumulou valorização de 91,64%, refletindo a estabilidade de receitas proporcionada por contratos de capacidade, além da menor exposição ao risco hidrológico. A previsibilidade operacional e a geração de caixa consistente sustentaram a alta das ações ao longo do ano.

Vivara (VIVA3): (82,32%)
A Vivara encerrou 2025 com alta de 82,32%, beneficiada pelo forte crescimento da marca Life, margens elevadas e uma estratégia de expansão de lojas considerada eficiente, com rápido retorno sobre o capital investido.

CPFL Energia (CPFE3): (81,68%)
A CPFL Energia encerrou 2025 com valorização de 81,68%, sustentada por seu perfil defensivo, elevada previsibilidade de receitas e geração de caixa estável. A companhia se beneficiou da combinação entre contratos de longo prazo, eficiência operacional e uma política consistente de distribuição de dividendos, características valorizadas pelos investidores em um ambiente de maior volatilidade macroeconômica e juros elevados.


Entre os destaques negativos ficaram:

Raízen (RAIZ4): (-62,50%)
A Raízen liderou as quedas do Ibovespa em 2025, com recuo de 62,50%, refletindo principalmente a compressão das margens no etanol em um ambiente de preços menos favorável, além do alto nível de endividamento após um ciclo intenso de investimentos. O mercado passou a questionar o ritmo de desalavancagem e o prazo de maturação dos projetos, aumentando a percepção de risco em um cenário de juros elevados.

Hapvida (HAPV3): (-55,96%)
A Hapvida caiu, pressionada por uma sinistralidade persistentemente elevada, que comprometeu margens, além de dificuldades na integração de aquisições realizadas nos últimos anos. Revisões negativas de lucro reforçaram a cautela dos investidores, em um setor que segue sob escrutínio quanto à sustentabilidade operacional.

Natura (NATU3): (-41,61%)
A Natura recuou 41,61% em 2025, impactada pelo desempenho fraco da Avon Internacional, que continuou pressionando resultados, além de um nível elevado de endividamento. A volatilidade cambial também afetou custos e margens, mantendo dúvidas sobre a velocidade de recuperação operacional do grupo.

Cosan (CSAN3): (-34,80%)
A Cosan apresentou desempenho negativo em 2025, refletindo a pressão sobre margens em negócios expostos a commodities, o nível elevado de alavancagem após um ciclo intenso de investimentos e a maior cautela do mercado com estruturas mais complexas de holding. A volatilidade nos preços de energia e combustíveis, somada à sensibilidade aos juros elevados, pesou sobre a percepção de risco e limitou a reprecificação dos papéis ao longo do ano.

Braskem (BRKM5): (-31,87%)
A Braskem caiu 31,87%, afetada pela crise estrutural do setor petroquímico, marcada por excesso de capacidade global e margens deprimidas. O alto endividamento e as incertezas societárias seguiram pesando sobre a percepção de risco, limitando qualquer reprecificação positiva ao longo do ano.

Vamos (VAMO3): (-28,97%)
A Vamos recuou 28,97%, refletindo sua alta alavancagem financeira e elevada sensibilidade ao custo de capital. Com a Selic mantida em patamar restritivo, o mercado revisou expectativas de crescimento e passou a exigir maior disciplina financeira da companhia.

Brava Energia (BRAV3): (-28,40%)
A Brava Energia apresentou queda de 28,40%, refletindo a combinação entre riscos exploratórios, elevada volatilidade do preço do petróleo e uma estrutura de capital considerada frágil. Em um ambiente de maior seletividade, o mercado penalizou empresas com menor previsibilidade de geração de caixa.

PetroRecôncavo (RECV3): (-25,73%)
A PetroRecôncavo caiu 25,73%, pressionada pela volatilidade das receitas, típica de empresas expostas à produção de óleo, além de menor liquidez das ações. O mercado também demonstrou cautela quanto à previsibilidade operacional e à capacidade de expansão com retorno consistente.

Suzano (SUZB3): (-14,92%)
A Suzano recuou 14,92%, impactada pelo ciclo global desfavorável da celulose, com queda dos preços internacionais, além da volatilidade cambial, que aumentou a incerteza sobre margens e geração de caixa ao longo do ano.

Rumo (RAIL3): (-13,67%)
A Rumo encerrou 2025 com queda de 13,67%, refletindo o caráter intensivo em investimentos do negócio, a sensibilidade ao desempenho do agronegócio e pressões regulatórias, fatores que elevaram o risco percebido em um ambiente de juros altos e maior seletividade.


Para acompanhar mais notícias do mercado financeiro, baixe ou acesse o TradeMap.

Compartilhe:

Mais sobre:

Leia também:

Mais lidas da semana

Uma newsletter quinzenal e gratuita que te atualiza em 5 minutos sobre as principais notícias do mercado financeiro.