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Multimercados têm retorno de até 43% em 2022; veja os que mais ganharam e onde estão investindo

Aposta na alta de juros e na queda das Bolsas americanas garantiu bons retornos aos multimercados em 2022

Foto: Shutterstock/Bigc Studio

A aposta na alta das taxas de juros e na queda das Bolsas americanas garantiram bons retornos aos fundos multimercados em 2022, que alcançaram ganhos de até 43%, mais de três vezes o CDI.

Para este ano, apesar do cenário de maior incerteza, com risco de recessão, inflação ainda alta e preocupação com a política fiscal no Brasil, esses portfólios são vistos como os produtos que conseguem navegar melhor em momentos de volatilidade.

Em 2022, o índice de Hedge Funds Anbima, que acompanha o desempenho dos principais multimercados brasileiros, registrou alta de 13,67%, acima dos 12,4% do CDI.

Apesar do bom retorno de muitos multimercados em 2022, a categoria foi a que mais sofreu resgates, registrando saída líquida de R$ 87,6 bilhões.

“Os fundos multimercados tendem a buscar as assimetrias de mercado e conseguem performar bem em cenários diferentes”, disse Bruno Marques, gestor de multimercado da XP Asset.

Veja abaixo os fundos multimercados que lideraram os ganhos em 2022, segundo levantamento do TradeMap.

tabela com o retorno dos multimercados

Paciência para entrar na Bolsa beneficiou fundo da Exploritas

Com oito anos de existência, o fundo Exploritas Alpha América Latina, gerido pela Exploritas, alcançou retorno de 42,9%, liderando o ranking dos multimercados em 2022.

A aposta na alta da taxa do cupom cambial – que representa a taxa de juros em dólar no Brasil dada pela variação da taxa de juros local menos a variação do câmbio – rendeu bons ganhos ao portfólio, já que acompanhou o avanço das taxas de juros americanas.

A paciência para esperar o melhor momento para aumentar a posição na Bolsa brasileira também ajudou o fundo da gestora, que aproveitou a queda do Ibovespa abaixo de 100 mil pontos em junho para comprar ações brasileiras que estavam descontadas.

“A maior parte do ano ficamos com uma posição vendida [apostando na queda] na Bolsa brasileira e na americana, mas buscamos operar com posições relativas em ações [apostando em papéis que acreditam que devem ter desempenho superior à média do mercado]”, disse Daniel Delabio, gestor da Exploritas.

Neste ano, a gestora está com pequena posição vendida na Bolsa doméstica dado o cenário político mais incerto. “Gostamos de algumas empresas como Hidrovias [HBSA3], Eletrobras [ELET3], junior oils [empresas privadas de petróleo], Simpar [SIMH3] e Ecorodovias [ECOR3]”, disse Delabio.

A maior posição hoje na carteira do fundo é em Sabesp (SBSP3). “Compramos o papel um mês antes do primeiro turno das eleições e pegamos a alta com o mercado vendo maior chance de privatização após a vitória de Tarcísio de Freitas, mas já reduzimos um pouco a posição”, disse Delabio, que vê potencial para o papel dobrar de preço se a privatização de fato acontecer.

A Exploritas também reduziu a posição na Bolsa americana, após o S&P 500 fechar o ano passado com a maior queda desde 2008. “Acreditamos que o lucro das empresas americanas ainda vai cair, com o risco grande de recessão e custo de capital mais alto”, diz Delabio.

O gestor também vê boas oportunidades no mercado de bônus de empresas da América Latina (título de dívida emitidos em dólar lá fora).

Aposta na alta de juros nos EUA garante ganhos

Com a experiência de anos de combate à inflação alta no Brasil, os gestores brasileiros conseguiram aproveitar o cenário de aumento de juros nos Estados Unidos e na Europa.

“Como gestor de portfólio de país emergente já vivemos parte desse ciclo e conseguimos antecipar a política do Fed [Federal Reserve, banco central americano]”, diz Filippe Santa Fé, gestor do fundo Asa Hedge, que entregou um retorno de 40% em 2022.

Após ganhar com alta da taxa de juros nos EUA, que subiu do patamar entre 0,25% e 0,50% para o intervalo entre 4,25% e 4,50%, a gestora reduziu a exposição no fim de 2022 e aumentou a posição vendida em Bolsa americana, com a visão de que ela deve sofrer mais com a desaceleração da economia americana.

O fundo XP Macro Plus também ganhou com a alta de juros americano e com posição vendida na Bolsa americana.

No mercado de câmbio, o fundo da XP ganhou com a aposta na queda das moedas da Colômbia, China e Reino Unido, e chegou a aproveitar parte do movimento de derretimento da libra que chegou perto da paridade com o dólar em 2022.

No Brasil, a gestora ainda ganhou com a estratégia de inflação implícita, dada pela diferença entre as taxas dos títulos públicos atrelados à inflação (NTN-B) e as de juros prefixados.

Neste ano, a XP Asset reduziu a aposta na queda da Bolsa americana e está com posição pequena em juros americanos.

A gestora ainda está com uma visão mais negativa para ativos no Brasil. “Temos pequenas posições vendidas em Bolsa brasileira e no real diante da incerteza sobre os primeiros passos do governo”, disse Marques.

O fundo Mar Absoluto, produto carro-chefe da gestora Mar Asset, também se beneficiou da aposta na alta de juros no Chile, Brasil e nos EUA. “Tivemos ganho com juros e não perdemos dinheiro com a alocação em ações”, disse Bruno Coutinho, CEO da gestora, com passagens de 13 anos pelo BTG.

O fundo Mar Absoluto tem como conselheiro o sócio e fundador da 3G Capital em Nova York, Luis Moura, está fechado para captação e deve reabrir no segundo semestre deste ano.

Neste ano, a gestora reduziu zerou a aposta na alta de juros no Brasil e no Chile, diminuiu a aposta na alta de juros nos EUA e reduziu a posição em ações no Brasil, deixando mais dinheiro em caixa  esperando por melhores oportunidades de alocação.

“Teremos um ano de crescimento global duvidoso, com inflação alta e sem juros em queda”, disse Coutinho.

Na renda fixa no Brasil, a gestora tem preferido a exposição a taxa de juros com prazos mais longos, acima de 10 anos, que são mais afetadas pelo aumento do prêmio de risco com a incerteza fiscal.

Na Bolsa, a Mar Asset, que tem uma visão fundamentalista, continua com posições em empresas que tiveram um bom desempenho no ano passado, como a PetroReconcavo (RECV3), de óleo e gás, que subiu 78% em 2022.

A gestora também vê potencial de alta na Eneva (ENEV3), de geração de energia a gás, e na Zamp (ZAMP3), controladora do Burger King.

Garimpando oportunidades na Bolsa

Buscando identificar quais empresas na Bolsa devem ter um desempenho melhor e quais papéis ou setores devem sofrer mais, o fundo multimercado Ibiuna Long Short entregou retorno de 35% com posições relativas entre empresas, bem acima da alta de 4,69% do Ibovespa.

Apesar de ser um fundo de ações, essa carteira não tem correlação com o desempenho da Bolsa, afirma André Lion, gestor do fundo. Assim, esses fundos podem ir bem mesmo quando a Bolsa vai mal.

Entre as posições que mais contribuíram para a performance da carteira estava a alocação em papéis da Petrobras (PETR3), que subiram 32% em 2022, com a empresa se destacando como a maior pagadora de dividendos da Bolsa brasileira.

A gestora reduziu a posição em Petrobras após a eleição, diante da incerteza sobre o cenário para os próximos seis meses. “Há muitos ruídos em cima do que vai acontecer de fato com a empresa, se vai ter mudança da política de preços e qual a profundidade”, disse Lion.

A gestora também ganhou com a posição em Sabesp (SBSP3). Para o gestor da Ibiuna, há chance de uma privatização da empresa nos moldes do realizado com a Eletrobras ano passado, o que poderia trazer potencial de alta relevante para o papel.

Na ponta vendida (apostando na queda), a gestora focou em empresas que estavam com valuations altos, como do setor de tecnologia, que iriam sofrer com a alta da taxa de juros.

Para 2023, o gestor vê oportunidade em empresas como Assaí (ASAI3), Itaú Unibanco (ITUB4) e na empresa de energia Auren (AURE3, antiga Cesp). “Achamos que os grandes bancos como o Itaú estão melhor posicionados que os neobanks [bancs digitais] nesse ambiente de juros mais altos”, diz Lion.

As empresas mais alavancadas financeiramente (mais endividadas) como do setor de varejo, principalmente discricionário, são as que devem sofrer mais com juros elevados e desaceleração do crescimento, diz Lion.

Ativismo no mercado de ações garante bom retorno a Esh

Conhecida pelo ativismo no mercado de ações, a gestora Esh Capital teve um ganho de 37,20% no fundo Esh Theta com as três grandes posições da carteira: Gafisa (GFSA3), Alliar (AALR3) e Terra Santa Agro (que se tornou LAND3 após a incorporação pela SLC Agrícola).

“O fundo tem características ativistas e toma posições grandes nas empresas para participar de eventos societários”, diz Octacílio Neto, Sócio e Trader da Esh Capital.

Apesar de ser um fundo com foco no investimento em ações, o Esh Theta está classificado como fundo multimercado livre.

Um dos maiores ganhos da carteira foi a posição em ações da rede de laboratórios Alliar, que subiu 44,3% em 2022 diante da expectativa da OPA (Oferta Pública de Aquisição) com a troca de controle, após o fundo Fonte Saúde, controlado pelo empresário Nelson Tanure, adquirir a participação do grupo de médicos na companhia.

O leilão da OPA para os minoritários ainda deve ser marcado. A empresa, de acordo com a última minuta, se comprometeu a pagar R$ 20,75 mais a variação do CDI desde abril de 2022.

Outra posição que rendeu bons frutos à gestora foi na empresa agrícola Terra Santa Agro, que subiu 29% em 2022. “Conseguimos emplacar uma conselheira na empresa, que teve uma melhora significativa da governança corporativa”, disse Neto.

A batalha atual da gestora na Gafisa também rendeu bons frutos em dezembro, quando papel subiu 60,2%.

A Esh aumentou as compras do papel na segunda semana de dezembro, quando a ação estava perto de R$ 6. Isso contribuiu para um desmonte de posições vendidas (apostando na queda) da ação, que intensificaram a valorização do papel junto com a notícia da venda da participação de 80% no hotel Fasano Itaim por R$ 330 milhões em dezembro.

A gestora contesta o aumento de capital da Gafisa no valor de aumento de capital no valor de R$ 78 milhões homologado na semana passada e pede a realização de nova assembleia geral extraordinária.

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