Petrobras (PETR4) é um bom investimento para 2023? Confira riscos e oportunidades

Petrobras pode continuar pagando bons dividendos e gerando lucros, apesar de incertezas sobre cenário político

Foto: Shutterstock/Arnaldo Jr

A Petrobras (PETR3; PETR4) foi a empresa destaque do ano de 2022, porém pode enfrentar novos desafios pela frente após a troca de comando no governo brasileiro.

O risco político na Petrobras voltou ao centro das preocupações dos investidores porque pode levar a mudanças estratégicas que prejudiquem os resultados da estatal.

O novo governo foi eleito com a promessa de zelar pela melhora nas condições econômicas e sociais dos mais pobres. O receio do mercado é que a Petrobras seja usada como ferramenta para alcançar este objetivo.

Um dos temores, por exemplo, é que haja alterações na política de dividendos, reduzindo o montante distribuído para garantir que a empresa tenha dinheiro para aumentar os investimentos.

Outra preocupação é com a possibilidade de o governo alterar a política de preços dos combustíveis para torná-los mais baratos.

Em ambos os casos, as preocupações refletem um equilíbrio difícil de ser atingido plenamente pela estatal: por um lado prezar pelo bem-estar da sociedade, e por outro obter lucros para remunerar os acionistas, uma vez que o governo optou por abrir capital da companhia.

O fato é que as supostas mudanças podem reduzir a lucratividade da empresa e deixam o investidor pessimista com o futuro da empresa, uma vez que a expectativa é de menores retornos.

As ações ordinárias (PETR3) da Petrobras reportam queda de 25% nos preços desde o pico atingido em outubro de 2022 até a última quinta-feira (5). Já os papéis preferenciais (PETR4) derreteram 28%. A estatal chegou a perder quase R$ 200 bilhões de valor de mercado neste período, para R$ 333 bilhões atualmente.

No entanto, o investidor precisa lembrar que alterar as políticas da empresa, principalmente a dos preços, pode não ser tarefa fácil nem rápida para o governo.

Petrobras é ainda um bom negócio?

Entre riscos e oportunidades, a empresa tem tudo para continuar sendo um bom investimento em 2023. É possível que siga pagando bons dividendos, além de manter o forte desempenho operacional.

A Petrobras tem a vantagem de ter um dos custos mais baixos na extração de petróleo em todo o mundo, o que torna a estatal uma das mais rentáveis entre os pares globais.

Além de ter um processo operacional menos custoso, a empresa também reduziu a dívida nos últimos anos, o que traz um alívio nas despesas financeiras.

No ano de 2015, antes de introduzir a política que equipara os preços de combustíveis no mercado doméstico aos praticados no exterior – conhecida como PPI -, a alavancagem era de 15,4 vezes. De lá para cá, esse índice caiu drasticamente, alcançando 0,75 no terceiro trimestre de 2022.

Isto quer dizer que em 2015 a dívida líquida da empresa era 15 vezes maior que a geração de caixa, e que agora a Petrobras gera caixa suficiente para quitar todas as dívidas em menos de um ano.

Portanto, a menor alavancagem reduz o risco de insolvência.

O menor patamar de dívida traz maior flexibilidade para a empresa utilizar o caixa em outras atividades, além das despesas com juros. Diante disso, sobra mais dinheiro para expandir os negócios, ou até mesmo distribuir para os acionistas.

No entanto, é bom ficar atento aos riscos monitorados pelo mercado e a possíveis mudanças na legislação. O cenário político incerto pode deixar os investidores receosos em investir na empresa.

Para quem tem baixa tolerância aos altos e baixos nos preços, a Petrobras pode não ser uma boa opção no momento, uma vez que pode haver maior volatilidade no período.

De olho nos riscos

A Petrobras está sujeita a riscos políticos – como os relacionados a alterações nas políticas da empresa pelo atual governo – e econômicos.

Dentro do risco político, podemos incluir alterações que tiram o foco da Petrobras da lucratividade – mudanças nas políticas de preços e dividendos, por exemplo – e em normas que regulam o funcionamento da estatal.

Um exemplo é o projeto aprovado pela Câmara dos Deputados no final do ano passado que alterou a Lei das Estatais. O texto reduziu o prazo de quarentena necessário para pessoas vinculadas a campanhas ou partidos políticos assumirem cargos de alto escalão nas empresas do governo. No dia seguinte, 14 de dezembro, as ações da petrolífera derreteram quase 8%.

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Como o governo é o controlador da Petrobras, tem poder para mudar cargos e posições de alto escalão dentro da empresa quando quiser. Portanto, pode facilmente alterar cargos de presidência e diretoria em busca de atingir seus próprios objetivos.

A facilidade para alterar o comando e as estratégias da Petrobras tornam a empresa vulnerável e pode bagunçar toda a estrutura organizacional, além de aumentar o risco de corrupção.

A chegada de novos membros ao comando da empresa pode exigir um período de adaptação aos novos cargos até que entendam a fundo os negócios da empresa, e isso pode levar a piores decisões no curto prazo – como a investimentos pouco eficientes, por exemplo.

Claro que há a possibilidade de o governo indicar pessoas com experiência para os cargos, e há exigências da própria estatal para isso.

No entanto, no ano passado, o conselho de administração da Petrobras aprovou a indicação de Caio Mário Paes de Andrade como membro do colegiado e presidente da companhia mesmo em meio a dúvidas sobre a qualificação técnica dele para o cargo.

Na ocasião, um dos conselheiros da Petrobras – Francisco Petros – votou contra a nomeação, mas foi voto vencido após outros integrantes do colegiado considerarem que a experiência administrativa de Andrade preenchia os requisitos necessários para que ele chegasse à presidência da Petrobras, apesar da falta de experiência do executivo com o setor petrolífero.

O governo atual já indicou outro presidente para a empresa – o senador Jean Paul Prates (PT-RN), que tem experiência no setor petrolífero, mas também tem forte atuação política.

Os riscos econômicos envolvem a piora das condições para a empresa operar.

Um dos exemplos disso é o aumento das projeções das taxas de juros nos últimos dias, reflexo da percepção do mercado de que o governo está pouco preocupado em controlar o aumento das despesas públicas.

Isto aumenta a chance de os juros continuarem altos até o próximo ano, e enfraquece o real ante o dólar.

Com as taxas de juros mais altas, as empresas precisam desembolsar maiores quantias para pagar dívidas, corroendo assim, o lucro obtido.

Além disso, os investimentos em renda fixa se tornam mais atrativos para os investidores, uma vez que o risco é menor e o retorno é maior. Isto é, as ações podem ficar em segundo plano para os investidores, o que leva a uma queda nos preços dos papéis.

Por outro lado, uma possível valorização do dólar favorece a estatal brasileira, por enquanto. Isto porque as receitas da Petrobras são lastreadas na moeda norte-americana e o custo das operações é em reais. Portanto, quanto mais valorizado o dólar, maior será a rentabilidade da empresa.

Quais os impactos da mudança na política de preços e dos dividendos

O PPI é a política de preços utilizadas pela Petrobras. Ela determina que o valor cobrado pelos combustíveis no Brasil deve ser equivalente ao preço praticado no mercado internacional.

Uma desvinculação dos preços internacionais poderia fazer com que a Petrobras vendesse combustível mais barato no mercado doméstico, reduzindo os lucros ou até gerando prejuízos para a empresa.

Isto porque o Brasil ainda não é autossuficiente em combustíveis e precisa importar a commodity para suprir a demanda interna. Em 2021 o país importou 23% do diesel e 8% da gasolina que consumiu.

Outro ponto é que se o preço cobrado pela Petrobras for abaixo do realizado pelo mercado, as empresas privadas, importadoras de petróleo no Brasil, podem ser prejudicadas, pois terão dificuldade de repassar o preço mais alto do combustível comprado lá fora aos consumidores brasileiros.

O risco de a Petrobras abandonar a paridade com o preço internacional, porém, foi amenizado por Prates na última quarta-feira. Ele afirmou que não haverá intervenção direta nos preços praticados.

Além disso, o processo para alteração da política de preços é protegido por legislações internas da Petrobras e pelas restrições impostas pela Lei das Estatais, que vedam investimentos e operações deficitários.

Para que seja feita a alteração na base de preços é necessária uma proposta do conselho de administração em assembleia de acionistas, o que levaria meses. Além disso, devem ser cumpridas outras etapas que abrem espaço para resistência dos sócios minoritários e órgãos de controle às mudanças.

Já em relação aos dividendos, estes têm maiores chances de serem reduzidos no próximo ano. Isto porque a União pode eleger a maioria dos membros do conselho de administração, portanto, podem indicar novos nomes que decidam alterar a atual política de dividendos para preservar mais dinheiro na empresa.

Por um lado, a retenção de parte maior dos lucros permitiria à empresa acelerar projetos de investimentos, como por exemplo o aumento da capacidade de refino da Petrobras. Isto levaria à maiores receitas e menor dependência da importação. Por outro lado, o investidor receberia dividendos menores.

Vale ressaltar que a sociedade brasileira recebe cerca de 37% do total de dividendos distribuídos pela Petrobras via a transferência dos lucros para a União, além de ser beneficiada pelo pagamento de impostos.

Em 2022, a Petrobras distribuiu cerca de R$ 170 bilhões em proventos e foi a maior pagadora de dividendos do mundo no terceiro trimestre. Além disso, entre janeiro e setembro de 2022, os impostos recolhidos foram recordes, de R$ 222 bilhões, superiores aos R$ 203 bilhões do ano passado.

Recomendação da Refinitiv

Segundo dados colhidos pela Refinitiv e apresentados na plataforma do TradeMap, a maioria dos especialistas recomenda neutralidade em relação aos papéis da Petrobras. Entre os 12 analistas consultados, oito recomendam manutenção do papel, três recomendam compra e um recomenda venda.

No entanto, a projeção é que a ação tem um potencial valorização de 49,7% baseado na mediana do preço alvo de R$ 35,75.

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