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Em dia de baixa liquidez, Ibovespa fecha em queda com mercado de olho no fiscal

Índice terminou o pregão com queda de 0,52%, aos 106.374 pontos

Foto: Divulgação

Em pregão de liquidez reduzida, com as Bolsas dos Estados Unidos fechadas por feriado, o Ibovespa terminou o dia em baixa, apesar de dados econômicos positivos, com o mercado de olho no cenário fiscal.

O principal índice da Bolsa de valores brasileira encerrou a sessão em queda de 0,52%, aos 106.374 pontos, com R$ 11,55 bilhões em volume negociado. No ano até aqui, o saldo do Ibovespa é de alta de 1,48%.

Para o economista e estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, a queda do Ibovespa no pregão de hoje é um movimento de reajuste. “Como a semana passada foi forte e muito positiva, faz parte termos um pouco de ajustes”, ressaltou o profissional, que lembrou também que o volume de negócios foi menor.

Além disso, o mercado segue atento à promessa de paralisação por parte dos servidores federais, que exigem reajustes salariais. A primeira de três paralisações está prevista para a terça-feira, dia 18.

De acordo com a previsão do Sindicato Nacional de Funcionários do Banco Central (Sinal), mais de 50% dos servidores do Banco Central (BC) devem participar da paralisação, que deve ocorrer entre as 10h e as 12h de amanhã. Além disso, o sindicato aponta que cerca de 500 servidores em posições de chefia e substitutos já se comprometeram a entregar seus cargos caso as negociações não avancem.

Para o economista da RB Investimentos, essa crise pode se arrastar até o ano que vem, independentemente de quem ganhe a eleição. “Essa crise de reajuste é uma herança e fica para frente. O Brasil chegou num nível de endividamento em que é delicado garantir reajustes. Com isso, é complicado para rolar a dívida do país”, afirma.

Outro assunto que tem gerado ruído é o preço dos combustíveis, que voltou ao centro das trocas de acusações entre os governadores e o Congresso Nacional, duas semanas antes do fim do recesso de deputados e senadores e da retomada de cobrança normal das alíquotas de ICMS referentes à gasolina e ao diesel, congeladas desde o final de outubro – uma tentativa dos governadores de mostrar que, mesmo com o imposto congelado, os preços subiriam.

Na discussão, o Planalto e seus aliados jogam a culpa na Petrobras, por não alterar sua política de preços, e nos governadores, por manterem o atual sistema de cobrança de ICMS. Os governadores, por sua vez, jogam a culpa no presidente Jair Bolsonaro, por não alterar a política de preços da Petrobras, e no Congresso, acusando deputados e senadores de omissão em relação ao problema. Os congressistas, por fim, devolvem as acusações e se defendem cobrando apoio do Poder Executivo federal e dos governadores a projetos de lei para resolver o problema.

A queda da Bolsa pareceu ignorar o IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central) de novembro, que mostrou expansão de 0,69% na comparação com outubro, impulsionado pelo volume de serviços e comércio acima do esperado. Analistas ouvidos pela Reuters esperavam alta de 0,65%.

Para os próximos meses, entretanto, as perspectivas não são otimistas, por algumas razões: inflação, baixa confiança do consumidor, nova onda de Influenza e Covid-19 e juros cada vez mais elevados. Esses fatores devem frear o consumo de bens e serviços, prejudicando a indústria.

Durante a manhã foi divulgado ainda o Boletim Focus, que mostrou que os analistas já esperam mais inflação no final de 2022 e 2023. Para este ano, a projeção para o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) foi elevada de 5,03% para 5,09%. No ano que vem, as expectativas para a variação de preços subiram de 3,36% para 3,40%.

Na avaliação dos especialistas ouvidos pelo BC, o PIB deste ano deve ter alta de 0,29%, uma pequena variação para cima em relação ao último levantamento, que apontava crescimento de 0,28%. As projeções para o câmbio neste ano se mantiveram inalteradas em R$ 5,60, assim como a expectativa para a Selic, que permaneceu em 11,75%.

Depois da divulgação do Focus, Bolsonaro afirmou que a inflação cairá neste ano, contrariando as expectativas do mercado. “Vamos continuar lutando contra o desemprego, pode ter certeza que a inflação vai baixar neste ano”, disse o presidente em entrevista à Rádio Viva.

No exterior, com as bolsas de Nova York fechadas para o feriado de Martin Luther King, os demais mercados regiram aos dados da China, com a economia crescendo 4% no quarto trimestre de 2021 em relação ao mesmo período do ano anterior. O resultado ficou acima das previsões da maioria dos especialistas, embora ainda represente desaceleração em relação ao terceiro trimestre, quando o país cresceu 4,9%. No acumulado de 2021, o PIB da China cresceu 8,1%.

O mercado reagiu bem aos dados sobre a economia chinesa e à decisão do banco central do país de reduzir o custo dos empréstimos de prazo mais curto. O principal índice da bolsa de Xangai, o Xangai Composto, fechou em alta de 0,58%. Na Europa, o índice Euro Stoxx 50 subiu 0,7%.

Destaques do pregão

No fechamento, as maiores baixas do Ibovespa eram de Braskem (BRKM5), Iguatemi (IGTI11) e Alpargatas (ALPA4), com perdas de 6,73%, 3,73% e 3,49%, respectivamente. Na ponta oposta, Cielo (CIEL3), Qualicorp (QUAL3) e Tim (TIMS3) lideraram as altas, avançando 4,95%, 2,76% e 2,45%.

A queda da Braskem veio depois de a Petrobras formalizar um pedido junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para fazer uma oferta pública que pretende negociar 75.704.061 ações preferenciais de classe A (PNA) da petroquímica. Em conta que considera o preço de fechamento das ações da Braskem na última sexta-feira, 14, de R$ 52,16, a venda das ações poderia gerar um caixa de R$ 3,94 bilhões.

Esse movimento ocorre um mês após o conselho de administração da estatal aprovar o modelo de venda de até 100% das ações preferenciais que possui na Braskem.

Os shoppings também caíram em bloco. Além de Iguatemi; Multiplan (MULT3) recuou 1,51%; Aliansce Sonae (ALSO3), 3,04%; e JHSF (JHSF3), 0,83%. A exceção foi brMalls (BRML3), que teve alta de 0,12%.

No setor, a Aliansce Sonae reiterou o interesse em uma fusão com a brMalls, depois de ter sua primeira proposta negada pela concorrente, que considerou os valores apresentados muito baixos. Segundo a Aliansce Sonae, a empresa “permanece determinada em demonstrar o mérito da combinação de negócios ao Conselho de Administração e aos acionistas da brMalls, certa de que tal operação é uma oportunidade única de geração de valor para os acionistas de ambas as companhias”.

Em outro setor, após uma semana com as atividades paralisadas devido às grandes chuvas em Minas Gerais, Usiminas (USIM5) e Vale (VALE3) retomaram parcialmente a produção na região.

A Usiminas informou via comunicado que está retomando aos poucos as operações da controlada Mineração Usiminas (Musa). Já na Vale, a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória e Minas (EFVM) e a produção dos Sistemas Sudeste e Sul voltaram a funcionar.

No comunicado da Usiminas, é dito que as consequências das fortes chuvas na região afetaram as empresas que participam da cadeia logística de escoamento de minério. Porém, a empresa acredita numa recuperação rápida. Suas ações fecharam em baixa de 1,34%.

A Vale estimou impacto de aproximadamente 1,5 milhão de toneladas na produção e compra de minério de ferro em razão da pausa nas atividades. Porém, reitera que o período chuvoso já era considerado nas estimativas da companhia para 2022. Seus papéis tiveram queda de 0,52%.

Outro setor que apresentou baixas foi o de bancos digitais, pressionados pela alta nos juros. Banco Pan (BPAN4) teve queda de 3,23%, enquanto Banco Inter (BIDI11) perdeu 3,1%. As ações de tecnologia, por sua vez, ignoraram os juros e registraram altas, em reajuste depois de fortes quedas recentes. Locaweb (LWSA3) teve alta de 2,27%, e Totvs (TOTS3) subiu 0,36%.

A disparada da Cielo, por sua vez, veio depois da publicação dos resultados do seu índice de varejo para dezembro, mostrando que o último mês do ano teve expansão da demanda. O Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA) teve crescimento de 1,3% em dezembro ante igual mês do ano anterior e de 0,8% em todo o ano em 2021, em comparação com 2020, em cálculos que já retiram os efeitos da inflação.

Na avaliação de analistas ouvidos pela Agência TradeMap, os números, que incluem os pagamentos feitos nas maquininhas da Cielo, ajudam a diminuir uma desconfiança que o mercado tem em relação à capacidade da empresa de entregar resultados, manter a liderança e ampliar o escopo dos clientes.

As operadoras de saúde fecharam entre as maiores altas do Ibovespa, beneficiadas pela demanda por testes de Covid-19. Além de Qualicorp, destaque para Hapvida (HAPV3), que avançou 1,84%, e NotreDame Intermédica (GNDI3), que teve alta de 1,67%.

Pela manhã, o jornal Valor Econômico publicou reportagem no qual mostra que o número de operadoras de saúde recuou 47% na última década, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) — em um sinal claro de concentração, o que não é bom para os consumidores e potenciais concorrentes no setor de saúde.

Mesmo com mais de 700 empresas registradas, espera-se que, daqui para frente, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) seja mais rigoroso na hora de aprovar novas fusões e aquisições no setor, para evitar uma concentração ainda maior.

Se assim será, quem já conseguiu se fundir ou fazer aquisições tende a se beneficiar. O caso mais simbólico é de  Hapvida (HAPV3) e NotreDame Intermédica (GNDI3), que tiveram a fusão aprovada no mês passado pelo Cade, criando um gigante de R$ 79 bilhões em valor de mercado, na cotação atual.

A Petrobras (PETR4) registrou seu maior volume anual de produção no pré-sal em 2021, com a extração de 1,95 milhão de barris de óleo equivalente por dia. Com isso, e com a alta nos preços do petróleo, a ação da companhia teve avanço de 0,16%.

Fora do Ibovespa, as ações da Dommo Energia (DMMO3) saltaram 35,56%. Depois de a empresa realizar um aumento de capital de R$ 139,7 milhões, a Prisma Capital, gestora de investimentos alternativos que já controlava 31,79% da petroleira, passará a ter 47,21% do capital social votante, segundo fato relevante divulgado pela empresa.

Em razão da dispersão das ações, o percentual conferirá o controle da empresa à Prisma. A gestora disse que pretende se reunir com a atual administração da Dommo para decidir sobre eventuais mudanças na gestão e avaliar opções estratégicas no setor em que atua.

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